Obra de André Devambez mostra uma barricada durante a Comuna de Paris de 1871.| Foto: Domínio Público
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“A ‘zona autônoma’ tem guardas armados e as empresas locais estão sendo ameaçadas de extorsão”.

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Essa é uma manchete assustadora. Minha reação imediata ao lê-la foi: “Ah, meu Deus, a Comuna de Paris está de volta!”.

Mas não estamos em Paris, nem em 1871. A manchete fala de Seattle, no estado de Washington, nos Estados Unidos — nos dias atuais. De acordo com várias reportagens, manifestantes radicais ocuparam uma área de seis quarteirões da cidade. Eles criaram um feudo sem polícia, colocaram guardas armados para proteger o perímetro, começaram a extorquir os empresários locais (ao que deram o nome de “taxação”) e passaram a exigir que os moradores apresentassem identidade para entrar em suas próprias casas.

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A Comuna de Paris durou apenas 70 dias, na primavera de 1871. Ela nasceu em meio às ruínas da derrota francesa para a Prússia no fim do verão do ano anterior. Quando os prussianos capturaram o imperador francês Napoleão III, a monarquia entrou em colapso, dando origem à Terceira República. Em Versailles, a poucos quilômetros de Paris, os líderes ficaram inertes enquanto os parisienses mergulhavam na sensação de derrota, no ressentimento e na onda crescente da luta de classes inspirada por Marx. Os que falavam mais alto aos poucos silenciavam os cidadãos moderados, que preferiam ganhar a vida trabalhando e que a cidade voltasse ao normal.

No dia 18 de março de 1871, socialistas radicais ocuparam uma parte de Paris. Eles tomaram prédios do governo, expulsando ou prendendo os opositores. Foi uma “Revolução Popular” (a não ser que você fizesse parte do povo que se opunha). Os textos de Karl Marx inspiraram os radicais – chamados “comuneiros” –, mas o próprio Marx mais tarde criticou a incapacidade deles de tomarem imediatamente o Banco da França e de marcharem contra o governo em Versalhes. Nos primeiros dias da Comuna de Paris, contudo, ele achava que estava diante da realização de suas ilusões:

A luta dos operários contra os capitalistas e seu Estado entrou numa nova fase com o conflito em Paris. Sejam quais forem os resultados imediatos, chegou-se a um novo ponto de partida de importância histórica mundial.

Alistair Horne, em seu livro The Terrible Year: The Paris Commune of 1871 [O ano horrível: a Comuna de Paris de 1871], diz que os comuneiros, assim como seus semelhantes ideológicos da Revolução Francesa de 1789 e como o Khmer Vermelho cambojano mais tarde, atacavam todas as tradições e marcas históricas de que não gostavam. Por exemplo, eles acabaram com o calendário gregoriano e votaram para que fosse restituído o calendário inventado pelos jacobinos nos anos 1790. O Terror estava de volta ao poder. Escreve Horne:

O Grand Hotel foi saqueado; havia ameaças constantes de confisco da propriedade privada; jornais hostis eram suprimidos; espiões por todos os cantos causaram a prisão de muitos parisienses inocentes (entre eles Renoir, que quase foi linchado). Falava-se até mesmo em derrubar Notre Dame.

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O novo regime criado pelos comuneiros supostamente fez algumas coisas boas: aboliu a pena de morte e o alistamento obrigatório. Fiéis a suas raízes marxistas, porém, eles tomaram todas as propriedades da Igreja, estatizando-as, prenderam padres, aboliram os juros e prometeram várias coisas “gratuitas” aos grupos que protegiam.

Foram 70 dias de caos, tirania e estupidez — tudo envolto em bandeiras vermelhas e no ideário politicamente correto. Quem mencionava liberdade de expressão ou propriedade privada era calado, espancado ou expulso. Assim como acontece em Berkeley, na Oberlin College e como pode acontecer em Seattle, se você der à comuna recém-nascida mais uns dias de vida.

Por fim, tudo desmoronou. A Comuna de Paris, quando finalmente atacada pelo governo de Versailles, se desintegrou num conflito sangrento. Os que viviam pela espada acabaram morrendo pela espada. Milhares de pessoas foram mortas nos últimos dias do conflito.

Ano que vem marcará o 150º. aniversário do desastre parisiense. Os marxistas planejam comemorá-lo como se aquela maluquice fosse motivo de orgulho. Eles nunca aprendem.

Por algum motivo, acho que a derrota dos comuneiros era completamente previsível. Se você toma o poder com o objetivo de obrigar os outros a aceitarem sua visão anti-humanista, é provável que algumas dessas pessoas acabem por fazer com que você prove do próprio veneno. Foi o que aconteceu na Paris de 1871 e eu não ficarei surpreso se isso acontecer na Seattle de 2020.

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Lawrence W. Reed é presidente emérito da FEE.

© FEE Veículo. Publicado com permissão. Original em inglês
Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]