O jornal Denver Post está procurando novos colunistas de opinião. O anúncio de emprego parece sedutor, não? Megan Schrader, editora de opinião do jornal, diz que “valorizamos ter vozes variadas em nossas páginas” e que a publicação “está procurando articulistas tanto conservadores quanto progressistas”. E ela insiste que “não há nenhum tipo de teste de parcialidade para nossos colunistas”. Mas será que essa descrição da vaga corresponde à realidade?
Jon Caldara, presidente do Independence Institute, grupo de estudos pró-livre mercado do Colorado, era um dos mais lidos articulistas do Post desde que começou a escrever, em 2016, até ser demitido por dizer o óbvio. Conversei com ele e ele acha que a descrição do cargo não é exata. Coincidentemente, terça-feira (21) foi o “Dia de George Orwell Day”. Em meados do século XX, Orwell nos alertava para o uso totalitário da linguagem e pedia que as pessoas “vissem o que têm diante do nariz”. Caldara tentou fazer justamente isso – sendo mais específica, ele diz que o sexo é binário — mas isso lhe custou o emprego.
Pelos últimos três anos, Caldara escreveu para o Post abordando vários assuntos, sobretudo os relacionados à liberdade política e econômica. Nesta semana, contudo, disseram a Caldara que sua coluna mais recente (que criticava a falta de transparência entre os democratas do Colorado quando ao currículo de educação sexual deles) seria também a última. Ele escrevera que a ideologia de gênero não deveria entrar nas salas de aula pela porta dos fundos. “Como proteger os pais que acham que grupos de canto e ursinhos com disforia de gênero talvez estejam criando um 'estigma' para seu filho?”, escreveu ele.
Em sua coluna anterior, Caldara tinha reclamado do esquerdismo na imprensa: “Quem ouve os repórteres da NPR percebe a empolgação deles ao cobrirem o impeachment de Trump e conclui que eles ainda não têm ideia do quanto o país os considera inimigos”. Aprofundando o argumento de que a imprensa progressista está hoje isolada, ele fez uma referência à decisão da Associated Press de incluir em seu manual de estilo que “o sexo não é mais binário”. Ele disse que isso era um “ativismo” explícito, já que “só há dois sexos, identificados pelos cromossomos XX ou XY”.
Diante de nariz
O fato de o sexo ser binário não é uma questão de crença. Não é uma opinião. É um fato. O sexo ser binário é algo que está — evocando Orwell — “diante do nariz”. Talvez por isso mesmo Caldara não tenha percebido que expressar algo tão óbvio podia lhe causar sérios problemas. “Caí numa armadilha que nem sabia que existia”, me disse ele pelo telefone.
Caldara se considera libertário em vários assuntos e se diz um homem do tipo “viva e deixe viver”. Ele defende a eutanásia, o casamento entre as pessoas do mesmo sexo e os direitos dos transgêneros. Ele se sente “triste” com a decisão do jornal de demiti-lo, mas ainda assim descreve sua editora como “uma mulher incrível” que “se preocupa muito” com os oprimidos. Mas a restrição à liberdade de expressão é totalitária, por mais bonzinhos que sejam os perpetradores. “Fico frustrado porque [Schrader] não entende que a restrição que ela está impondo vai ter um efeito contrário, acho, do que ela pretende”, diz ele. E eu digo o mesmo!
“Isso parece algo stalinista, já que você só fica sabendo que cometeu o crime ao ser executado”, diz ele. “Não posso falar pelos editores do Post, mas não tenho dúvidas de que, para eles, a ideia de o sexo ser binário é um crime de ódio”. Mais tarde ele admite que “provavelmente teria escrito aquilo de outra forma, se soubesse que era um problema digno de demissão dar minha opinião sobre o assunto com as palavras que eu queria usar”. Afinal, Caldara tem uma filha e um filho com Síndrome de Down para sustentar, e o impacto financeiro de perder o cargo é relevante. Além disso, o transgenerismo não é um tema pelo qual ele nutra qualquer entusiasmo.
Novilíngua
Caldara foi associado à resistência às políticas dos transgêneros por acaso. Mas esse é justamente o caráter dessas políticas; ela afeta coisas inimagináveis. Com suas colunas, Caldara pretendia defender a transparência política e o papel da imprensa como mediadora do debate. Mas ele tentou fazer isso usando uma linguagem que não é mais aceitável pela polícia do pensamento e tratando de um assunto que não tolera dissidências. Caldara teme que as pessoas de esquerda, mesmo editoras “incríveis” como Schrader, pensem que “os fins justificam os meios”. “A intolerância é horrível”, diz ele. “Mas eles não consideram isso intolerância”.
Por acaso, em suas colunas anteriores Caldara fez referência à ideia orwelliana de “novilíngua”. Orwell incluiu um apêndice ao seu romance distópico 1984, explicando o conceito:
A ideia era a de que, quando a novilíngua fosse adotada de uma vez por todas e a antilíngua esquecida, um pensamento herético – isto é, um pensamento divergente dos princípios do Ingsoc [o governo totalitário] — deveria ser impensável, ao menos no sentido de ele ser dependente de palavras.
“Sou só um colunista, um cara de opiniões”, diz ele. “Era para eu ter ideias provocativas e promover debates provocadores”. Bem isso. Se os colunistas não são capazes de expor os fatos, quem é?
Madeleine Kearns é bolsista de jornalismo político no National Review Institute.
© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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