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Se você pretende entender o ser humano ou a condição humana, qual a pergunta mais importante que você deve fazer?
A maioria das pessoas religiosas perguntaria: “Você acredita em Deus?”
A pergunta mais importante que as pessoas sem religião, sobretudo os progressistas, fariam é provavelmente uma pergunta política.
Hoje seria algo como “Você apoia Donald Trump?”. Ou então “Você apoia o direito ao aborto?” ou “Você apoia o casamento entre pessoas do mesmo sexo?”.
Por mais importantes que sejam essas perguntas, numa tentativa de compreender os seres humanos, sobretudo em grandes grupos, isto é, a sociedade, a pergunta mais relevante a ser feita é: “O que dá mais sentido à sua vida?”.
A resposta não explica tudo, claro, mas a pergunta expõe a condição humana melhor do que qualquer outra.
O motivo é que, para além da alimentação, não há nada que os seres humanos mais desejem do que um sentido para a vida. Mais até do que a capacidade de pensar e falar, isso é o que separa os homens dos animais.
Compartilhamos várias necessidades com espécies animais mais ou menos evoluídas. Assim como elas, precisamos de comida, abrigo e companhia. Mas os seres humanos buscam e precisam de um sentido na vida mais do que de qualquer outra coisa, exceto comida (e companhia – mas, para os seres humanos, a companhia geralmente lhes dá algum sentido na vida, o que muitas vezes basta), enquanto nenhum outro animal busca e precisa disso.
Por sinal, este é um dos motivos para eu acreditar em Deus, o Criador. Não há explicação evolutiva para a necessidade de um sentido na vida. O sentido da vida não é uma necessidade biológica.
Considerando a importância disso, é por isso que "o que nos dá sentido?" deve ser considerada a pergunta mais importante a ser feita.
Qualidade moral inerente
O problema é que, assim como a necessidade de alimentos não contém em si nenhuma qualidade moral inerente, a necessidade por um sentido na vida tampouco contém qualquer qualidade moral inerente. O sentido na vida pode ser encontrado no mal tanto quanto no bem.
O nazismo deu sentido à vida de milhões de alemães assim como a ajuda aos moribundos deu sentido às pessoas de Calcutá graças à Madre Teresa. O assassinato de infiéis dá sentido aos terroristas islâmicos assim como dar comida aos pobres dá sentido aos que trabalham para o Exército da Salvação. Matar os judeus “assassinos de Cristo” dava a alguns cristãos medievais sentido na vida, assim como ter salvado judeus deu sentido à vida de alguns cristãos europeus durante o Holocausto.
Para muitos norte-americanos até a última geração, essa necessidade de um sentido na vida era satisfeita pela família, religião, comunidade e patriotismo (isto é, o amor aos Estados Unidos e a crença no país como Abraham Lincoln o descreveu: “a última maior esperança da Terra”.
Todas ou praticamente todas essas fontes de sentido se perderam. Na verdade, à geração atual de norte-americanos restam poucas ou nenhuma dessas fontes.
Quanto à família, os norte-americanos estão se casando mais tarde do que nunca. Eles nunca se casaram tão pouco. E poucos deles têm filhos.
Quanto à religião, mais de 30% dos millennials — a maior porcentagem de qualquer geração na história dos EUA — não se identificam com nenhuma religião.
Quanto à comunidade, muitos norte-americanos – de todas as idades – perderam seus laços comunitários.
Esse é um dos principais motivos para a epidemia de solidão que aflige tantos norte-americanos (e outros povos) atualmente.
Epidemia de solidão
O New York Times informou em 2018 que, no Reino Unido, “mais de 9 milhões de pessoas se sentem solitários sempre ou com frequência, de acordo com um relatório de 2017 publicado pela Jo Cox Commission on Loneliness”.
A então primeira ministra Theresa May chegou a nomear um ministro da solidão.
Quanto aos Estados Unidos, no que acreditar? Há mais de uma geração os jovens são ensinados a desprezar este país. Seu passado é essencialmente racista, genocida e imperialista. Que se dane o patriotismo.
Então o que dará sentido à vida dos norte-americanos que perderam tudo ou boa parte das coisas mencionadas? Algo tem de lhes dar sentido, porque a necessidade de sentido está imbuída e tão universal quanto a necessidade de comida.
A resposta é óbvia: seja lá o que for, isso tem de dar sentido à vida sem que se dependa da família, comunidade, religião ou patriotismo.
E o que é isso? O esquerdismo.
O esquerdismo (e não todo o liberalismo, que ressalta todas as fontes tradicionais de sentido na vida) consiste de fontes de sentido que substituem a comunidade, religião, o país e até a família (mães solteiras são um grande público-alvo da esquerda).
“Ameaça à existência”
Para os esquerdistas, o feminismo, ambientalismo, socialismo e transgenerismo dão sentido à vida. O sentido da vida dado pelo esquerdismo está evidente no uso constante da expressa “ameaça à existência”.
O presidente Donald Trump “representa uma ameaça à existência dos Estados Unidos”, escreveu o esquerdista Frank Rich na edição mais recente da New York Magazine. “Em evento de campanha, Bloomberg diz que Trump é ‘uma ameaça à existência’”, dizia a manchete da ABC News há dois meses. Uma manchete da revista Mother Jones de duas semanas atrás dizia: “Trump é uma ‘ameaça à existência’: Ilana Glazer, Eric Holder e 2020”.
Em julho, lia-se na manchete do site ThinkProgress: “A ameaça à existência do mundo que Trump representa à ordem política mundial é um tema da campanha de 2020”. O Sioux City Journal da semana passada dizia: “Biden: ‘Trump representa uma ameaça à existência do futuro do nosso país’”.
Lutar contra o presidente Donald Trump significa lutar pela própria existência da ordem mundial e pela democracia nos Estados Unidos. O que poderia dar mais sentido à vida dos sem-sentido?
Bom, e há mais: a luta pela própria existência do mundo. Essa é a pulsão por trás da obsessão esquerdista quanto ao aquecimento global.
“O mundo vai acabar daqui a 12 anos se não tratarmos das mudanças climáticas”, diz a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, disse recentemente na CNN que a “crise do clima” é “uma ameaça à existência do planeta”.
Há tantas referências aos combustíveis fósseis como ameaças à existência na Terra quanto esquerdistas (e muitos liberais que temem a esquerda).
A prova de que a suposta salvação da democracia e do mundo não passa de uma fonte de sentido para a vida do esquerdista é que as únicas comunidades que não acreditam nisso são aquelas que continuam a ter as tradicionais fontes de sentido na vida. Não precisamos de substitutos à esquerda.
Dennis Prager é colunista do Daily Signal, radialista e criador da PragerU.