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Kristian Andersen
Kristian Andersen, cientista coautor de artigo que tentou afastar prematuramente a hipótese da origem laboratorial da Covid-19, depõe ao Congresso americano em 11 de julho de 2023.| Foto: C-SPAN

Na semana passada, dois dos principais conselheiros científicos de Anthony Fauci [que chefiou por décadas o NIAID, Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas nos EUA, e se aposentou em dezembro de 2022] prestaram depoimento perante o Subcomitê Seleto da Câmara sobre a Pandemia do Coronavírus, que está investigando as origens da Covid-19.

Bob Garry disse aos membros do Congresso que o novo coronavírus havia surgido na natureza e não de um laboratório.

Seu colega, Kristian Andersen, denunciou os republicanos por espalharem uma “teoria da conspiração” de que ele e Garry haviam trabalhado com Fauci no início de 2020 para produzir desinformação sobre a origem da Covid na forma de um artigo na revista Nature Medicine de 17 de março de 2020, “The Proximal Origin of SARS-CoV-2” [“A Origem Proximal do Vírus SARS-CoV-2”].

Esse artigo descartou a teoria do vazamento de laboratório e foi visualizado quase seis milhões de vezes desde a sua publicação.

Andersen, um professor do Instituto Scripps de Pesquisa [organização sem fins lucrativos com 50 subsidiárias], reconheceu que alguns emails anteriores entre ele, seus colegas e Fauci, muito discutidos [após serem tornados públicos com lei de acesso à informação], mostraram que eles haviam considerado a hipótese de vazamento de laboratório como uma possibilidade séria.

Contudo, disse Andersen ao Congresso, depois que ele e seus coautores consideraram cuidadosamente as evidências, concluíram que o “cultivo” em diferentes células ou espécies de animais em um laboratório, que pode tornar um vírus mais infeccioso e bem adaptado para humanos e outras espécies de animais, não havia ocorrido, e que o vírus havia passado de animais selvagens para humanos.

“No momento em que publicamos nossa versão final do Origem Proximal”, explicou Andersen em seu depoimento escrito, “eu já não acreditava que um cenário de ‘cultivo’ era plausível”.

Andersen enfatizou ao Congresso que isso não aconteceu porque Fauci, ou Francis Collins, então diretor dos Institutos Nacionais de Saúde [os NIH, que incluem o NIAID], ou qualquer pessoa na Casa Branca ou na Comunidade de Inteligência lhe pediu para o fazer. A razão era simplesmente que ele e seus colegas estavam praticando ciência.

“Como quase sempre é o caso na ciência”, explicou Andersen, “essa mudança de crença não foi baseada em uma única evidência, mas numa combinação de muitos fatores, incluindo dados adicionais, análises, conforme aprendíamos mais sobre o coronavírus, e discutíamos com colegas e colaboradores”.

Mas agora, Public [publicação de Shellenberger] e Racket [publicação de Taibbi] obtiveram centenas de e-mails e mensagens diretas do Slack [aplicativo que permite mensagens instantâneas, inclusive anônimas, dentro de cada empresa ou organização] inéditas que cobrem o período em que Andersen e seus colegas colaboraram para escrever o artigo “Origem Proximal”.

Essas comunicações apresentam uma imagem completamente diferente daquela que Andersen e Garry apresentaram ao Congresso na semana passada (10-14). Elas mostram que Andersen e seus colegas claramente achavam que era possível não apenas que o vírus que causa a Covid-19 tivesse vazado do Instituto de Virologia de Wuhan, mas especificamente que tinha sido cultivado no laboratório.

Crucialmente, esses novos documentos deixam claro que a pressão de “superiores” — não “dados adicionais, análises, conforme aprendíamos mais sobre coronavírus, e discutíamos com colegas e colaboradores” — levou Andersen, Garry, e dois de seus coautores a abandonarem a teoria de vazamento de laboratório e a tacharem de implausível.

Além disso, as mensagens revelam que Andersen ainda suspeitava que um vazamento de laboratório era possível em meados de abril, um mês após a Nature Medicine publicar oficialmente “Origem Proximal”, e dois meses após os autores publicarem uma versão preliminar.

“Ainda não estou totalmente convencido de que não envolveram nenhum cultivo”, escreveu Andersen para seus coautores em 16 de abril. “Também não podemos descartar totalmente a engenharia [genética] (para pesquisa básica).”

Se os autores do artigo não estavam totalmente convencidos de que nenhum cultivo era possível, por que eles descartaram “qualquer tipo de cenário baseado em laboratório” em seu artigo?

Em 16 de abril, o diretor dos NIH, Francis Collins, enviou um e-mail a Fauci. “Esperava que o artigo da Nature Medicine [‘Origem Proximal’] sobre a sequência genômica do SARS-CoV-2 fosse resolver isso... Me pergunto se há algo que os NIH podem fazer para ajudar a acabar com essa teoria da conspiração muito destrutiva”. Com “teoria da conspiração muito destrutiva”, Collins estava se referindo a um vazamento acidental de laboratório, e não a uma arma biológica ou liberação deliberada.

No dia seguinte, 17 de abril, Fauci descreveu o artigo “Origem Proximal” em uma coletiva de imprensa na Casa Branca e disse que ele veio de um “grupo de virologistas evolutivos altamente qualificados”, acrescentando que ele não tinha seus nomes, sem mencionar que ele próprio havia sugerido que eles escrevessem o artigo.

Agora, as mensagens recém-divulgadas mostram outro caso em que os cientistas manipularam um repórter, o jornalista de ciência do New York Times, Donald McNeil. Em vez de responder honesta e abertamente às suas perguntas, eles o distraíram com linguagem enganosa.

No final do mês passado, o Congresso divulgou e-mails mostrando outro conselheiro sênior de Fauci falando sobre preferir usar a sua conta privada do Gmail para evitar que investigadores no futuro usassem a Lei de Acesso à Informação (FOIA) ou uma intimação do Congresso para obter as mensagens.

As mensagens recém-divulgadas mostram Andersen tentando evitar da mesma forma o escrutínio público. “Todos nós deveríamos apenas ficar no Slack, é isso que deveríamos fazer — e não usar e-mail”, escreveu Andersen.

Se a opinião consensual desses cientistas em dezenas de seus e-mails e mensagens iniciais tivesse que ser resumida em uma única expressão, seria o nome de seu grupo no Slack: “projeto-wuhan_engenharia”. O nome mostrava o quão provável eles achavam a origem laboratorial do vírus.

Então, em 6 de fevereiro, algo estranho aconteceu. Andersen mudou o nome do grupo no Slack de “projeto-wuhan_enginharia” para “projeto-wuhan_pangolim”. Por três anos, alguns defensores da teoria do “transbordamento natural” [de animais para humanos] afirmaram que os pangolins poderiam ser um elo intermediário na transmissão do SARS-CoV-2.

“Acho que a principal coisa ainda em minha mente”, escreveu Andersen em 1º de fevereiro de 2020, “é que a versão do vazamento de laboratório deste vírus é muito provável de ter acontecido porque eles já estavam fazendo esse tipo de trabalho e os dados moleculares são totalmente consistentes com esse cenário”. Alguns dias depois, ele e os outros autores estavam procurando por um hospedeiro intermediário plausível, como um pangolim, que lhes permitisse refutar a teoria.

As novas mensagens de Slack e e-mails apresentam evidências avassaladoras de que os coautores do artigo não estavam apenas seguindo os dados, mas procuravam ativamente desacreditar o vazamento de laboratório, ocultar informações, enganar jornalistas e enganar o público. A pergunta agora é por quê.

De “Projeto-Wuhan_Engenharia” para “Projeto-Wuhan_Pangolim”

Pangolim
Pangolim chinês, mamífero parente de tatus, preguiças e tamanduás, fotografado em Bangladesh, 2018. Foto: Adnan Azad Asif.| Adnan Azad Asif

Apenas uma pequena fração das comunicações entre Andersen e seus coautores foi relatada antes. Baseando-se nas mensagens recém-divulgadas, o Public catalogou quase 60 declarações claras de Andersen e seus colegas expressando sua crença de que um vazamento de laboratório e a bioengenharia de vírus foram a origem da Covid-19, entre 31 de janeiro e 28 de fevereiro de 2020. Dessas declarações, apenas cerca de meia dúzia foram relatadas anteriormente.

No início de fevereiro, Andersen e os outros autores de “Origem Proximal” concordaram que as características que observaram no SARS-CoV-2 exibiam exatamente as etapas que teriam seguido se eles próprios tivessem decidido projetar um coronavírus semelhante ao da SARS [gripe asiática, cujo vírus é aparentado ao da Covid]. As características do vírus eram “exatamente o que era esperado pela engenharia”, escreveu Edward Holmes no Slack em 1º de fevereiro.

Uma peça-chave de evidência de que o vírus pode ter sido projetado é o “sítio de clivagem da furina” na “proteína de espícula” [a mesma proteína da superfície do vírus que é produzida pelas células humanas quando se recebe a vacina da Pfizer]. Essa característica especial permite que o SARS-CoV-2 se ligue a receptores moleculares humanos, tornando o vírus altamente infeccioso.

Em referência a isso, Holmes escrevera que “Bob [Garry] disse que a inserção [do sítio] seria a primeira coisa que ele adicionaria”.

“Sim”, concordou Andersen, “o sítio da furina seria a primeira coisa a ser adicionada, com certeza”.

Garry explicou como seria fácil projetar o vírus. “Transmitindo um vírus de morcego como o RatG13 [amostra do Instituto de Wuhan que até hoje é a mais aparentada ao vírus da Covid] em células HeLa [linhagem de células com origem em um câncer de ovário da americana Henrietta Lacks] e depois pedindo ao seu aluno de pós-graduação para inserir um sítio da furina...”, ele escreveu. “Não é absurdo sugerir que isso poderia ter acontecido dada a pesquisa com GoF [ganho de função, ou seja, modificação de vírus para ficarem mais infecciosos em humanos] que sabemos que está acontecendo”.

“Resumindo”, disse Andersen em 2 de fevereiro, “não podemos provar se é natural ou escapou”.

As mensagens recentemente reveladas também mostram que os cientistas estavam especificamente preocupados com pesquisas altamente controversas no laboratório de uma virologista chamado Shi Zhengli [conhecida como “mulher morcego”] no Instituto de Virologia de Wuhan para tornar os coronavírus semelhantes ao SARS mais infecciosos.

Public e Racket foram os primeiros a relatar no mês passado que altos funcionários do governo dos EUA estão “100%” confiantes de que as três primeiras pessoas do mundo a adoecerem com Covid-19 trabalhavam no laboratório de Shi.

Referindo-se a artigos publicados pela equipe de Shi e outros, Andersen escreveu em 2 de fevereiro que “A principal preocupação surgindo ao ler todos esses artigos é o tipo de coisa que está sendo feita — fazer com que vírus semelhantes ao da MERS [Síndrome Respiratória do Oriente Médio, também causada por um coronavírus] infectem humanos, fazer com que vírus semelhantes ao SARS causem doenças em camundongos e infectem humanos etc. Há um forte foco na proteína de espícula para todo esse trabalho”.

Mas então, três dias depois, em 5 de fevereiro, a atitude de Andersen mudou radicalmente.

No Congresso, Andersen alegou que havia mudado de ideia com base nas evidências científicas de que um hospedeiro animal intermediário, como um pangolim, era possível.

Mas suas comunicações internas indicam o contrário.

Em 3 de fevereiro, o grupo começou a buscar casualmente uma espécie animal intermediária para apoiar a hipótese de transbordamento natural. A princípio, eles discutiram o furão. Estavam trabalhando com a melhor ciência disponível? Talvez não. Gary compartilhou em um momento a página da Wikipédia do texugo-furão chinês.

Dois dias depois, Andersen compartilhou sequências [genomas] virais do pangolim, começou a moldar a origem natural como a conclusão preconcebida de seu artigo e renomeou o grupo do Slack. Ele pensou que as sequências do pangolim poderiam ser o elo perdido que estavam procurando desesperadamente.

Mas as sequências do pangolim não os levaram muito longe. Em 12 de fevereiro, quatro dias antes de a Nature Medicine publicar “Origem Proximal”, Andersen confessou no Slack: “Pelo que sei, as pessoas poderiam ter infectado o pangolim, não o contrário”.

Mas no Origem Proximal, Andersen e seus colegas escreveram algo muito mais definitivo: “A presença em pangolins de um RBD [domínio de ligação ao receptor, parte da proteína de espícula] muito semelhante ao do SARS-CoV-2 significa que podemos inferir que isso também provavelmente estava no vírus que saltou para os humanos” [ênfase nossa].

Depois, em 18 de fevereiro, dois dias após a pré-publicação do Origem Proximal, Andersen admitiu mais uma vez, “Claramente nenhuma dessas sequências de pangolim era a fonte”. E então, mais uma vez, em 20 de fevereiro, Andersen enfatizou que “Infelizmente os pangolins não ajudam a esclarecer a história”.

O colega de Andersen, Garry, concordou. “Sequência de pangolim não dá resposta definitiva”, ele escreveu no Slack em 22 de fevereiro.

Incapazes de identificar de maneira crível furões ou pangolins como hospedeiros intermediários, os cientistas continuaram a admitir privadamente que não podiam descartar um vazamento de laboratório.

Em 16 de abril, dois meses após a publicação preliminar do Origem Proximal, Andersen compartilhou no Slack artigos sobre cultivo celular no laboratório de Shi no Instituto de Virologia de Wuhan. Ele observou que o trabalho de Shi era “a principal razão pela qual estou tão preocupado com o cenário de ‘cultivo’”.

O cultivo celular é um método pelo qual os vírus podem passar várias vezes pelas células para torná-los mais infecciosos, recriando essencialmente o processo de seleção natural em um laboratório. Este método se enquadra nos “cenários baseados em laboratório” que o altamente citado artigo Origem Proximal afirmou ter descartado.

Apenas uma semana depois, no Twitter, Holmes, porém, difamou as “teorias da conspiração sobre vazamento de laboratório”. Privadamente, os cientistas ainda estavam fazendo perguntas, mas publicamente eles estavam seguindo a narrativa.

Comportamentos que sugerem uma operação-abafa

O que aconteceu nos dias que antecederam 5 de fevereiro, quando Andersen mudou o nome do grupo no Slack dos autores do Origem Proximal de “projeto-wuhan_engenharia” para “projeto-wuhan_pangolim”?

Uma pista vem do que já foi relatado: Andersen e seus coautores fizeram uma vídeo-conferência em 1º de fevereiro com Fauci e Collins, que usaram a oportunidade para “sugerir” que eles escrevessem o artigo Origem Proximal.

As novas mensagens revelam uma pista adicional. Em 3 de fevereiro, Andersen participou de uma reunião organizada por Fauci na Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina (NASEM), a augusta organização de consultoria científica criada pelo Congresso em 1863 para ser escrupulosamente independente e acima da política.

A reunião da Academia em 3 de fevereiro ocorreu imediatamente antes de Andersen e os outros mudarem seu tom por razões claramente não científicas e aparentemente políticas. Outros participantes da reunião de 3 de fevereiro incluíram Collins e representantes do FBI e do Escritório do Diretor de Inteligência Nacional (ODNI).

Uma das novas mensagens mostra que Andersen estava ansioso sobre sua associação com a Academia. “Um dos principais problemas que tenho, também”, escreveu ele em 19 de fevereiro, “é que meu nome está, por exemplo, na carta da NASEM e em outras coisas ‘oficiais’ olhando a questão — então preciso ser capaz de me desviar de futuros potenciais questionamentos que poderiam envolver diretamente o meu nome”.

O contexto para Andersen escrever essa mensagem foi uma discussão com seus colegas sobre como distrair um repórter do New York Times, Don McNeil, que estava fazendo perguntas difíceis sobre se a Covid-19 poderia ter vindo de um laboratório.

Em 6 de fevereiro, Rambaut compartilhou um e-mail de McNeil com o grupo no Slack. O texto copiado do e-mail de McNeil dizia: “Estou tentando verificar um rumor que um editor obteve de uma fonte governamental — que o governo dos EUA está tentando investigar seriamente a possibilidade de que o nCoV [novo coronavírus] veio do Laboratório de Vírus de Wuhan, em vez de um mercado de animais silvestres”.

Em vez de responder honestamente, Rambaut e os outros autores começaram a trabalhar para distrair McNeil. Suas discussões pareciam mais características de uma operação de manipulação política do que uma tentativa de boa fé de informar o público. “Estou pensando em simplesmente responder e dizer que ‘Não vejo nada no genoma que me faça acreditar que ele foi geneticamente manipulado em um laboratório’”.

“Seria prudente continuar a pensar com antecedência nas respostas” para McNeil, sugeriu Garry.

Onze dias depois, o grupo do Slack continuou a coordenar suas respostas para McNeil. Kristian Andersen compartilhou um novo e-mail, dizendo, “Ele está fazendo algumas perguntas muito difíceis de lidar”.

Em sua resposta redigida a McNeil que ele compartilhou com o grupo no Slack, Andersen escreveu, “Segurança nacional? Casa Branca? Espiões? Eu queria que minha vida fosse tão emocionante, mas infelizmente não tenho nada a acrescentar aqui — minha existência não é realmente em Technicolor, então estou apenas focado na ciência ;-) [emoji de piscadela].”

Privadamente, Andersen disse a seus colegas autores que o emoji era “muito deliberado” e que sua resposta “inclui humor para desviar do fato de que estou dispensando ele”. Ele acrescentou, com linguagem chula, “Eu realmente desejei que a p**** da minha vida não fosse tão emocionante…”

Em uma declaração para Public e Racket, McNeil se recusou a comentar sobre o conteúdo dos e-mails, mas escreveu, “Obviamente, se um dos autores do artigo Origem Proximal me dissesse que ele achava que [o vírus] foi realmente criado em um laboratório, eu teria noticiado isso”.

Quem foram os “superiores”?

Os novos e-mails e mensagens não provam que Fauci, Collins, o FBI, o ODNI, ou qualquer outra pessoa associada à reunião da Academia Nacional em 3 de fevereiro fizeram Andersen e seus colegas se afastarem da teoria do vazamento de laboratório. Outros fatores podem ter sido influentes.

Por exemplo, as novas mensagens mostram que um editor e revisores da Nature Medicine pressionaram Andersen e os outros autores a afirmar ainda mais conclusivamente que a origem natural era o único cenário plausível. Eles e outros podem ter pressionado Andersen e os quatro outros cientistas a abandonar categoricamente a teoria do vazamento de laboratório.

Mas as mensagens e e-mails mostram claramente que aquilo que Andersen e seus colegas estavam fazendo não era ciência, mas sim retórica. Por sua própria conta, eles não conseguiram mostrar como o vírus passou de morcegos para um intermediário, sejam furões ou pangolins, para humanos.

As novas mensagens também mostram que os cientistas foram pressionados a divulgar suas descobertas por certas partes interessadas que eles chamaram de “superiores”. Andersen disse que o artigo Origem Proximal foi apressado por causa da “pressão dos superiores para divulgá-lo”.

Mais tarde, em uma entrevista a um comitê do Congresso, quando perguntado quem eram esses “superiores”, Garry disse: “Não quero especular sobre quem eram os superiores. Mas, quero dizer, eu estava ciente de que havia pessoas que estavam discutindo as potenciais origens e, você sabe, uma possível origem em laboratório em, você sabe, diferentes agências governamentais”.

Uma possibilidade era o principal aliado de Fauci e Collins na Grã-Bretanha, Jeremy Farrar da Wellcome Trust [fundação de fomento à pesquisa britânica]. Em 16 de fevereiro, o dia em que a Nature Medicine publicou Origem Proximal, Farrar enviou um e-mail a um dos coautores de Andersen, Andrew Holmes, pedindo-lhe para tornar o artigo público.

Farrar já tinha compartilhado o artigo com Collins, que também havia enviado um e-mail a Holmes para pressionar pela publicação imediata. Algumas horas depois, Holmes escreveu que havia submetido o artigo após “pressão de cima”. Disse Holmes, “Jeremy Farrar e Francis Collins estão muito felizes”.

Em uma entrevista recentemente divulgada no Subcomitê Seleto da Câmara sobre a Pandemia do Coronavírus, Andersen chamou Farrar de “figura paterna” do artigo, mas negou repetidamente que Fauci e Collins orientaram o artigo e não os identificou como “superiores”.

“Eu não especularia sobre isso”, disse Andersen durante a entrevista.

Mas então Andersen acrescentou que havia, de fato, “superiores”, e que eles estavam “na comunidade de inteligência tanto aqui quanto no Reino Unido”. É uma passagem tão notável que vale a pena citá-la na íntegra.

“Quero dizer”, disse Andersen ao Subcomitê da Câmara, “era claro que o Escritório de Política de Ciência e Tecnologia da Casa Branca naquela conferência de 3 de fevereiro, o Dr. Fauci, em meu primeiro e-mail para mim, falou sobre contatar a comunidade de inteligência tanto aqui quanto no Reino Unido. Então, essa é a minha suposição, de que quando estamos falando dos superiores aqui, a Casa Branca estava ciente disso”.

Embora ainda não saibamos se os referidos como “de cima” ou “superiores” são Fauci, Collins, Farrar, a Casa Branca ou as agências de inteligência, está claro que os autores não estavam operando de forma independente. O artigo que eles acabaram escrevendo não foi apenas o produto de uma investigação científica, mas também de influência externa. A natureza dessa influência ainda não conhecemos.

Cabe ao Congresso descobrir. Durante meses, Fauci, Andersen e seus aliados têm propagado a mensagem de que “podemos nunca saber” o que causou a pandemia de Covid-19. Na verdade, estamos nos aproximando de entender o que aconteceu a cada novo lote de e-mails e mensagens do Slack.

Mensagens anteriormente divulgadas mostram que um dos principais conselheiros de Fauci se gabava de driblar a Lei de Acesso à Informação com seu Gmail, e de esconder o papel de Fauci.

“Tony [Fauci] não quer suas digitais em reportagens sobre a origem”, escreveu o conselheiro de Fauci, David M. Morens. “Como você sabe, tento sempre me comunicar no Gmail porque meu e-mail dos NIH é constantemente submetido a resquisições de lei de acesso à informação... Não se preocupe... Vou deletar qualquer coisa que não eu queira ver no New York Times”.

As evidências agora mostram um padrão claro de comportamento dos principais conselheiros científicos de Fauci, que agiram da maneira que se poderia esperar de pessoas se estivessem envolvidas em um acobertamento. Fauci e Collins pressionaram Andersen e seus colegas a publicar um artigo descartando o vazamento de laboratório, mesmo que eles acreditassem nele. Morens e Andersen ambos tentaram evadir futuros pedidos de FOIA e intimações usando o Gmail e o Slack.

Se realmente era o caso, como Garry e Andersen disseram, que a Covid-19 não vazou de um laboratório e que os comportamentos revelados pelos e-mails e mensagens do Slack não são uma teoria da conspiração, então o que eles têm a esconder? Onde está a gravação da reunição de Zoom de 3 de fevereiro? O que foi dito?

Como nação, precisamos passar de “podemos nunca saber” para “devemos descobrir”. Se o comportamento de Fauci, Collins, Andersen, Garry e os outros foi totalmente correto, então eles não deveriam se opor a ajudar os membros do Congresso, jornalistas e o público a entender exatamente o que aconteceu entre 3 e 6 de fevereiro para eles abandonarem o "projeto-wuhan_engenharia" pelo "projeto-wuhan_pangolim".

©2023 Public. Publicado com permissão. Original em inglês.

Conteúdo editado por:Eli Vieira
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