Em um dia de fevereiro de 1939, policiais da cidade de Nova York se reuniram em torno do Madison Square Garden para proteger os 20 mil fascistas que estavam dentro deste e os 100 mil manifestantes que se reuniam ao redor.
Não haveria uma presença policial maior na cidade até o 11 de setembro. De acordo com o historiador Arnie Bernstein, “os policiais disseram que tinham homens suficientes para parar uma revolução”.
Os simpatizantes do Nazismo no local, que estavam lá para ver a organização fascista German-American Bund (GAB), não teriam se importado em iniciar uma revolta. Afinal de contas, em suas mentes, o homem do momento – esta era a celebração do aniversário de George Washington pela organização Bund – havia ajudado a iniciar uma revolução como o “Primeiro Americano Fascista”.
Fora, assim como em Charlottesville, manifestantes indignados criticavam o ódio. “Eles eram como nós vimos em Charlottesville, uma variedade de americanos”, disse Bernstein.
“Jovens, velhos, negros, brancos, judeus, não-judeus, pessoas de todos os grupos políticos, incluindo trotskistas e outros personagens marginais bem como grupos mais convencionais. Era uma situação massiva e alguns seguidores da Bund levaram socos enquanto saíam. A maioria tentou esconder sua identificação como um membro da GAB”.
A Bund e seu fascismo americano tóxico estão massivamente esquecidos agora. Mas eles foram importantes personagens nos Estados Unidos de seu tempo, diz Bernstein, autor do livro de 2013, Swastika Nation: Fritz Kuhn and the Rise and Fall of the German-American Bund (A Nação da Suástica: Fritz Kuhn e a ascenção e queda da German-American Bund, sem edição em português).
Em uma entrevista, Bernstein fala sobre as raízes do movimento fascista americano, seus paralelos com a atualidade e porque os americanos não devem se desesperar.
A German-American Bund nasceu de outras várias facções e grupos que se formaram durante o pós-Guerra dos anos 20, quando imigrantes alemães e descendentes destes de gerações anteriores sofriam com muito preconceito nos Estados Unidos.
Esses grupos voltaram seus olhos para a pátria-mãe, para a ascensão de Hitler e do Nacional Socialismo em busca de inspiração. Eles adotaram uniformes que se assemelhavam aos utilizados pela SS (polícia Nazista) e aos camisas pardas, criaram retiros familiares onde eles poderiam se casar com aqueles que consideravam ideais para si, pessoas que pensavam da mesma forma que eles, passaram a imprimir seu próprio jornal, organizaram desfiles e outras atividades.
A Bund era liderada por Fritz Kuhn, que se intitulava “o Bundesführer”, fazendo uma analogia como a nomeação utilizada para Hitler, o Führer. Kuhn era um imigrante alemão e profundamente leal a Hitler.
É impossível dizer considerando que eles eram muito reservados e também eram péssimos em registrar coisas. É estimado que eles tivessem entre 15 e 20 mil membros oficiais. Esses números não incluem não-membros que eram simpáticos à organização e sua missão e podem ter fornecido algum tipo de fundo para a organização.
Mas é importante perceber que a vasta maioria dos teuto-americanos não apoiava a Bund.
Sim, mas um muito barulhento e sem rodeios. Americanos de costa a costa sabiam o que a Bund era o que eles pretendiam. Fritz Kuhn, que tinha um senso de importância muito inflado e um ego enorme, adorava aparecer para a mídia.
Políticos lutaram. Os principais personagens foram Fiorello LaGuardia, prefeito de Nova York, e seu Procurador Geral, Thomas Dewey, que se tornou mais tarde governador de Nova York e concorreu à presidência.
Eles não conseguiam acusar a Bund de algo a partir do que eles estavam dizendo porque você tem o direito de ser ofensivo e desagradável neste país. Mas eles descobriram que Kuhn estava desviando fundos dos cofres da Bund para financiar seus romances extraconjugais. Ele acabou indo para a prisão por acusações de fraude.
As pessoas que perseguiram a Bund eram um grupo feroz e com grandes disparidades. O FBI foi muito duro: há quase 3 mil páginas de arquivos do FBI sobre Kuhn e a Bund.
O colunista proeminente Walter Winchell perseguiu eles em sua coluna e em seu programa de rádio. Na verdade, ele foi um dos primeiros a atacar eles. Ele destruiu Kuhn com uma variedade de nomes, sátira e humor negro.
Kuhn odiava Winchell e disse que quando a Bund assumisse o poder ele seria pendurado do poste de luz mais alto na frente de seu amado point em Nova York, o Stork Club.
Em um caso notório, um grupo de membros da Jewish VFW (organização que reunia os veteranos judeus veteranos de guerras) se infiltrou no salão de reuniões da Bund e no momento planejado, interromperam a reunião e iniciaram um conflito. A briga acabou indo para a rua e os policiais tiveram que chamar reforços.
Em outro caso, os membros da GAB queriam construir um retiro familiar em Southbury, no estado de Connecticut.
O conselho municipal disse: não na nossa cidade. Eles modificaram leis de zoneamento e efetuaram prisões – o que provavelmente era ilegal – que obrigaram a Bund a deixar o lugar.
Um dos grupos mais importantes a perseguir a Bund eram rapazes judeus do mundo subterrâneo: Mayer Lansky, Bugsy Siegal, Mickey Cohen e outros.
Eles eram terríveis, mas eram leais ao seu povo. Mafiosos irromperam em reuniões da Bund e literalmente quebraram ossos de seus membros. Bugsy Siegal organizou treinamentos para ensinar aos voluntários os melhores métodos de como atacar os seguidores da Bund! Uma história e tanto.
Os gritos antissemitas deste último fim de semana, as suásticas em bandeiras e tatuagens que foram descaradamente mostradas, as provocações racistas: o que vimos faz os membros da GAB parecerem amadores.
A Bund se desmantelou depois que Kuhn foi preso em 1939 e a morte final ocorreu quando entramos na Segunda Guerra. Uma situação como essa não existe hoje.
O lado negativo é que esses grupos estão lá fora em grandes números. A boa notícia é que há mais pessoas boas no mundo e sempre haverá.
Nós vivemos em uma sociedade diferente do que a dos anos 30. As pessoas podem viver abertamente e juntas independente de sua religião, raça, orientação sexual e outros fatores. Eu não estou dizendo de nenhuma forma que nós somos uma sociedade utópica. Mas nós somos melhores do éramos.