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Encontro do grupo fascista German American Bund (GAB) no Madison Square Garden, Nova York, em 20 de fevereiro de 1939 | Reprodução
Encontro do grupo fascista German American Bund (GAB) no Madison Square Garden, Nova York, em 20 de fevereiro de 1939| Foto: Reprodução

Em um dia de fevereiro de 1939, policiais da cidade de Nova York se reuniram em torno do Madison Square Garden para proteger os 20 mil fascistas que estavam dentro deste e os 100 mil manifestantes que se reuniam ao redor.

Não haveria uma presença policial maior na cidade até o 11 de setembro. De acordo com o historiador Arnie Bernstein, “os policiais disseram que tinham homens suficientes para parar uma revolução”. 

Os simpatizantes do Nazismo no local, que estavam lá para ver a organização fascista German-American Bund (GAB), não teriam se importado em iniciar uma revolta. Afinal de contas, em suas mentes, o homem do momento – esta era a celebração do aniversário de George Washington pela organização Bund – havia ajudado a iniciar uma revolução como o “Primeiro Americano Fascista”. 

Fora, assim como em Charlottesville, manifestantes indignados criticavam o ódio. “Eles eram como nós vimos em Charlottesville, uma variedade de americanos”, disse Bernstein.

“Jovens, velhos, negros, brancos, judeus, não-judeus, pessoas de todos os grupos políticos, incluindo trotskistas e outros personagens marginais bem como grupos mais convencionais. Era uma situação massiva e alguns seguidores da Bund levaram socos enquanto saíam. A maioria tentou esconder sua identificação como um membro da GAB”. 

A Bund e seu fascismo americano tóxico estão massivamente esquecidos agora. Mas eles foram importantes personagens nos Estados Unidos de seu tempo, diz Bernstein, autor do livro de 2013, Swastika Nation: Fritz Kuhn and the Rise and Fall of the German-American Bund (A Nação da Suástica: Fritz Kuhn e a ascenção e queda da German-American Bund, sem edição em português). 

Em uma entrevista, Bernstein fala sobre as raízes do movimento fascista americano, seus paralelos com a atualidade e porque os americanos não devem se desesperar. 

O que iniciou este movimento? 

A German-American Bund nasceu de outras várias facções e grupos que se formaram durante o pós-Guerra dos anos 20, quando imigrantes alemães e descendentes destes de gerações anteriores sofriam com muito preconceito nos Estados Unidos. 

Esses grupos voltaram seus olhos para a pátria-mãe, para a ascensão de Hitler e do Nacional Socialismo em busca de inspiração. Eles adotaram uniformes que se assemelhavam aos utilizados pela SS (polícia Nazista) e aos camisas pardas, criaram retiros familiares onde eles poderiam se casar com aqueles que consideravam ideais para si, pessoas que pensavam da mesma forma que eles, passaram a imprimir seu próprio jornal, organizaram desfiles e outras atividades. 

A Bund era liderada por Fritz Kuhn, que se intitulava “o Bundesführer”, fazendo uma analogia como a nomeação utilizada para Hitler, o Führer. Kuhn era um imigrante alemão e profundamente leal a Hitler. 

O quão grande era o grupo? 

É impossível dizer considerando que eles eram muito reservados e também eram péssimos em registrar coisas. É estimado que eles tivessem entre 15 e 20 mil membros oficiais. Esses números não incluem não-membros que eram simpáticos à organização e sua missão e podem ter fornecido algum tipo de fundo para a organização. 

Mas é importante perceber que a vasta maioria dos teuto-americanos não apoiava a Bund. 

Este era um movimento marginal? 

Sim, mas um muito barulhento e sem rodeios. Americanos de costa a costa sabiam o que a Bund era o que eles pretendiam. Fritz Kuhn, que tinha um senso de importância muito inflado e um ego enorme, adorava aparecer para a mídia. 

Como os americanos responderam? 

Políticos lutaram. Os principais personagens foram Fiorello LaGuardia, prefeito de Nova York, e seu Procurador Geral, Thomas Dewey, que se tornou mais tarde governador de Nova York e concorreu à presidência. 

Eles não conseguiam acusar a Bund de algo a partir do que eles estavam dizendo porque você tem o direito de ser ofensivo e desagradável neste país. Mas eles descobriram que Kuhn estava desviando fundos dos cofres da Bund para financiar seus romances extraconjugais. Ele acabou indo para a prisão por acusações de fraude. 

Quem mais respondeu? 

As pessoas que perseguiram a Bund eram um grupo feroz e com grandes disparidades. O FBI foi muito duro: há quase 3 mil páginas de arquivos do FBI sobre Kuhn e a Bund. 

O colunista proeminente Walter Winchell perseguiu eles em sua coluna e em seu programa de rádio. Na verdade, ele foi um dos primeiros a atacar eles. Ele destruiu Kuhn com uma variedade de nomes, sátira e humor negro

Kuhn odiava Winchell e disse que quando a Bund assumisse o poder ele seria pendurado do poste de luz mais alto na frente de seu amado point em Nova York, o Stork Club. 

Em um caso notório, um grupo de membros da Jewish VFW (organização que reunia os veteranos judeus veteranos de guerras) se infiltrou no salão de reuniões da Bund e no momento planejado, interromperam a reunião e iniciaram um conflito. A briga acabou indo para a rua e os policiais tiveram que chamar reforços. 

Em outro caso, os membros da GAB queriam construir um retiro familiar em Southbury, no estado de Connecticut. 

O conselho municipal disse: não na nossa cidade. Eles modificaram leis de zoneamento e efetuaram prisões – o que provavelmente era ilegal – que obrigaram a Bund a deixar o lugar. 

Como os mafiosos judeus se encaixaram nisso? 

Um dos grupos mais importantes a perseguir a Bund eram rapazes judeus do mundo subterrâneo: Mayer Lansky, Bugsy Siegal, Mickey Cohen e outros. 

Eles eram terríveis, mas eram leais ao seu povo. Mafiosos irromperam em reuniões da Bund e literalmente quebraram ossos de seus membros. Bugsy Siegal organizou treinamentos para ensinar aos voluntários os melhores métodos de como atacar os seguidores da Bund! Uma história e tanto. 

Quais são as diferenças entre os fascistas americanos dos anos 30 e os de hoje? 

Os gritos antissemitas deste último fim de semana, as suásticas em bandeiras e tatuagens que foram descaradamente mostradas, as provocações racistas: o que vimos faz os membros da GAB parecerem amadores. 

A Bund se desmantelou depois que Kuhn foi preso em 1939 e a morte final ocorreu quando entramos na Segunda Guerra. Uma situação como essa não existe hoje. 

O que lhe dá esperança?

O lado negativo é que esses grupos estão lá fora em grandes números. A boa notícia é que há mais pessoas boas no mundo e sempre haverá

Nós vivemos em uma sociedade diferente do que a dos anos 30. As pessoas podem viver abertamente e juntas independente de sua religião, raça, orientação sexual e outros fatores. Eu não estou dizendo de nenhuma forma que nós somos uma sociedade utópica. Mas nós somos melhores do éramos.

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