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Um diário é uma forma poderosa de exame de consciência e por isso vários santos e fiéis recorreram a esse tipo de registro. Escrever os pensamentos os aproximava de Deus pois, através de um entendimento melhor de si mesmos, ganhavam forças para persistir em suas jornadas espirituais. Jornadas, aliás, cheias de tribulações, como a de todos nós.
Para quem quiser se familiarizar, e quem sabe até começar o seu próprio diário, há cinco livros fundamentais:
1. 'Diário de Santa Faustina' (2020, Editora Apostolado da Divina Misericórdia)
Com mais de 1 milhão de exemplares vendidos no Brasil, o diário da santa polonesa é um dos mais incríveis testemunhos católicos. Helena Kowalska é o nome de batismo da santa que morreu precocemente, vítima da tuberculose aos 38 anos, e que terminou sua obra pouco antes disso.
Santa Faustina foi canonizada em 1993 pelo seu conterrâneo Papa João Paulo II que, na ocasião, a invocou: “E tu, Faustina, dom de Deus ao nosso tempo, dádiva da terra da Polónia à Igreja inteira, obtém-nos a graça de perceber a profundidade da misericórdia divina, ajuda-nos a torná-la experiência viva e a testemunhá-la aos irmãos”.
No livro, impressionam as visões místicas que Santa Faustina teve, tanto de Jesus Cristo, como de Nossa Senhora. Além de outras mais impactantes, como a do próprio inferno. Até seu encontro definitivo com Deus, ela padeceu de muitos sofrimentos físicos e psíquicos.
2. 'História de Uma Alma: Santa Teresinha do Menino Jesus' (2024, Editora Vozes)
Canonizada em 1925, Santa Teresinha é uma das santas mais amadas pelos católicos. Em seu diário, ela recupera sua infância na França, passando pelo trauma da morte de sua mãe, a entrada no convento onde viveu, até o final, que ela chama de “o voo para o céu”. Também vítima de tuberculose, faleceu aos 24 anos.
A escrita de Santa Teresinha é mais contida do que a de Santa Faustina. É uma obra mais leve, talvez até mais ingênua. Tanto que a Santa sempre gostou de proclamar sua própria simplicidade, gostando de se comparar às flores e também às crianças. Porém, tal miudeza agradou a Deus e foi canonizada em 1925, pelo Papa Pio XI. João Paulo II ainda a declarou a trigésima terceira doutora da Igreja, a mais jovem de todas.
3. 'Venha, Seja Minha Luz: os Escritos Privados da Santa de Calcutá' (2017, Editora Petra)
“Qual o homem que conhece os desígnios de Deus?”, foi o que perguntou Papa Francisco na homilia que canonizou uma das santas mais famosas do século XX. Vencedora do Nobel da Paz de 1979, Madre Teresa de Calcutá demorou para entender o que Deus esperava dela, mas sempre aceitou seu destino, com espírito de resignação e abandono de si mesma.
Aqui não se trata de um diário como os anteriores, mas de correspondências da Santa de Calcutá com várias pessoas. Padre Brian Kolodiejchuck, que conviveu com ela, editou o livro e suas notas dão ainda mais riqueza à obra. É personagem frequente a “voz”, como ela denomina os chamados de Jesus Cristo, que a princípio a intimidaram. Mas, através da oração, soube cumprir seu propósito, abraçando aquele mesmo chamado.
4. 'Diário de Oração', de Flannery O’Connor (2023, Editora É Realizações)
A escritora americana é mais famosa por seus livros de contos, como Um bom homem é difícil encontrar e outras histórias (2018, Editora Nova Fronteira) e Tudo o que sobe deve convergir (2023, Editora Sétimo Selo). Apesar de uma abordagem um pouco sombria da realidade, percebemos um fundo religioso em seus contos. Mesmo em lugares insuspeitos, os personagens podem atingir, surpreendentemente, a Graça.
Escrito entre 1946 e 1947, quando O'Connor estava na universidade, o seu diário é bastante fragmentado, o que revela as hesitações de uma escritora que se iniciava. Não fossem suas intensas orações, Flannery não teria sido uma das grandes ficcionistas americanas: “por favor, me ajude a ser uma artista, por favor, faça isso levar até Você”.
5. 'Cartas do Pai: de Alceu Amoroso Lima para sua filha Madre Maria Teresa' (2016, Editora Instituto Moreira Salles)
Por fim, um diário de um homem, e brasileiro. Alceu Amoroso Lima (1893-1983) foi um escritor católico e chegou a se tornar imortal da Academia Brasileira de Letras (quanta diferença para os dias atuais!). Este livro reúne as cartas que escreveu para sua filha, monja no Mosteiro Beneditino de Santa Maria. A escrita diária de 11 anos se torna ao final também uma biografia pessoal.
Amoroso Lima faz interessantes observações sobre a Igreja, como a questão papal: “houve papas maus como homens, ao longo da História, mas nunca houve papas errados como papas”. Mas, acima de tudo, se revela como um profundo entendedor do que é ter fé: “Deus é tão luminoso, tão fonte, perfeição e fim de tudo, que é para nossa inteligência como o sol para os nossos olhos: não conseguimos fixá-lo face a face”.