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Violência

Como 50 anos de progressismo destruíram uma cidade dos EUA

Governada há cinco décadas pelo Partido Democrata, a antes bucólica Baltimore, em Maryland, está hoje entregue à violência.
Governada há cinco décadas pelo Partido Democrata, a antes bucólica Baltimore, em Maryland, está hoje entregue à violência. (Foto: Bruce Emmerling/Pixabay)

Com uma das taxas de homicídios mais altas dos Estados Unidos, a cidade de Baltimore (Maryland, EUA) passou os últimos anos assombrada por uma criminalidade galopante e políticas públicas fracassadas. Depois de mais de cinquenta anos com o Partido Democrata no poder, a cidade sofre com medidas que falharam em frear a criminalidade.

Em 2017, a cidade foi considerada a mais violenta dos Estados Unidos, segundo relatórios do FBI. No ano passado, a cidade registrou 308 homicídios – o que equivale a 50,5 homicídios/100 mil habitantes. Já em 2019, o número foi de 165 homicídios entre janeiro e julho. O recorde de homicídios foi em 1993, com um total de 353 assassinatos – na época, a cidade tinha 614 mil habitantes.

A última administração do Partido Republicano em Baltimore acabou em 1967, com o fim do mandato do prefeito Theodore Roosevelt McKeldin. Também naquela década foram os últimos registros de taxas de homicídios anuais abaixo de 200 mortes – algumas exceções desde então foram anos isolados em que foram implementadas políticas de maior policiamento.

Hoje, Baltimore tem mais homicídios per capita do que a cidade de Nova York, que conta com 8,5 milhões de habitantes. Mais de 90% das vítimas de homicídio são negras e a maioria das mortes está relacionada a drogas ou gangues. Os bairros mais violentos da cidade correspondem a 25% do território e concentram cerca de 90% dos crimes.

"Há uma preocupação legítima aqui – da qual ninguém parece estar disposto a tirar a conclusão óbvia: há um culpado pelo que está errado em Baltimore", diz Kevin D. Williamson, autor de “The Dependency Agenda”, livro que analisa a relação entre políticas assistencialistas e a permanência do Partido Democrata no poder. "Quando a esquerda será responsabilizada pela violência em Baltimore?", pergunta Williamson.

Legado

O aumento da criminalidade e a permanência do Partido Democrata no poder, tanto no estado de Maryland quanto em Baltimore, com políticas progressistas que não cumprem a promessa de resolver os problemas, andam lado a lado.

"O Partido Democrata, em todos os níveis - municipal, estadual e federal -, permanece completamente ineficaz e continua a falhar com o povo de Baltimore em cada mandato. Isso não é nenhuma novidade”, afirmou recentemente Sam Faddis, oficial aposentado da CIA e do Exército dos Estados Unidos e candidato ao Senado pelo Partido Republicano.

“O fato é que o Partido Democrata fracassou em Baltimore e em todas as outras grandes cidades americanas nos últimos 50 anos. Cidades que antes foram exemplos brilhantes do progresso americano se transformaram em redutos de abandono, habitados principalmente por aqueles que não têm meios para se mudar para outro lugar", completou.

As políticas falharam desde os níveis mais elementares: as escolas de Baltimore sofrem com desempenho baixo e evasão alta. Trinta por cento dos estudantes da cidade não se formam no ensino médio, apenas 21% dos alunos são proficientes em inglês e menos de 20% são proficientes em matemática.

"Tudo isso apesar dos 50 anos da chamada guerra contra a pobreza e do governo progressista na cidade. O Partido Democrata teve 50 anos para cumprir as promessas que fez ao povo de Baltimore. Ele falhou", diz Faddis. Ele acrescenta que o Partido Democrata manteve o monopólio em cargos eletivos em Maryland por décadas: a Assembléia Geral é predominantemente democrata, sete dos oito congressistas de Maryland são democratas e ambos os senadores representando o estado são democratas.

Estopim

A onda recente de homicídios é atribuída, em parte, à decisão da procuradora de Baltimore, Marilyn Mosby, de acusar seis policiais pela morte de Freddie Gray, que entrou em coma quando estava sob custódia policial em abril de 2015. Depois da morte de Gray, protestos em massa, motins, saques e incêndios criminosos tomaram a cidade.

“A brutalidade policial é completamente indesculpável. Vou aplicar a justiça de forma justa, mesmo para aqueles que usam distintivo", disse Mosby, uma das procuradoras-chefes mais jovens de uma grande cidade dos EUA, em coletiva de imprensa em maio de 2015.

Sob o comando dela, uma investigação do Departamento de Justiça dos EUA constatou que policiais de Baltimore usaram força excessiva e fizeram discriminação racial. As acusações de negligência foram aplicadas porque Gray pulou da cela de metal na traseira do veículo da polícia durante a viagem.

Para David Simon, ex-repórter policial e criador da série The Wire, que retrata o cotidiano da criminalidade em Baltimore, as acusações e prisões transmitiram uma mensagem errada aos policiais.

“O que Mosby basicamente fez foi enviar uma mensagem para o departamento de polícia de Baltimore: 'Vou te colocar na prisão por fazer uma prisão errada'. Então os policiais entenderam: 'Posso ir para a prisão por fazer uma prisão errada, então não vou sair do meu carro para limpar as ruas", afirmou Simon em entrevista recente ao Guardian.

O número de prisões caiu de mais de 40 mil em 2014, um ano antes da morte de Freddie Gray e das acusações contra os policiais, para cerca de 22 mil em 2018, mesmo com o aumento da criminalidade no período - os homicídios subiram de 211, em 2014, para 344 em 2015, um aumento de 63%.

Tiro pela culatra

O combate à criminalidade foi o ponto central da campanha política do ex-governador de Maryland, Martin O'Malley, do Partido Democrata: uma política de detenção maciça durante os seus dois mandatos, de 1999 a 2007, prometeu diminuir a violência e assassinatos pela metade. Na verdade, os homicídios aumentaram de 261, em 2000, para 276 em 2006.

A falha, segundo Simon, foi uma política que resultou na prisão em massa de criminosos acusados por delitos menores, desencorajando um policiamento firme contra infratores violentos.

"Eles basicamente ensinaram a polícia a não fazer o trabalho da polícia", diz Simon. "Quando você pega um criminoso, sobretudo um criminoso violento, você tranca o bandido certo, você trava o cara que está fazendo o tiroteio ou o estupro ou o roubo. O departamento de polícia de Baltimore não pode mais policiar a cidade de forma eficaz", critica.

"A cidade colocou um curativo minúsculo em uma artéria aberta. A maioria dos policiais diz: 'Se eu for preso por fazer uma prisão normal, não vou mais prender ninguém'. As regras do jogo mudaram depois de Freddie Gray e os bandidos armados sabem que agora podem matar pessoas impunemente", acrescenta Warren Brown, ex-promotor de Baltimore.

Medidas ineficazes

Os conservadores do Partido Republicano veem o policiamento mais agressivo e a aplicação de penas mais longas como soluções para o aumento da violência na cidade.

A ex-prefeita de Baltimore, Catherine Pugh, do Partido Democrata, escolheu um caminho diferente: confiar na aplicação da lei federal para ajudar a desmantelar as organizações criminosas e impor uma política de desarmamento, entre outras.

Além disso, Catherine deu preferência a uma abordagem holística, como alternativas ao encarceramento, expansão do tratamento medicamentoso e construção de novos centros de recreação, entre outras iniciativas de viés progressista.

Os críticos disseram que o plano era pouco eficaz: as diversas abordagens buscavam solucionar a criminalidade atuando em problemas sociais, mas faltavam ações para punir infrações e atuar de forma incisiva sobre a violência. "O plano carecia de responsabilidade, cronogramas e não tinha força de verdade", diz Rob English, organizador do grupo Baltimoreans United In Leadership Development (Build).

Catherine renunciou o cargo neste ano, após investigação do FBI sobre um contrato de lançamento de seu livro infantil que lhe rendeu milhares de dólares com vendas para entidades públicas ligadas à prefeitura. A renúncia colocou fim ao mandato iniciado em 2015, quando Catherine venceu as eleições contra a ex-prefeita Sheila Dixon, também do Partido Democrata, que havia sido condenada em 2009 por fraude e corrupção.

Após a renúncia de Catherine, o presidente da Câmara Municipal de Baltimore está atuando como prefeito interino, mas disse que não quer ocupar o cargo de forma permanente. As próximas eleições acontecem em 2020, mas se a história é sinal de alguma coisa, a vitória já do Partido Democrata já está garantida.

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