Embora haja quem defenda que ser politicamente correto é evitar conflitos de convivência na sociedade, na prática, este tipo de postura tem gerado tentativas de censura velada quando o assunto é música. Nem mesmo o cantor e compositor Chico Buarque, consagrado como um dos maiores nomes da MPB, tem conseguido escapar da patrulha sobre o que, no entendimento de determinados grupos, seria certo ou errado fazer parte de sua discografia. O trabalho mais recente dele, “Tua Cantiga”, traz na letra o relato de um homem apaixonado que diz ser capaz de largar “mulher e filhos” quando o “capricho” da amante exigir. O trecho foi o suficiente para que o discurso fosse considerado machista até por fãs do artista.
Os debates inflamados sobre o assunto começaram junto com o lançamento da música, no final de julho. A resposta de Chico só veio neste domingo (20). “Será que é machismo um homem largar a família para ficar com a amante? Pelo contrário. Machismo é ficar com a família e a amante. Diálogo ouvido na fila de um supermercado”, escreveu Chico em sua conta, no Facebook.
Cabelo afro
A cobrança da nova geração sobre o politicamente correto também não poupou outros cantores de passar por situações semelhantes. Nesta semana, foi a vez de Anitta. Ela gravou cenas do novo clipe “Vai, malandra”, no Morro do Vidigal, Rio de Janeiro, com tranças afro e biquíni de fita isolante. O visual virou assunto nas redes sociais, rendendo, inclusive, uma acusação de apropriação cultural. A prática consiste no uso de elementos culturais de minorias por um grupo dominante. Seria esse o caso, por exemplo, do uso de turbantes, um ornamento da cultura afro, por brancos.
“Anitta tá linda, mas cadê a negra? Não estou achando. Alguém viu ela?”, tuitou uma internauta.
Bailarinos negros
Clipes também já renderam dor de cabeça para a cantora Mallu Magalhães. Em maio, ela lançou “Você não presta”. No vídeo da canção, Mallu aparece à frente de um grupo de dançarinos negros, que usam menos roupas que ela e têm a pele reluzindo óleo. Houve acusação de que o clipe hipersexualizou o corpo negro e refletiu outros estereótipos racistas.
A cantora chegou a emitir uma nova se desculpando com os fãs, como se isso fosse necessário. “É realmente uma tristeza enorme ter decepcionado algumas pessoas, mas ao mesmo tempo agradeço a todos por terem se expressado. E reitero o meu pedido de desculpa. É uma oportunidade de aprender”, escreveu Mallu.
Rótulo de gay
Em julho, quem esteve no centro da polêmica do politicamente correto foi o cantor Ney Matogrosso, ex-integrante dos Secos & Molhados. Ele disse, em entrevista à Folha de São Paulo, que não se sente parte de uma minoria por causa de sua orientação sexual. “Me enquadrar como gay seria muito confortável para o sistema. Que gay o cara... Eu sou um ser humano, uma pessoa”, afirmou. A declaração incomodou o cantor pernambucano Johnny Hooker e gerou reações nas redes sociais, a começar pelo comentário do artista em sua página no Facebook. “Em tempos de ‘gay é o cara...,’ a única resposta é que vai ter gay pra cara...sim, cada dia mais gay”, rebateu Hooker.
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