Luiz Inácio Lula da Silva participa da Conferência de Mudanças Climáticas das Organização das Nacões Unidas (COP-27) em Sharm El Sheikh, Egito, 17 de novembro de 2022.| Foto: EFE/EPA/SEDAT SUNA
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Tornou-se praticamente uma tradição durante conferências climáticas como a COP-27, que está em curso no Egito, que o público aponte as “pegadas de carbono” das personalidades que comparecem. O político americano Al Gore e a ativista Greta Thunberg já foram alvo de críticas do tipo. Não foi diferente com Lula, que assume a presidência do Brasil no ano que vem. Ele viajou para a cúpula com uma “carona” de jatinho do empresário José Seripieri Filho, bilionário fundador de plano de saúde e envolvido em escândalos de corrupção investigados pela operação Lava Jato.

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O avião, de modelo Gulfstream G650, queima 1740 litros de combustível por hora e tem espaço para até 16 passageiros. São, portanto, 108,8 litros por passageiro a cada hora de voo. Em comparação, um avião comercial como o Boeing 747 queima cerca de 41 litros por passageiro por hora, uma economia de combustível maior que duas vezes e meia.

Cerca de 400 jatos privados voaram para a conferência climática das Nações Unidas no Egito. São tipicamente cinco a 14 vezes mais poluentes que os voos comerciais. A viagem de Lula deve emitir 52,2 toneladas de gás carbônico. A emissão média de cada brasileiro, segundo o site de curadoria de dados Our World In Data, é de 2,28 toneladas por ano, na estimativa para 2021. A estimativa de 2019 foi mais alta, de 6,88 toneladas. Portanto, um cidadão comum levaria de 7,6 a quase 23 anos para emitir a quantidade de carbono liberada em uma só viagem de jatinho do presidente eleito.

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Segundo o Instituto de Estudo Ambiental e de Energia (EESI, na sigla em inglês), o número anual de passageiros de aeronaves comerciais saltou de 100 milhões em 1960 para 4,56 bilhões em 2019. As emissões da aviação foram responsáveis por 3,5% do aquecimento causado pelo ser humano em 2011, e provavelmente a mesma porcentagem até antes da pandemia, dizem análises citadas pelo instituto.

"Narcisismo climático”

Apesar de uma minoria de céticos, a teoria de que a temperatura média do planeta está subindo em decorrência da emissão humana de gases de carbono, bem como os extremos climáticos devido à maior energia mantida por esses gases no sistema, é pouco disputada entre estudiosos do tempo e do clima. Isso não significa, no entanto, que o discurso dominante no ambientalismo está correto.

Autores como o dinamarquês Bjorn Lomborg e o americano Michael Shellenberger desafiam as teses enganosas do alarmismo climático. Juntou-se a esse time de críticos o famoso documentarista Michael Moore, que produziu recentemente um documentário mostrando que muitas ONGs ambientalistas têm conflitos de interesse e que uma das “soluções” que propõem é voltar a queimar carvão vegetal como se faz em países subdesenvolvidos. O debate parece avançar para a aceitação da crítica aos ambientalistas do passado recente pela sua aversão irracional à energia nuclear, uma das mais limpas e seguras. Além disso, como discutido brevemente na Gazeta do Povo, o aquecimento global também tem algumas consequências positivas.

No Brasil, uma das poucas alternativas à mensagem dominante de alarmismo climático entre ONGs é o instituto Árvore do Futuro, que criticou Lula no Instagram pela pegada de carbono de sua viagem ao Egito, além da própria cúpula. O instituto disse que a COP-27 é “o principal evento de narcisismo climático do ano”.

A organização tem a missão de “espalhar o potencial de inovação, prosperidade, livres mercados e propriedade privada para resolver os problemas ambientais” no país. “A gente concorda que existe aquecimento global, mas é contra o alarmismo pois as mortes causadas por eventos climáticos aumentam com a pobreza”, disse à reportagem Leandro Narloch, jornalista que colabora com o Árvore do Futuro.

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"Imperialismo disfarçado de altruísmo verde”

Narloch lembra que “por muito tempo a pobreza foi sinônimo de estar vulnerável ao clima” e a prosperidade que salvou muitas vidas não teria vindo sem as emissões de carbono. Líderes da África, de fato, reagem a sugestões de que devem pausar ou atrasar o seu desenvolvimento em nome de salvar o planeta. Em fevereiro, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e seus membros africanos defenderam durante uma conferência de energia na Nigéria o investimento em combustíveis fósseis no continente, que emite 3% das emissões globais (o Brasil emite 10%).

Timipre Sylva, ministro do petróleo da Nigéria, disse que o resto do mundo deveria apoiar o desenvolvimento da produção de gás natural, um combustível fóssil mais limpo que o carvão mineral que tem socorrido a Alemanha durante a crise energética após a invasão da Ucrânia. “A África não nega a necessidade de transição para os combustíveis renováveis, para energias mais limpas, mas estamos só começando a esta altura, estamos nos organizando melhor, por favor nos deixem desfrutar dos nossos recursos um pouco”, disse Sylva na conferência da OPEP.

Michael Shellenberger acusa os países ricos de hipocrisia e de segurar dinheiro de investimento como refém para forçar países pobres a se adequarem às suas crenças climáticas. “A Alemanha pagou US$800 milhões à África do Sul para que ela prometesse não queimar carvão mineral. Desde então, as importações de carvão mineral na Alemanha aumentaram oito vezes”, diz ele, em publicação própria. “É imperialismo monopolista disfarçado de altruísmo verde”, assevera o ativista.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]