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Cena de “E o vento levou” |
Cena de “E o vento levou”| Foto:

Um cinema de Memphis, Tennessee, encerrou sua tradição de 34 anos de exibir o premiado com o Oscar “E o Vento Levou”, de 1939, pelo menos uma vez por ano. O Orpheum Theatre tirou o filme de sua programação depois de vários frequentadores terem reclamado sobre uma sessão que seria promovida em 11 de agosto, dizendo que o filme é “racialmente insensível”. A informação é do “USA Today”.

“As seleções de títulos a serem exibidos geralmente é feita na primavera de cada ano, mas o Orpheum fez essa determinação já agora em resposta ao questionamento específico de frequentadores”, disse Brett Batterson, presidente do Orpheum Theatre Group, em comunicado ao qual a “Entertainment Weekly” teve acesso. 

“Como organização cuja missão declarada é ‘entreter, educar e esclarecer as comunidades que atende’, o grupo Orpheum não pode exibir um filme que é insensível a um grande segmento da população local.” 

Segundo o site Box Office Mojo, o épico sobre a Guerra Civil Americana “E o Vento Levou” é o filme que teve a maior bilheteria de todos os tempos, levando em conta a inflação. Mas o tratamento que dá aos negros – descritos ao longo do filme como “darkies”, ou crioulos – está ao centro de uma discussão cada vez mais acirrada. 

O filme relata a vida da beldade sulista Scarlett O'Hara (Vivien Leigh), criada numa “plantation” e que acaba se apaixonando por Rhett Butler (Clark Gable), contrabandista que furava o bloqueio naval para levar suprimentos aos sulistas na guerra. Para muitos, o filme mostra a Confederação sob uma ótica nostálgica e benévola, ao mesmo tempo em que seus personagens negros são enquadrados em estereótipos aviltantes. 

Em 2015 o crítico de cinema Lou Lumenick escreveu que “E o Vento Levou” “investe fundo na ideia de que a Guerra Civil foi uma causa nobre que foi perdida, mostrando os ianques e seus simpatizantes como vilões, tanto ao longo da guerra quanto durante a Reconstrução”. Ele sugeriu que o filme deveria “ter o mesmo fim que a bandeira dos Confederados”, sendo eliminado gradualmente da cultura americana. 

“Jihadistas culturais”

Mas defensores indignados do filme aparentemente discordam e se apressaram a manifestar suas objeções. A voz mais alta foi a do comentarista da Fox News e morador de Memphis Todd Starnes. 

Em dois tuites diferentes com links para um comentário que escreveu sobre a decisão tomada pelo cine Orpheum, Starnes disse: “Parece que o vento levou o bom senso embora em minha cidade, Memphis”, comentando que o filme “foi fortemente criticado por um bando de oportunistas liberais ianques, intrometidos e que não tinham nada que opinar sobre o assunto”. 

“A limpeza étnica de minha cidade já foi longe demais”, Starnes escreveu em seu blog, descrevendo as pessoas que se queixaram da exibição do filme como “jihadistas culturais”. 

“E agora o vento levou nosso filme querido – graças a um bando de oportunistas intrometidos”, ele prosseguiu. “Muitos habitantes de Memphis devem estar se perguntando o que aconteceu nesta cidade. Para emprestar uma frase de ‘E o Vento Levou’, os liberais aconteceram. Assim como fizeram com todos nós.” 

Starnes concluiu: 

“Mas, sulistas, não adianta chorar lágrimas que vão cair em nosso chá adoçado. Precisamos resistir à praga dos liberais ianques. Precisamos ficar firmes e lutar. Nas palavras de Scarlett O’Hara, ‘Deus é minha testemunha: eles não vão nos derrotar’.” 

A favor

Algumas pessoas que viram o filme em Memphis concordaram com o crítico. 

“Minha filha adulta e eu vimos ‘E o Vento Levou’ juntas nas sessões de verão, cinco anos atrás. É um filme épico que ninguém deveria deixar de ver no cinema”, escreveu Sherrye Britt, para quem não há nada de racista em “E o Vento Levou”. “Parem de tentar reescrever a história. Daqui a pouco vão proibir ‘O Sol É Para Todos’, “Conduzindo Miss Daisy’ e outros clássicos.” 

“Tive a sorte de assistir a ‘E o Vento Levou’ no Orpheum no ano passado”, escreveu Vickie Lewis. “Posso afirmar sem sombra de dúvida que nunca mais darei meu dinheiro a esse cinema.” 

“Que vergonha o que o Orpheum está fazendo”, escreveu Sherry Fullbright Fowler, para quem a iniciativa de tirar o filme da programação está ajudando a destruir a história. 

Outros porém, como Erin Maher, defenderam a decisão. 

“Concordo com a decisão”, ela escreveu. “Agora não é o momento de romantizar a Confederação e os escravocratas. Quem quiser assistir ao filme ainda vai poder. Não estão queimando a única cópia que existe.” 

Apesar das reações de indignação, porém, o Orpheum Theatre não recuou. Batterson disse ao site “Commercial Appeal” que não é a primeira vez que o cinema cogita em tirar “E o Vento Levou” de sua programação anual, mas que agora finalmente a decisão foi tomada. 

“É uma coisa que vinha sendo questionada todos os anos”, ele comentou. “O Orpheum quer ser inclusivo e acolher toda a população de Memphis.”

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