O Chile é um dos líderes mundiais em vacinação contra Covid-19. Até o dia 7 de março, havia vacinado 24,19% de sua população, o que coloca o país em quinto lugar no ranking mundial, à frente da União Europeia.
Sob a coordenação do subsecretário de Relações Econômicas Internacionais, o advogado Rodrigo Yáñez, que reporta diretamente ao presidente Sebastián Piñera, o país já contratou a compra de 90 milhões de unidades, mais do que o suficiente para vacinar seus 19 milhões de habitantes, e se deu ao luxo de doar 40 mil doses para o vizinho Equador.
Para agilizar a aquisição da chinesa Sinovac, por exemplo, Piñera pegou no telefone para contactar pessoalmente o líder Xi Jinping. Nas primeiras três semanas de vacinação, o Ministério da Saúde local já havia atingido 16% da população.
Como se explica tamanho sucesso? Um dos fatores é a busca pela vacina, qualquer vacina. Desde o primeiro semestre de 2020, o país já vinha mantendo contato com todos os potenciais fabricantes.
Desde o final do ano, o país já recebeu, ou ao menos contratou a compra, de doses da Sinovac, da Pfizer/BioNTech, da Johnson & Johnson e da Astrazeneca — também negocia com os russos da vacina Sputnik V. Assim, aproveitou das vantagens de cada um dos produtos — alguns são mais fáceis de armazenar, por exemplo, enquanto que outros só precisam de uma dose. Nem todos chegarão ao mesmo tempo, mas, somados, eles permitem ao governo local manter um ritmo constante de vacinação.
Acordos de cooperação
Como explicou o médico peruano Élmer Emilio Huerta Ramírez, especialista em epidemiologia e saúde pública, em entrevista à CNN americana, a busca por vacinas de diferentes fornecedores foi acelerada por um fator importante: “Na América Latina, o Chile é um dos países mais bem posicionados para se fazer negócios, o que lhe dá uma grande vantagem”.
De fato, como aponta um relatório da consultoria PWC sobre o país, “a economia chilena é internacionalmente reconhecida como uma das mais estáveis, abertas e competitivas da América Latina. Sob o modelo econômico e social focado nos mercados, o país tem implementado uma série de modificações estruturais, como a privatização de companhias estatais”. O Chile mantém mais de 30 acordos relevantes de cooperação econômica, com diferentes países e blocos.
Outro relatório sobre a economia e a estrutura institucional do país, este produzido pelo Banco Mundial, aponta que o Chile supera o Brasil, por exemplo, em uma série de quesitos, incluindo a facilidade para abrir empresas, para conseguir licenças para construir, para ter acesso a eletricidade, para registrar propriedades e para ter acesso ao crédito.
O governo local destinou até agora US$ 200 milhões para a compra de vacinas. Mas, depois de localizados os fabricantes, o principal investimento foi nos detalhes: Rodrigo Yáñez coordenou uma equipe que negociou, caso a caso, cada um dos contratos de aquisição e cada etapa do processo logístico, dois aspectos cruciais em um momento em que dezenas de países disputam o mesmo produto.
O Chile é, como definiu o jornalista Andres Oppenheimer em artigo sobre o tema, “de longe o país mais globalizado da região”, num cenário em que “muitos líderes populistas da América Latina sustentam uma retórica contra o mercado livre”. As conexões internacionais bem consolidadas, prossegue, “permitiram que o país comprasse vacinas muito mais rápido do que o México, a Argentina ou a Venezuela”.
Situação estável
Depois de ter acesso às doses, o governo local apostou na distribuição. Disponibilizou mais de 1.300 espaços para vacinar as pessoas. Deu preferência a áreas abertas e próximas aos bairros, de como campos de futebol e campi de universidades, para evitar deslocamentos longos e aglomerações.
O presidente Piñera, de 71 anos, recebeu a Sinovac, para deixar claro que a vacina é confiável, e conclamou os cidadãos a fazer o mesmo. O país já vacinou, ao menos em primeira dose, todas as pessoas mais velhas de 65 anos.
O Chile vem controlando a pandemia. Ainda que os indicadores tenham oscilado para pior no início de 2021, o segundo semestre de 2020 foi mantido com certa estabilidade. Nem sempre foi assim: em maio passado, o país tinha, ao lado do Peru, uma das mais altas taxas de infeção do novo coronavírus, na proporção por habitante.
Em 16 de junho, o Chile alcançou o pico de novos contaminados registrados em um dia, 5.143. Entre agosto e dezembro, manteve uma média diária abaixo dos 2 mil casos. Desde janeiro, saltou para acima de 4 mil casos diários, uma média que se mantém desde então.
Já o número de mortos por dia, que chegou a 231 em 13 de junho, mantém-se abaixo dos 100, com poucas exceções, desde agosto até março. Até agora, morreram de Covid no país 21 mil pessoas e 856 mil foram contaminadas.
Com o sucesso da vacinação, o país já enxerga uma luz no fim do túnel — o Ministério da Saúde prevê que 80% dos chilenos terão recebido suas doses ainda no primeiro semestre deste ano.
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