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Cinco mitos sobre armas nucleares

Imagem da explosão da bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima, na Segunda Guerra Mundial | U.S. Army/
Hiroshima Peace Memorial Museum
Imagem da explosão da bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima, na Segunda Guerra Mundial (Foto: U.S. Army/ Hiroshima Peace Memorial Museum)

Os recentes testes de lançamento da Coreia do Norte lembraram os EUA da possibilidade de um ataque nuclear. Uma pesquisa recente do Conselho de Chicago para Assuntos Globais descobriu que três em cada quatro americanos veem a Coreia do Norte como uma "ameaça crítica" para os país. Analistas da inteligência dos EUA acreditam que a Coreia do Norte pode começar a posicionar mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) já no próximo ano. Além disso, eles acreditam que a Coreia do Norte já consegue colocar ogivas nucleares dentro dos mísseis. Mas quão fácil é detonar uma arma nuclear em território estrangeiro? Veja cinco mitos sobre armas, ameaças e dissuasão nuclear. 

Mito 1: Para dissuasão nuclear, os países precisam mostrar armas funcionais

"Os mísseis norte-coreanos podem até alcançar os EUA, mas não são eficazes na reentrada", afirma um artigo da Fox News, fornecendo tranquilidade. "As questões sérias ainda são se a Coreia do Norte tem a capacidade de construir veículos capazes de reentrar a atmosfera do planeta, atravessando uma pressão e um atrito tremendos", explicou uma matéria do site Business Insider. Parece que a Coreia do Norte não pode ser uma ameaça se não lançou um míssil através do oceano. 

Mas a verdade é que países nunca avaliaram inimigos por esse padrão. No começo da Guerra Fria, as nações testavam armas nucleares em vários contextos, incluindo bombas subaquáticas e subterrâneas. Os EUA e a União Soviética também lançaram armas nucleares em mísseis, que foram detonados na parte superior da atmosfera ou no espaço. Pelo menos uma vez, em 2 de fevereiro de 1956, os soviéticos lançaram uma arma nuclear no espaço em um míssil de médio alcance que reentrou no planeta e detonou na atmosfera. Em 6 de maio de 1962, os EUA fizeram a mesma coisa de um submarino. 

Em 1963, os EUA, a União Soviética e a Grã-Bretanha assinaram o Tratado de Interdição Parcial de Ensaios Nucleares, concordando com que todos os testes fossem subterrâneos. Desde então, o único teste de míssil que envolveu reentrada foi conduzido pela China em 27 de outubro de 1966, com um míssil de médio alcance. Nenhum país tentou demonstrar um ICBM dessa maneira. Mesmo assim, não existem dúvidas sobre a existência de mísseis nucleares ativos nos EUA, na Grã-Bretanha, na China, na França e na Rússia. 

Mito 2: Os EUA conseguiriam destruir o arsenal de um inimigo no chão

Em seu plano de jogo para a guerra com a Coréia do Norte, Ralph Peters – um tenente-coronel aposentado que atualmente escreve para o New York Post –, acrescentou o seguinte tópico em sua lista de tarefas: "Nós partiremos para tomar a infraestrutura de mísseis e armas nucleares", o que inclui cientistas, técnicos e as próprias bombas. Do mesmo modo, a revista Time disse aos leitores em 2015 que, se o Irã desenvolvesse a capacidade de usar armas nucleares, eles poderiam "usar o Massive Ordnance Penetrator, um tipo de bomba teleguiada, da Força Aérea para destruir a infraestrutura iraniana". 

Mas não é tão simples assim. São conhecidos poucos detalhes da habilidade atual dos EUA de procurar e destruir mísseis móveis antes que eles sejam lançados, mas esse foi um problema notavelmente grande no passado. Em 1991, durante a Guerra do Golfo, o exército americano lançou milhares de mísseis contra os mísseis do Iraque, mas não conseguiu confirmar nenhum abatimento. As técnicas foram melhoradas, mas tudo indica que o trabalho ainda é muito difícil. No último mês, o general Paul Selva disse para os senadores que a comunidade da inteligência americana não pode acompanhar com precisão o desenvolvimento dos mísseis norte-coreanos em campo. Ele falou que "Kim Jong Un e suas forças são particularmente bons em camuflagem, ocultação e engano". 

Mito 3: Os EUA podem atingir as ogivas inimigas em voo

Depois do último teste de ICBM da Coreia do Norte, o general Lori Robinson, do Comando Norte Americano de Defesa Aeroespacial, afirmou ter "uma confiança inabalável de que é possível defender os EUA dessa ameaça balística". Depois de um teste recente de procedimentos americanos anti-ICBM, Jim Syring, diretor da Agência de Defesa contra Mísseis, disse que o teste "demonstra que temos uma barreira eficiente e verossímil contra uma ameaça real". As afirmações parecem dizer que os EUA não teriam problema de destruir uma ogiva nuclear norte-coreana no céu se fosse necessário. 

Qualquer tentativa de parar um ataque de ICBM dependeria do GMD (Ground-Based Midcourse Defense), um sistema desenvolvido e construído para interceptar ogivas – que conseguiu fazer isso pela primeira vez em um formato de míssil ICBM em um teste em maio. Infelizmente, seu registro total não é muito impressionante. Um relatório de desempenho para o ano de 2016 mostrou várias falhas, testes insuficientes e suporte de radar inadequado. Um relatório detalhado redigido por cientistas apresenta esse cenário como resultado de mais de uma década de descuido. Ainda vai levar algum tempo até que as deficiências do programa sejam corrigidas – se forem. 

Mito 4: A dissuasão não vai funcionar contra um país como a Coreia do Norte 

O Conselheiro de Segurança Nacional, H.R. McMaster, disse recentemente para a ABC News que a "teoria clássica de dissuasão" não se aplica a um regime como o da Coreia do Norte, que "promove uma brutalidade indescritível contra sua própria população". De maneira semelhante, Mary Beth Long, ex-secretária assistente de defesa, não parecia ver a dissuasão com grandes esperanças quando falou em um painel recentemente: "nós tentamos deter o programa nuclear da Coréia do Norte. Não funcionou. Nós tentamos fazer com que ficassem no Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Não funcionou. Tentamos persuadi-los a não esconder o arsenal. Não funcionou". 

Ainda assim, foi a dissuasão nuclear que aguentou as pontas até esse momento: armas nucleares não foram usadas em guerra desde 1945, apesar de estarem no arsenal de nove países (com alguns líderes erráticos). Combates aéreos entre as forças aéreas americanas e soviéticas durante a Guerra da Coreia, conflitos de fronteira entre a União Soviética e a China em 1969 e uma pequena guerra entre Índia e Paquistão em 1999 não foram o suficiente para acionar as nuvens em formato de cogumelo. 

A Coreia do Norte parece estar se segurando, até esse momento, por causa da dissuasão. Em 25 de junho de 1950, os norte coreanos marcharam para o sul em uma tentativa de unificar a península a força. A invasão falhou e levou a uma guerra de três anos, mortes incontáveis e à destruição da infraestrutura norte coreana pelo ar. A Coreia do Norte nunca abriu mão de sua ambição pela reunificação, mas nunca tentou invadir o sul novamente. 

A dissuasão pode falhar em algum momento, mas parece estar funcionando até agora. 

Mito 5: A primeira geração de armas nucleares é difícil de ser feita 

Aparentemente, a notória dificuldade de enriquecer urânio faz com que um boom de bombas não se concretize. "Manufaturar um combustível de alta qualidade" – como plutônio ou urânio altamente enriquecido – "é a parte mais difícil de qualquer programa nuclear", disse William Langewiesche no Atlantic em 2006. "O grande problema em se fazer uma bomba nuclear é o urânio enriquecido", concordou o Gizmodo em 2012. 

Mas a tecnologia não é mais uma barreira tão séria para as bombas nucleares. Em um artigo, o professor R. Scott Kemp, do MIT, descreve como já se fala ao redor do mundo sobre uma nova técnica de enriquecimento de urânio: uma centrífuga de gás relativamente simples e barata. Um laboratório da União Soviética desenvolveu a técnica na década de 50 com ajuda de prisioneiros de guerra alemães e austríacos. Depois que eles voltaram para casa, alguns tentaram recriar o sistema, tanto na Alemanha como nos EUA. 

E a palavra se espalhou. Relatórios do projeto americano circularam, se tornando "receitas" para centrífugas simples. Nos anos seguintes, vários países – Austrália, Brasil, Grã-Bretanha, China, França, Índia, Itália, Israel, Holanda e Japão – produziram versões da tecnologia soviética de enriquecer urânio.

Tradução de Gisele Eberspächer

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