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Como Nicolás Maduro foi de motorista de ônibus a ditador da Venezuela

Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro: político não terminou os estudos e foi motorista de ônibus antes de ser eleito  | MIRAFLORES/
ESTADÃO CONTEÚDO
Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro: político não terminou os estudos e foi motorista de ônibus antes de ser eleito  (Foto: MIRAFLORES/ ESTADÃO CONTEÚDO)

O presidente venezuelano Nicolás Maduro tem passado por uma série de intempéries ultimamente. 

Há alguns meses, os aliados dele na Suprema Corte tentaram dissolver o Poder Legislativo do país, controlado pela oposição. Isso resultou em uma rápida reviravolta, com milhares de venezuelanos participando em imensos protestos. Nos últimos meses, mais de 120 pessoas foram mortas. E agora, Maduro deu poderes a uma grande assembleia para reescrever a Constituição do país. Os líderes de oposição se preocupam que este organismo substitua efetivamente a legislatura do país e permita que Maduro reprima a dissidência. 

Esta força de poder levou à condenação internacional e uma ameaça de massivas sanções por parte dos Estados Unidos. Parte da comunidade internacional já considera o venezuelano um ditador. É o caso do presidente Donald Trump, que disse recentemente que Maduro se juntou a um “clube exclusivo” de ditadores. Como este ex-motorista de ônibus se tornou um dos líderes mais criticados no mundo? 

Grêmio estudantil

Maduro iniciou sua vida política como presidente do grêmio estudantil em sua escola local. Ele nunca terminou os estudos, mas o filho de dois esquerdistas deixou uma forte impressão nos colegas. 

“Ele se dirigia a nós durante as assembleias para falar dos direitos dos estudantes e esse tipo de coisas. Ele não falava muito e não conclamava as pessoas para partirem para a ação, mas o que ele dizia normalmente era muito forte”, disse ao jornal britânico The Guardian Grisel Rojas, uma antiga colega que é agora a diretora da escola onde estudaram. 

Após um breve flerte com o rock, Maduro tornou-se motorista de ônibus em Caracas, capital da Venezuela. Junto de seu pai, ele organizou uma associação local. Também foi ativo no MBR-200, a ala civil do movimento militar de Hugo Chávez. Ele fez campanhas com frequência para a libertação de Chávez da prisão. 

Uma vez que Chávez foi solto, Maduro juntou-se à operação política de Chávez, ajudando a reescrever a Constituição de 1999 e juntando-se à Assembleia Nacional. Quando Chávez tornou-se presidente, nomeou Maduro ministro de Relações Exteriores. Naquele cargo, ele focou nos Estados Unidos, comparando a prisão da baía de Guantánamo ao Holocausto. 

Quando Chávez estava severamente adoecido em virtude do câncer, ele bradou para que a Venezuela elegesse Maduro, um homem que ele descreveu como “um completo revolucionário, um homem de grande experiência apesar de sua juventude, com grande dedicação e capacidade de trabalhar, de liderar e de lidar com as mais difíceis situações”. 

Campanha

Maduro fez, assim, sua campanha como protegido de Chávez. Em televisão nacional, contou como o presidente veio a ele do túmulo na forma de uma canção de um pássaro. “De repente, um passarinho fez três círculos em volta de mim, parou em uma viga de madeira e começou a cantar uma bela canção”, disse Maduro. “Então, eu também comecei a assobiar”, ele disse, assobiando como um pássaro enquanto falava.

“O passarinho me olhou de um jeito estranho. Ele cantou, fez mais uma volta em mim e voou para longe. E eu senti seu espírito. Eu senti ele nos dando sua bênção, dizendo que a batalha começava agora, para ir à vitória”. 

Maduro concorreu em uma plataforma socialista, dizendo que era ele ou as oligarquias. Ele foi eleito por pouco em abril de 2013, com uma margem de 1,5% a mais que o oponente mais votado. 

Desde aquela dura vitória, Maduro tem tentado se guiar a partir de seu predecessor. Como jornalistas já reportaram: “Maduro frequentemente se veste como Chávez, fala como Chávez e até mesmo disse aos venezuelanos que ele já dormiu no túmulo de Chávez. Os eventos de aniversário da quarta-feira darão a ele a chance de lembrar aos leais ‘chavistas’ que ele é o escolhido do comandante. “Chávez estabelece a rota, Maduro assume a direção”, dizia o slogan da campanha de quando ele concorreu, trazendo o seu passado de motorista de ônibus”. 

Ele também imitou a conversa dura de Chávez com seus inimigos, imediatamente expulsando diplomatas americanos e acusando “inimigos históricos” de envenenarem Chávez. 

Falta de carisma

Em contrapartida, falta em Maduro o chavismo de Chávez. 

“Enquanto Chávez era um líder muito carismático capaz de manter uma coesão entre vários grupos dentro da estrutura governamental, Maduro não possui esta habilidade e nem o dinheiro que Chávez tinha porque o preço do petróleo despencou”, disse Taraciuk Broner à NBC. 

“Ele não tem fundos para manter todos os programas sociais que Chávez implementou”. 

Maduro tem tido que lidar com uma crise econômica que Chávez não teve de enfrentar. A economia do país, fortemente dependente da produção petroleira, começou a esmorecer, e então iniciou uma constante queda assim que os preços do petróleo bruto despencaram. Durante os quatro anos de Maduro no cargo, a economia do país diminuiu 23%. As pessoas estão passando fome e o governo venezuelano não consegue os alimentos e medicamentos que a população necessita. Por volta de três quartos dos cidadãos do país perderam peso no último ano. E com altos níveis de desespero, o crime aumentou. 

A crise econômica transformou-se em protestos e uma crise política que tem sido exacerbada por Maduro. Ele reprimiu os opositores, prendendo líderes de oposição e acusando-os de “conspiração”. Ele censurou coberturas de notícias não favoráveispermitiu que seus guardas agredissem ativistas nas ruas, gerando cenas sangrentas que são mostradas na televisão. Falta a Maduro o dom com a linguagem de Chávez, ao invés de reprimir os “fascistas” na rua em seus discursos noturnos. Até mesmo sua propaganda tem sofrido – Maduro foi severamente zombado após ir a um programa de televisão e cantar uma canção pela unidade venezuelana. 

Como resultado, a oposição do país, longamente ridicularizada por ser fraca e desorganizada, tem crescido fortemente. Até mesmo membros da classe trabalhadora favoráveis a Maduro começaram a se questionar sobre a capacidade do líder para manter-se no cargo. No ano passado, uma pesquisa mostrou que a taxa de aprovação de Maduro estava em torno de 20%. A revista Time o chamou de “o líder político mais sitiado do mundo”.

Tradução de Maíra Santos

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