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Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de fundos do mundo, a quem ESG deve sua popularidade
Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de fundos do mundo, a quem ESG deve sua popularidade| Foto: EFE/EPA/HOLLIE ADAMS

A recente exclusão da Tesla do índice ESG (do inglês Environmental, Social and Corporate Governance, uma espécie de selo de melhores práticas ambientais, sociais e de governança) engrossa o coro de vozes que acusam a certificação de ser um meio de impor a ideologia woke às empresas.

“ESG é uma farsa. Tem sido usado como arma por falsos guerreiros da justiça social", reagiu Elon Musk, pelo Twitter, em 18 de maio, sobre a notícia de que a S&P Dow Jones excluiu a montadora de carros elétricos de seu índice S&P 500 ESG Index (projetado para medir o desempenho de títulos que atendam a critérios de sustentabilidade).

"(A petrolífera) Exxon está colocada entre as dez melhores do mundo em meio ambiente, social e governança (ESG) pela S&P 500, enquanto a Tesla não faz parte da lista!”, ironizou o bilionário.

No começo de abril, antes da exclusão da Tesla, Musk já havia protestado, também por meio de um tuíte: “Estou cada vez mais convencido de que o ESG corporativo é o diabo encarnado”.

BlackRock e a pressão pelo ESG 

Quase um imperativo para empresas que desejam se destacar no mercado, o ESG deve muito (senão tudo) de sua popularidade a Larry Fink, presidente e CEO da BlackRock, maior gestora de fundos do mundo (são mais de R$ 44 trilhões em ativos sob sua gestão, cinco vezes o PIB do Brasil em 2021, que foi de R$ 8,7 trilhões).

“Fink aproveita esse imenso poder para obrigar as empresas nas quais a BlackRock investe a cumprir uma agenda agressiva de mudança climática e diversidade em suas operações”, afirma Richard M. Reinsch II, membro sênior da Heritage Foundation (instituição de pesquisa e ensino que tem como missão construir e promover políticas públicas conservadoras).

Em 2020, em sua tradicional carta anual aos CEOs, Larry Fink afirmou que a sustentabilidade passaria a ser critério de investimento e que as empresas que não se adequassem acabariam ficando sem capital. No documento do ano seguinte, ele reforçou que “estamos em uma encruzilhada histórica no caminho da justiça racial – uma encruzilhada que não pode ser resolvida sem a liderança das empresas”.

“Ao emitir relatórios de sustentabilidade, pedimos que suas divulgações sobre a estratégia de talentos reflitam totalmente seus planos de longo prazo para melhorar a diversidade, a equidade e a inclusão, conforme apropriado por região”, orientou.

Um dos pontos controversos dessas medidas, na opinião dos críticos, é que os requisitos ESG são caros para as empresas e podem levar a desvantagens competitivas. Ou seja, hoje para uma empresa ser considerada atrativa a investidores levam-se mais em conta pautas da militância esquerdista (como a existência de um plano de ações sustentáveis e a diversidade nos seus quadros de gestão), por exemplo, do que os retornos financeiros que a companhia garante a seus acionistas.

“O ESG, portanto, se tornou uma força motriz muito perniciosa nos negócios americanos, que está levando as empresas a adotar valores políticos em detrimento dos valores tradicionais de negócios”, opina o escritor Stephen R. Soukup, autor do livro “The Dictatorship of Woke Capital: How Political Correctness Captured Big Business” (“A Ditadura do Woke Capital: Como o Politicamente Correto se Apropriou das Grandes Corporações”, em tradução livre), ainda sem edição no Brasil.

Nesta semana, o senador Republicano Ted Cruz, do Texas,  teceu pesadas críticas ao CEO da BlackRock, em entrevista à CNBC, pelas chamadas “decisões ‘woke’ de investimentos”. Segundo Cruz, gestores de investimentos deveriam ser proibidos de votar em nome de investidores “para promover seus próprios interesses políticos".

“Isso não é capitalismo, isso é abusar do mercado", disse o senador. "O que Larry Fink está fazendo é pegar suas ações e minhas ações e [aquelas de] milhões de velhinhas que investiram em fundos, e ele está agregando essa grande quantidade de capital e decidiu votar não para maximizar seus retornos, porque aparentemente, seu dever fiduciário para com os clientes não é uma prioridade. Em vez disso, ele está votando em sua política", completou.

Cruz afirmou que Fink "decidiu que é mais bem-vindo no 'New York Country Club' quando entra e se posiciona contra o petróleo e o gás, mesmo que isso reduza os retornos das contas que ele administra”. “Há uma sobretaxa Larry Fink, toda vez que você enche seu tanque, você pode agradecer a Larry pela pressão ESG maciça e inadequada”, criticou.

Escrevendo aos CEOs no início deste ano, Fink justificou que “capitalismo das partes interessadas [conceito que defende que a geração de valor de uma empresa vai além do retorno acionário, mas deve levar em conta seu impacto a todos os envolvidos, como funcionários, fornecedores, consumidores, governo, etc.] não é sobre política”. “Não é uma agenda social ou ideológica. Não é ‘woke’. É o capitalismo, impulsionado por relacionamentos mutuamente benéficos entre você e os funcionários, clientes, fornecedores e comunidades de que sua empresa depende para prosperar. Este é o poder do capitalismo”, defendeu.

Foco no social x relações com a China 

Dentre as 308 companhias integrantes do S&P 500 ESG Index, aparecem nomes como Apple, com o maior índice (9,657%), Microsoft (8,409%), Amazon (4,297%) e a Exxon, com peso 1,443%. A Apple e seu CEO, Tim Cook, aliás, são apontados como queridinhos da onda ESG por Stephen R. Soukup. “Nenhuma questão de justiça social ocorre neste país [Estados Unidos] sem que Tim Cook sinta que precisa se envolver, escrever um artigo, fazer uma declaração ou usar parte do dinheiro da empresa para tentar chamar atenção para o problema”, afirma o escritor.

Paradoxalmente, nas duas últimas décadas, a Big Tech tem investido na China - cujo desrespeito aos direitos humanos e liberdades individuais é evidente -, e Cook é considerado um aliado por Pequim.

Paladino da política identitária, Larry Fink, com sua BlackRock, também mantém “extensas operações na China”, pontua Richard Reinsch.  “[...] inclusive sendo convidada pelo Partido Comunista Chinês para ser a primeira empresa estrangeira a vender investimentos em fundos mútuos para investidores chineses.”

Reinsch recorda que a BlackRock tem participação acionária nas empresas chinesas iFlytek e Hikvision, ambas colocadas na lista negra pelo governo dos Estados Unidos por participarem de abusos de direitos humanos contra muçulmanos uigures em Xinjiang. “A BlackRock investiu em ambas e aumentou suas participações na Hikvision após a lista negra.”

Tesla 

Se o índice está longe de ser um consenso entre agentes de investimento e executivos, o caso da Tesla deixa claro que ser sustentável não basta para integrá-lo. Isso porque o objetivo das pontuações, segundo a S&P, é mostrar o risco que as ações de uma corporação enfrentam devido a fatores ESG.

O que está em jogo, portanto, não é o impacto da atividade de uma empresa nas mudanças climáticas, mas as medidas de mitigação de risco que ela consegue mostrar ao mercado. Isso explicaria uma petrolífera, como a Exxon Corp, integrar o índice e uma fabricante de carros elétricos, como a Tesla, não.

À Gazeta do Povo, a S&P Dow Jones Indices disse que não comentaria o tweet de Musk. A companhia frisou que o índice ESG “é regido e mantido por um comitê de índice analiticamente independente, baseado na aplicação de uma metodologia publicamente disponível, transparente e baseada em regras”.

A diretora sênior da S&P, Margaret Dorn, destacou que o grupo de automóveis e componentes, em que a Tesla é avaliada, registrou um aumento geral em sua pontuação média nesta edição. “Portanto, embora a pontuação S&P DJI ESG da Tesla tenha permanecido bastante estável ano a ano, ela foi empurrada ainda mais para baixo na classificação em relação aos seus pares globais do setor”, justificou.

Entre os critérios que levaram a Tesla a ser excluída do ESG estão “estratégia de baixo carbono” (a avaliação leva em conta a exposição do portfólio atual a riscos regulatórios) e “códigos de conduta empresarial”. Ainda que seus carros elétricos contribuam para a redução das emissões de carbono, a montadora perdeu pontos em decorrência de “alegações de discriminação racial e más condições de trabalho na fábrica da Tesla em Fremont (cidade da Califórnia)” e do tratamento dado a uma investigação governamental “depois que várias mortes e lesões foram vinculadas a seus veículos de piloto automático”.

“Embora Tesla e outros possam não ter sido incluídos no índice este ano, a beleza do reequilíbrio anual é que eles mais uma vez terão a oportunidade de serem revisados ​​para inclusão nos próximos anos”, acrescentou Margaret Dorn.

Ainda não é possível mensurar o impacto da exclusão do índice S&P ESG nas ações da Tesla, uma vez que os títulos já vinham caindo desde o início de abril, em meio às incertezas da compra do Twitter por Elon Musk e do temor de que o lockdown chinês atrapalhe a produção de veículos.

Tanto a S&P quanto a MSCI (outra fornecedora de índices para o mercado, que ainda mantinha a Tesla em seu ESG) não quiseram detalhar a pontuação ESG da empresa de Musk. A agência de notícias Reuters teve acesso a uma cópia de 3 de maio, enviada a investidores, mostrando que questões sociais ofuscaram as credenciais verdes da montadora.

Em quesitos ambientais, enquanto a indústria atingiu a média de 6,5, a Tesla alcançou 9,1 (o máximo é 10), o que representou 30% de sua pontuação ESG. Em governança, a empresa obteve 5,1 contra a média de 3,2. Já em questões sociais, em que a média era de 3,5, a nota foi 1,4.

"A coisa toda é muito subjetiva", opinou o diretor de investimentos da Toscafund Hong Kong, Mark Tinker, em entrevista à Reuters. Ele aponta que aspectos de governança corporativa e social estão sendo usados "para cancelamentos por motivos políticos" e que a contribuição de uma empresa para o meio ambiente pode "significar o que você quer que seja".

A Gazeta do Povo entrou em contato com a BlackRock e a Tesla, mas não obteve retorno.

Autoridades de Utah criticam ESG 

Em 21 de abril, as principais autoridades eleitas de Utah, nos Estados Unidos, incluindo o governador Spencer Cox, escreveram uma carta à presidência da S&P Global Ratings questionando o uso de fatores ESG como “indicadores de crédito”. “Considerando os recentes eventos globais, a atual situação econômica nos EUA e a falta de confiabilidade e a natureza inerentemente política dos fatores ESG nas decisões de investimento, vemos esse novo foco em ESG como politizando o processo de classificação. É profundamente contraproducente, enganoso, potencialmente prejudicial para as entidades classificadas e possivelmente ilegal”, diz o documento, assinado por políticos republicanos.

Um dos signatários da carta, o tesoureiro de Utah, Marlo M. Oaks, disse que o ESG é uma forma de “ controlar e forçar comportamentos”. “Ela tenta fazer por meio dos mercados de capitais o que ativistas e seus aliados governamentais não conseguiram fazer por meio de processos democráticos. É uma pontuação política que, intencionalmente ou não, pode fazer com que os participantes do mercado usem a força econômica para impulsionar uma agenda política”, declarou, por meio de comunicado.

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