Embora haja quem defenda que ser politicamente correto é evitar conflitos de convivência na sociedade, na prática, este tipo de postura tem gerado tentativas de censura velada quando o assunto é música. Nem mesmo o cantor e compositor Chico Buarque, consagrado como um dos maiores nomes da MPB, tem conseguido escapar da patrulha sobre o que, no entendimento de determinados grupos, seria certo ou errado fazer parte de sua discografia. O trabalho mais recente dele, “Tua Cantiga”, traz na letra o relato de um homem apaixonado que diz ser capaz de largar “mulher e filhos” quando o “capricho” da amante exigir. O trecho foi o suficiente para que o discurso fosse considerado machista até por fãs do artista.
Os debates inflamados sobre o assunto começaram junto com o lançamento da música, no final de julho. A resposta de Chico só veio neste domingo (20). “Será que é machismo um homem largar a família para ficar com a amante? Pelo contrário. Machismo é ficar com a família e a amante. Diálogo ouvido na fila de um supermercado”, escreveu Chico em sua conta, no Facebook.
Cabelo afro
A cobrança da nova geração sobre o politicamente correto também não poupou outros cantores de passar por situações semelhantes. Nesta semana, foi a vez de Anitta. Ela gravou cenas do novo clipe “Vai, malandra”, no Morro do Vidigal, Rio de Janeiro, com tranças afro e biquíni de fita isolante. O visual virou assunto nas redes sociais, rendendo, inclusive, uma acusação de apropriação cultural. A prática consiste no uso de elementos culturais de minorias por um grupo dominante. Seria esse o caso, por exemplo, do uso de turbantes, um ornamento da cultura afro, por brancos.
“Anitta tá linda, mas cadê a negra? Não estou achando. Alguém viu ela?”, tuitou uma internauta.
Anitta se achando a negona com essas tranças como diria minha amiga @s_candalous kkkkkk
â âPadmé Naberrieâ (@Marilyn777_) 21 de agosto de 2017
Bailarinos negros
Clipes também já renderam dor de cabeça para a cantora Mallu Magalhães. Em maio, ela lançou “Você não presta”. No vídeo da canção, Mallu aparece à frente de um grupo de dançarinos negros, que usam menos roupas que ela e têm a pele reluzindo óleo. Houve acusação de que o clipe hipersexualizou o corpo negro e refletiu outros estereótipos racistas.
A cantora chegou a emitir uma nova se desculpando com os fãs, como se isso fosse necessário. “É realmente uma tristeza enorme ter decepcionado algumas pessoas, mas ao mesmo tempo agradeço a todos por terem se expressado. E reitero o meu pedido de desculpa. É uma oportunidade de aprender”, escreveu Mallu.
Rótulo de gay
Em julho, quem esteve no centro da polêmica do politicamente correto foi o cantor Ney Matogrosso, ex-integrante dos Secos & Molhados. Ele disse, em entrevista à Folha de São Paulo, que não se sente parte de uma minoria por causa de sua orientação sexual. “Me enquadrar como gay seria muito confortável para o sistema. Que gay o cara... Eu sou um ser humano, uma pessoa”, afirmou. A declaração incomodou o cantor pernambucano Johnny Hooker e gerou reações nas redes sociais, a começar pelo comentário do artista em sua página no Facebook. “Em tempos de ‘gay é o cara...,’ a única resposta é que vai ter gay pra cara...sim, cada dia mais gay”, rebateu Hooker.
Esse tal de Johnny Hooker tem que comer muito pão com ovo ainda pra chegar no nivel de Ney Matogrosso, viu?! Tem gente se achando demais
â Cachorrão da Praça (@cinicodemais) 24 de julho de 2017
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