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Cinema

Clássico “Nada é Para Sempre” oferece oportunidade de contemplação

Cena do filme "Nada É Para Sempre", de Robert Redford, com Craig Sheffer, Brad Pitt e Tom Skerritt (Foto: Columbia Pictures/Divulgação)

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Ao filósofo grego Heráclito de Éfeso é atribuída a ideia de que um homem nunca põe os pés duas vezes no mesmo rio. Na segunda vez, já não é o mesmo rio, nem o mesmo homem. Este simbolismo para a passagem do tempo e a mudança constante é o fio condutor de “Nada é Para Sempre”, filme clássico do diretor Robert Redford que está disponível para o público brasileiro na Amazon Prime Video.

O drama, lançado em 1992, ficou marcado como a obra que impulsionou a carreira de Brad Pitt. Mas existem outras razões para que o filme mereça um lugar de destaque.

A história tem início no começo do século passado. Filhos de um austero pregador presbiteriano, os irmãos Norman (Craig Sheffer) e Paul MacLean (Brad Pitt) são criados em Missoula, no estado de Montana, e passavam o tempo livre pescando. A pescaria e a religião eram inseparáveis, diz Norman, que também faz o papel de narrador, no começo do filme. Pouco a pouco, os personagens amadurecem e precisam aprender a tomar os rumos das próprias vidas.

Um dos temas centrais do drama é a ideia de pertencimento – um dos irmãos se recusa a deixar Montana em busca de uma carreira melhor, enquanto o outro segue jornada diferente. Apesar dos rumos diversos que os jovens tomam na vida, o rio continua sendo o ponto de encontro da dupla.

O filme é baseado no livro autobiográfico do escritor Norman MacLean. Por isso, o enredo não traz elementos fantásticos, nem surpreende o espectador a cada momento com reviravoltas imprevisíveis. A narrativa flui suavemente, como os rios de Montana que emolduram as cenas da vida dos rapazes. Aos olhos do telespectador de 2020, o filme pode parecer lento, como se as duas horas de duração pudessem ser comprimidas em uma. Mas, justamente por isso, “Nada é Para Sempre” merece ser visto como uma forma de contemplação – uma vida inteira que transcorre diante dos nossos olhos, com seus conflitos e conquistas.

De alguma forma, “Nada é Para Sempre” é hoje um filme duplamente de época: é a visão que um passado mais próximo (quase três décadas atrás) tinha de um passado mais distante (um século atrás). Antes da era da internet e dos smartphones, o ritmo da vida (e também dos filmes) era outro.

Além das belas paisagens e uma trilha sonora condizente, um dos pontos fortes do filme é a sutileza. Muitos diálogos se dão sem palavras, apenas com a troca de olhares. O recurso só funciona graças às boas interpretações dos atores principais (com destaque para Emily Lloyd, que interpreta o par romântico do personagem de Brad Pitt).

“Nada é para Sempre” é um filme sem antagonistas, centrado primariamente nas relações entre dois irmãos que, apesar das diferenças, compartilham um companheirismo inquebrantável. A pesca, que exige habilidade, mas também sorte, é um retrato da própria existência humana. Algumas coisas ocorrem por razões insondáveis. Mas, como afirma o protagonista em um de seus momentos de reflexão: “É possível amar completamente sem compreender completamente”.

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