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Como funciona a Parler, a rede social adotada por Bolsonaro e Trump

Parler
Parler: "uma comunidade para as pessoas debaterem o que quiserem" (Foto: Reprodução)

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Existem centenas de redes sociais na internet, mas a concorrência com os gigantes do ramo é muito difícil. Para cada Facebook, com seus 2,6 bilhões de usuários, existe uma Cyworld, uma espécie de MySpace popular na Coreia do Sul que alcançou 25 milhões antes de encerrar as atividades em outubro passado. O Twitter reina entre os microblogs, com 330 milhões de usuários.

Lançado em agosto 2018, a partir de um escritório na cidade de Henderson, no estado americano de Nevada, o Parler vem tentando encontrar seu lugar ao sol. E agora pode estar perto de conquistar uma fatia dos usuários de redes sociais. Nos últimos dias, com o presidente americano Donald Trump subindo o tom das ameaças contra o Twitter, que por sua vez vem marcando alguns de seus posts como imprecisos, a adesão ao Parler disparou, e o microblog começou a se tornar um ponto de encontro para conservadores.

A companhia americana informa que, em junho, participavam da rede 1,5 milhão de usuários, sendo que um terço desse total se instalou nas últimas semanas, resultado da recente adesão do presidente americano Donald Trump e de personalidades e políticos como Dan Bongino, Rudy Giuliani, Alex Jones e Ted Cruz. A empreendedora e porta-voz antifeminista britânica Katie Hopkins, cuja conta de Twitter foi terminantemente suspensa em 19 de junho, também migrou para o microblog.

O mesmo fez a ativista Laura Loomer, que se apresenta, no Parler, como “a pessoa mais banida do planeta” -- de fato, suas contas nas principais redes sociais, inclusive o Instagram, foram todas suspensas. No Parler, ela já tem mais de 570 mil seguidores.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro e os filhos também aderiram nos últimos dias, assim como o filósofo Olavo de Carvalho e o ex-ministro da educação Abraham Weintraub. Todas essas personalidades -- ou ao menos as que não foram excluídas das grandes redes sociais -- têm utilizado suas contas no Twitter e no Facebook para divulgar a nova rede. A Parler chegou a ocupar os trending topics do concorrente, enquanto o pico de acesso deixou o site fora do ar em diferentes momentos nas últimas semanas.

Plataforma sem filtros

“Não gosto da ideia de me apresentar como uma alternativa a outro microblog. Parler é uma plataforma social como todas deveriam ser: uma comunidade para as pessoas debaterem o que quiserem”, explicou o CEO, John Matze, em entrevista concedida à rede Fox News em maio de 2019. Na época, o site tinha 100 mil membros, incluindo Milo Yiannopoulos, permanentemente banido do Twitter em julho de 2016.

Formado em computação pela Universidade de Denver em 2014, Matze tem 27 anos, foi engenheiro de software da Amazon por três meses em 2017 e fundou a Parler em janeiro do ano seguinte. Desde o início o site se propôs a não submeter os posts a checagem de dados. A empresa assumiu o lema: “O que você pode falar nas ruas de Nova York, pode publicar no Parler”. A empresa tem hoje 30 funcionários e pretende gerar renda com posts patrocinados.

Só serão barradas, promete a empresa, mensagens que configurem crime. “Tudo o que fazemos, em qualquer ambiente físico ou digital, precisa seguir a Constituição”, ele afirmou na entrevista de 2019. “A premissa é: o que for contra a lei não é permitido”. Para que um post seja deletado, é necessário que outros usuários o denunciem -- o site não mantém equipes dedicadas a monitorar conteúdo, como acontece no concorrente.

Outra diferença é que apenas as pessoas que fizeram login têm acesso ao conteúdo, diferentemente do Twitter, que permite que pessoas não cadastradas naveguem pelos posts alheios. O cadastro no Parler é simples: exige um email e um número de celular, para o qual é enviado um código de verificação. E assim tem início a navegação, baseada em um layout bastante parecido com o do Twitter.

Para enviar mensagens privadas, é necessário apresentar uma foto e aguardar por uma checagem -- a proposta é evitar o uso de robôs. No lugar de “retuitar”, existe um botão de “eco”. É possível dar gorjetas para os posts de que os usuários gostem, e a página lista os assuntos mais comentados, da mesma forma como faz o Twitter.

Ao entrar no microblog, o usuário recebe uma lista de recomendações de perfis a seguir, geralmente páginas de parceiros, como o site de notícias e opiniões Breitbart News, a seção de opinião do jornal Washington Times e o jornal The Epoch Times, ligado ao grupo religioso Falun Gong. Depois, na medida em que navega, forma seu feed de posts de acordo com as pessoas, empresas e instituições que decide seguir. Já existem, por exemplos, diferentes perfis em apoio a Donald Trump.

Caminho árduo

Mas é possível superar o Twitter? O fato de a rede social ser voltada a um público específico não vai limitar o acesso e atrapalhar seu desempenho?

“É extremamente difícil construir um competidor para uma rede social bem instalada”, responde o cientista político Richard Hanania, professor do Saltzman Institute of War and Peace Studies, da Universidade Columbia. “Existe o efeito de rede, em que a página se torna mais valiosa na medida em que mais pessoas se juntam a ela. Para as empresas, por exemplo, existem vantagens massivas em permanecer nas redes bem estabelecidas”.

Por outro lado, diz ele, Donald Trump pode ser decisivo para o sucesso da Parler. “Se ele abandona o Twitter e passa a utilizar exclusivamente esse novo microblog, a mídia teria que se cadastrar, a fim de acompanhar as mensagens dele e das demais lideranças conservadoras”, diz o professor.

Para Richard Hanania, seria preciso que a imprensa também participasse ativamente da nova rede, a fim de ampliar a quantidade e a relevância dos seguidores. “É no Twitter que os conservadores podem interagir com os veículos de mídia, inclusive cobrando posições sobre reportagens e afirmações dúbias. Isso não vai acontecer no Parler se a página se mantiver apenas como um site onde conversadores conversam entre si”.

Caso as lideranças postem os mesmos conteúdos no Twitter e no Parler (como vem acontecendo por enquanto, inclusive no caso do presidente Jair Bolsonaro), a nova rede tende a encontrar dificuldades para emplacar. “Se a pessoa encontrar no Parler o que já tem no Twitter, ela não tem nenhum incentivo para usar as duas redes”, afirma o professor Hanania, “e tende a permanecer naquela onde já tem conta há mais tempo”.

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