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Em 2017, Stephen Galloway falou da possibilidade de uma nova era de macarthismo em Hollywood. Num texto para o Hollywood Reporter, onde trabalhou como editor, Galloway comparava o tratamento dispensado aos conservadores na indústria cinematográfica aos nomes da famosa lista conhecida como “Os Dez de Hollywood” — a lista-negra dos dez profissionais, sobretudo roteiristas, que foram presos e ostracizados profissional e pessoalmente por se recusarem a mencionar nomes diante do Comitê de Atividades Antiamericanas do Congresso.
“Antes era o medo do comunismo; hoje é o medo de um inimigo amorfo ainda mais poderoso, justamente por ser invisível. Chame-o de “medo do medo”. Continua Galloway: “Numa impressionante mudança na história de Hollywood, antes os progressistas eram considerados uma espécie em extinção e agora são os conservadores”.
Galloway, que pertence ao alto escalão de Hollywood, toma todo o cuidado para localizar seu argumento em 2017, de modo a não alienar seus colegas. Seguindo a política progressista, ele se certifica de espalhar umas migalhas mencionando a possibilidade de muçulmanos serem alvos de perseguição em Hollywood por suas visões políticas e mencionado também o fim da Daca [Ação Diferida para Chegadas na Infância] (duas previsões que se revelaram equivocadas).
Mas Galloway previu corretamente que o macarthismo voltaria. Na verdade, a “impressionante mudança na história de Hollywood” está a todo vapor em 2020. A nova era do macarthismo não tem como alvo muçulmanos, imigrantes ilegais ou um “outro” nebuloso, nem do abstrato “medo do medo”. Seus alvos tampouco são simpatizantes Antifa ou CEO que fazem negócios com o Partido Comunista Chinês, possivelmente o maior violador dos direitos humanos no mundo.
O “outro”, neste caso, é o profissional que não se enquadra politicamente, por ceticismo ou princípios, na cultura progressista hollywoodiana. Essa cultura, claro, se alinha à ideologia “militante” radical defendida, por exemplo, por uma organização como a Black Lives Matter. De fora, isso não deveria surpreender ninguém, sobretudo os conservadores. Dentro do setor, contudo, a hostilidade cega e o dogmatismo deixam estupefatos executivos, produtores e outros profissionais de criação que antes tinham carreiras aparentemente seguras.
No dia 11 de julho, o Daily Mail publicou um texto descrevendo o mesmo fenômeno, citando observações de anônimos e histórias de pessoas que conhecem bem o setor. Um executivo disse: “Só estamos contratando negros, mulheres e LGBTs para escreverem, estrelarem, produzirem, operarem as câmeras e realizarem trabalhamos manuais. Se você é branco não pode se manifestar porque será imediatamente chamado de ‘racista’ ou condenado por seu ‘privilégio branco’”.
“A corda está esticada e todos estão paralisados, com medo de que qualquer coisa que se diga possa ser mal-interpretado, pondo fim à sua carreira”, continua o texto. “Há muito burburinho, mas publicamente todos estão desesperados por serem vistos como pessoas que promovem a diversidades, morrendo de medo de expressar o que realmente pensam. A situação está implodindo: um colapso total”.
Outra pessoa que conhece a indústria por dentro e que foi indicada a um Oscar disse: “Todos querem se enquadrar em todas as novas categorias a fim de serem contratados”. (NIPEC virou o acrônimo da moda em Hollywood: “negro, índio, pessoa de cor). “Os diretores normalmente podem opinar sobre seu projeto. Não mais. Só se fala de contratar NIPECs. E isso é ordem dos chefes dos estúdios, que sabem que seus empregos correm risco. Homens brancos de meia-idade são efeito colateral”.
Enquanto isso, cineastas de renome pregam práticas de contratação que discriminação – mas do jeito “certo”. A diretora de Selma, Ava DuVernay, escreveu no Twitter: “Todos têm direito a dar sua opinião. E nós, produtores negros com o poder de contratar, temos o direito de não contratarmos aqueles que nos ofendem”. Ela continua e diz: “Assim, mais os brancos nesta thread (...) se você não conseguiu aquele emprego, lembre-se (...) a discriminação pode ser de um lado ou do outro. Estamos em 2020”.
Jordan Peele, o direito e roteirista ganhador do Oscar, expressou seu sentimento com a mesma ousadia de DuVernay. “Não me vejo escalando um branco como protagonista de um filme. Não que eu não goste de brancos. Mas já vi esse filme antes”. Um executivo respondendo anonimamente à fala de Peele no Daily Mail rebateu: “Se um diretor branco dissesse isso sobre um ator negro, a carreira dele acabaria imediatamente”.
Como alguém que já passou muito tempo nos corredores de Hollywood, tenho a mesma impressão. Quase todos supõem que você é um militante. Se você não é, boa sorte. Para ter uma carreira você precisa fingir – e fingir bem. Ou então adotar uma ideologia de todo o coração. Dar um sinal qualquer, por menor que seja, de que você não faz parte da cultura progressista é como mergulhar numa banheira cheia de tubarões. Você não escapará ileso. Quando alguns dos meus “amigos” e colegas de profissão descobriram que eu tinha opiniões conservadoras, passaram a me ignorar. Um amigo disse que eu tinha cometido “suicídio social”.
Além dessa hostilidade direta, muitos em Hollywood simplesmente adotam a militância e seguem adiante. Eles farão ou dirão o que for preciso para ter contato com produtores, agentes, subcelebridades, mães solteiras do Sindicato dos Artistas – qualquer um que possa ajudá-los em suas carreiras.
Há alguns anos, uma colega minha foi estagiária na Weinstein Company sob o comando de Harvey. Um executivo lhe disse para ela jamais entrar na sala dele desacompanhada. As coisas eram assim; a “indústria” era simplesmente assim. Todos sabiam o que Harvey fazia com as mulheres. Mas ninguém fazia nada a respeito porque Harvey era poderoso e fazia bons filmes. Aquilo parecia um acordo que duraria até a morte de Harvey. Mas aí surgiu o movimento “Me Too” e a cultura hollywoodiana mudou de uma hora para outra.
Assim, talvez uma mudança semelhante possa ocorrer nessa nova era de macarthismo. Talvez haja profissionais o bastante que pensem que, na indústria criativa, a ação afirmativa radical e o racismo reverso possam criar ambientes de trabalho tóxicos, filmes ruins e arte de baixa qualidade. Talvez algum poderoso decida se posicionar contra isso. Os Dez de Hollywood — ainda que eu odeie a visão política deles — ao menos tinham coragem e se recusaram a mencionar nomes, sacrificando sua carreira por um bem maior. Outras pessoas bem que podiam agir da mesma forma.
Mas pode me chamar de cético. Afinal, o “negócio” ainda é assim, um negócio no qual princípios são sacrificados não só em troca de salários, mas também em troca de fotografias no tapete vermelho ao lado de homens tão odiosos quanto Harvey Weinstein.
John Loftus é assistente editorial na National Review.