A partir do século 10, o Natal se tornou uma festividade oficial no calendário da Rússia. Mil anos se passaram, e a população continua celebrando a data, uma das mais importantes para a igreja cristã ortodoxa. A liderança religiosa nunca migrou para o calendário gregoriano, utilizado no Ocidente, e por isso a festa acontece no dia 7 de janeiro. Entre os russos, portanto, o 25 de dezembro é um dia comum.
Por lá, a festa é tão importante que tem início na virada do ano, quando os fiéis são convidados a jejuar em preparação. À meia-noite do dia 6, é realizada uma celebração formal na Catedral de Cristo Salvador, em Moscou. Árvores de Natal grandiosas, ricamente decoradas, podem ser vistas nas casas e nas praças, uma tradição iniciada no século 19 por influência de Alexandra, esposa do czar Nicolau I. Foi nesta época que ganhou destaque também Ded Moroz, a versão russa para o Papai Noel, inspirada no folclore eslavo. Sob as árvores, são colocados presentes para as crianças, que acreditam que eles foram entregues por Snegurochka, neta de Ded Moroz.
As festividades foram interrompidas por decreto, em 1929. Antes mesmo, desde a revolução comunista iniciada em 1917, as árvores de Natal e o hábito de dar presentes já eram desencorajados como costumes burgueses decadentes. Insistir nas antigas tradições poderia incentivar os vizinhos a denunciar uma família como agentes contrarrevolucionária.
Mas, em 1935, o Partido Comunista realizou uma celebração de Ano Novo – em 31 de dezembro, já que o governo soviético havia aderido ao calendário ocidental. E instalou uma vasta árvore festiva no Conselho de Sindicatos, em Moscou.
Dessa forma, a tradição popular em torno do Natal foi ressignificada, e a festa de Réveillon se tornou uma das mais importantes da União Soviética. Sinal de que nem mesmo Josef Stalin conseguiu deter totalmente a tradição – ainda que as imagens de Jesus Cristo tenham sido eliminadas e as crianças crescessem agradecendo ao ditador pelos presentes recebidos (muitos deles feitos a mão pelas famílias sem acesso a compra de presentes). Nem mesmo a figura de Ded Moroz foi abandonada.
Ao longo das últimas décadas, outras ditaduras comunistas encontraram dificuldades semelhantes em suas tentativas de eliminar o Natal. Saiba o que aconteceu em sete países, três deles com regimes ditatoriais vigentes até hoje.
União Soviética
Duração da ditadura comunista: 1922-1991
Como era o Natal antes: Uma das festas mais importantes do calendário religioso russo, celebrada ao longo de uma semana, culminando com a celebração em 7 de janeiro.
Como ficou: Ao longo de toda a URSS, até mesmo estados que não tinham o hábito de festejar o Natal aos moldes ocidentais, com o Uzbequistão, foram obrigados a aderir às cerimônias comunistas em celebração ao fim do ano.
Polônia
Duração da ditadura comunista: 1948-1989
Como era o Natal antes: A profunda influência católica ficava evidente na data, marcada pela decoração com presépios e pelo compartilhamento de cartões com imagens da Sagrada Família.
Como ficou: O hábito de compartilhar cartões se manteve, mas as imagens foram substituídas por temas ligados ao imaginário comunista, com trabalhadores comuns retratados no lugar de Maria e José. Qualquer referência a temas cristãos foi completamente proibida durante a ditadura no país.
Romênia
Duração da ditadura comunista: 1948-1989
Como era o Natal antes: A partir do início do Advento, em novembro, os romenos seguiam um calendário festivo, com datas para decorar casas e ruas e preparar as ceias. As crianças cantavam músicas para os vizinhos, e as famílias faziam amigos secretos.
Como ficou: Durante as quatro décadas de regime comunista, os hábitos festivos em público foram reprimidos, especialmente as canções. Com o fim da ditadura, precisamente no Natal de 1989, as festas natalinas foram retomadas imediatamente, com ainda mais intensidade – e são realizadas no dia 25, porque a igreja local se ajustou ao calendário gregoriano.
Alemanha Oriental
Duração da ditadura comunista: 1949-1990
Como era o Natal antes: Papai Noel, decorações em tons vermelhos e verdes, troca de presentes na véspera e reuniões em família no dia 25 de dezembro. O Natal na Alemanha era celebrado seguindo os moldes tradicionais do Ocidente. Sob o nazismo, o país também manteve as tradições, apesar do esforço mal sucedido de Adolf Hitler de aproximar a festa de antigos rituais pagãos.
Como ficou: Poucos países do Leste Europeu comunista resistiram com tamanho sucesso às tentativas comunistas de transformar o Natal em uma festa civil – no caso, o governo local criou um “festival socialista pela paz”. Em geral, a população simplesmente ignorou a nova temática. Os marceneiros continuaram produzindo estátuas decorativas cristãs, como anjos e bebês recém-nascidos. E as famílias mantiveram suas tradições, ainda que apenas dentro de casa.
China
Duração da ditadura comunista: 1949-Atualidade
Como era o Natal antes: Por influência ocidental, a festa era celebrada, ainda que, para a maior parte da população, sem a conotação cristã – a religião sempre foi minoritária no país.
Como é: O cristianismo está banido da China, assim como qualquer festividade ligada a alguma religião. Mas, curiosamente, nos últimos anos o Natal se tornou uma data comercial, com árvores decoradas, Papai Noel (acompanhado de irmãs no lugar de duendes) e o hábito de trocar presentes entre amigos, que se reúnem para passear. Não é, portanto, um evento familiar. Os líderes do regime não participam nem incentivam essas celebrações, ainda que, em 2010, o ditador Xi Jinping tenha visitado a Vila do Papai Noel na Finlândia e se deixado fotografar ao lado de um Papai Noel.
Coreia do Norte
Duração da ditadura comunista: 1949-Atualidade
Como era o Natal antes: Assim como na China antes do comunismo, a Coreia antes da guerra e da divisão em dois países conhecia a celebração de Natal, como uma festa familiar e de apelo comercial, mesmo que sem conotações cristãs.
Como é: Depois de mais de 70 anos de proibição absoluta, este talvez seja o único país do mundo em que a população não conhece nenhum dos símbolos natalinos. Mas, no dia 24 de dezembro, o governo realiza um festival para celebrar o nascimento de Kim Jongsuk, a primeira esposa do primeiro ditador Kim Il-sung, além de mãe de Kim Jong-il e avó de Kim Jong-un.
Cuba
Duração da ditadura comunista: 1958-Atualidade
Como era o Natal antes: Assim como em toda a América Latina, o Natal sempre foi motivo de grandes festas em Cuba, com procissões religiosas, missas imponentes e grandes reuniões em família.
Como é: Fidel Castro nunca proibiu a existência da Igreja Católica em Cuba. Mas padres eram rotineiramente ameaçados. Além disso, declarar-se cristão era o suficiente para impedir o cidadão de se filiar ao Partido Comunista, o que significava perder o acesso a bons postos de trabalho. Mas, entre 1969 e 1998, a festividade de Natal foi proibida. Ela voltou a ser liberada em respeito à visita do Papa João Paulo II, naquele ano. Mas nunca recuperou o antigo brilho: as famílias assam porcos inteiros e recebem visitas; no entanto, a festa mais importante é a de Ano Novo – uma imposição da ditadura cubana seguindo os moldes soviéticos.