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Como o governo Obama colocou o Big nas Techs

Big Techs doaram muito dinheiro para as campanhas democratas e tiveram vida fácil durante a administração Barack Obama (Foto: Maicon J. Gomes/Gazeta do Povo)

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No início de 2009, enquanto Barack Obama assumia a presidência dos Estados Unidos, o Facebook tinha 197 milhões de usuários. Em janeiro de 2017, quando ele deixou o posto, já eram 1,9 bilhão — agora são 2,7 bilhões.

Neste mesmo período, o valor de mercado do Google saltou de US$ 213 bilhões para US$ 574 bilhões. Atualmente, está na ordem de US$ 1 trilhão. Se fosse um país, a empresa dona da marca, a Alphabet, estaria no 17º lugar na lista de países do mundo de acordo com o Produto Interno Bruto nominal, acima de nações como Países Baixos e Suíça e quase o dobro da Argentina.

As outras empresas que formam o grupo das chamadas Big Techs também estão bem posicionadas. A Apple, cujo valor de mercado é US$ 1,58 trilhão, mantém no mundo 1,5 bilhão de aparelhos ativos, enquanto que a Microsoft, que vale US$ 1,56 trilhão, controla 77,44% do mercado de sistemas operacionais para computadores, e a Amazon, que em 2020 alcançou US$ 1,44 trilhão de valor de mercado, emprega mais de 570 mil pessoas, o equivalente à população de Londrina.

A década que se passou foi generosa com essas empresas. Seu crescimento aconteceu, em grande parte, nos oito anos da gestão Obama. Não foi por acaso: o presidente deu grande apoio para as empresas do setor.

Medidas favoráveis

Em 2016, quando a administração Obama anunciou o apoio à proposta da Comissão Federal de Comunicações para abrir o mercado de decodificadores de TV a cabo, o lobista-chefe da AT&T, Jim Cicconi, reagiu ironizando a intervenção: chamou-a de "proposta Google".

“Ao longo dos últimos sete anos, o Google criou uma parceria notável com a Casa Branca de Obama, providenciando serviços, consultoria e pessoal para projetos vitais do governo”, afirmou, em 2016, o jornalista e analista David Dayen, autor de Monopolized: Life in the Age of Corporate Power. “O Google não apenas fez lobby em busca de favores, como também colaborou com membros do governo, servindo, na prática, como uma extensão corporativa das operações do governo na era digital”.

Entre as ações da empresa na era Obama estão a expansão do acesso a internet em Cuba, a colaboração com o governo para levar a internet de fibra do Google para edifícios públicos e a liberação para que a equipe da companhia produzisse imagens em 360 graus do interior da Casa Branca. Entre 2009 e 2015, 250 funcionários do Google trabalharam em projetos do governo americano, um movimento expressivo para uma corporação que, segundo Dayen, “antes não parecia interessada em colaborar com entidades governamentais”.

Como já declarou Jeff Chester, o diretor executivo do Center for Digital Democracy, a administração “o Google vem conseguindo escapar do escrutínio regulatório em termos de práticas contra a competição comercial, e tem desempenhado um papel crucial em garantir que os Estados Unidos não protejam a privacidade de seus cidadãos”.

Em troca, funcionários de 12 das 15 agências governamentais federais haviam conseguindo emprego no Google ou em alguma das empresas do grupo. “A administração Obama não deu atenção suficiente para as big techs enquanto elas cresciam rapidamente. Agora temos que lidar com esses monstros, esses gigantes”, já declarou a jornalista especializada em tecnologia Kara Swisher.

Doações generosas

O governo americano tem um histórico de desmembrar empresas que se tornam monopólios. Em 1998, a Microsoft foi processada, por acusação de realizar ações que visam eliminar a concorrência de forma desleal. Em 2002, a companhia firmou, com o Departamento de Estado, um acordo antitruste, mas as investigações prosseguiram. O processo foi encerrado em 2011, com vitória da Microsoft. Entre as acusações, estava a de forçar a incompatibilidade entre o sistema operacional da companhia com softwares produzidos por concorrentes.

Neste momento, Apple, Facebook, Alphabet e Amazon também são alvos de ações que pedem que essas companhias sejam separadas em várias, a fim de evitar os monopólios. Não há perspectiva de que algum desses processos seja bem sucedido, ainda que o Congresso tenha convocado os CEOs de várias dessas grandes companhias para depor.

O presidente eleito Joe Biden se declara crítico do poder excessivo das big techs. Ainda assim, a revista Wired descobriu que empregados de Alphabet, Amazon, Apple, Facebook, Microsoft e Oracle doaram 20 vezes mais dinheiro para a campanha de Biden, na comparação com a de Trump. Segundo o Center for Responsive Politics, os colaboradores de empresas de internet dedicaram 98% de suas contribuições para Biden em 2020.

O CEO do Google, Eric Schmidt, doou US$ 6 milhões, enquanto que o cofundador do Facebook Dustin Moskovitz liberou US$ 24 milhões. As empresas de tecnologia também ofereceram colaborações muito maiores para Hillary Clinton, a candidata democrata em 2016, do que para do então candidato republicano. Para a campanha de reeleição de Barack Obama, em 2012, os funcionários da Microsoft doaram US$ 815 mil e os do Google, outros US$ 804 mil.

Além disso, a equipe de transição do democrata conta com figuras expressivas do Vale do Silício. Sinal de que, apesar dos comentários públicos, os próximos anos prometem ser ainda mais generosos com as big techs.

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