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Alguns anos atrás, um amigo meu que era contratado por um centro de doutrinação estatal (tudo bem, uma escola pública) participou de um exercício de desenvolvimento docente cujas preocupações ideológicas são agora familiares. Encarando-se em círculo, os professores reunidos foram orientados a dar um passo para trás sempre que pudessem reivindicar uma das “vantagens” lidas na lista de um administrador. Nascido nos Estados Unidos? Dê um passo. Criado em uma casa de dois pais? Ande novamente. Afortunado o suficiente para ter frequentado a faculdade? Dê mais um passo. Talvez porque meu amigo tenha sido forçado a andar quase para fora do prédio, ele intuiu rapidamente a mensagem da atividade. Sua vida de classe média não deveria mais ser entendida como um produto de sua diligência e sacrifício (e de seus pais), mas como algo imerecido, feio, até mesmo opressor. 

Meu amigo, com razão, ficou horrorizado. Mas agora me pergunto se a época em que esse exercício ocorreu deveria ser considerada como os bons e velhos tempos. 

Um dos encantos retrospectivos da primeira década do milênio é o fato de que os vários privilégios identificados pelo diretor do meu amigo ainda não haviam convergido (pelo menos fora dos círculos acadêmicos) no sentido retórico de “brancura”, para abarcar tudo. Conversas sobre desigualdade ainda podiam acontecer – na verdade, às vezes até eram úteis – mas a esquerda continuava docemente alheia de sua capacidade de evocar toda uma série de disparidades com uma mera referência desdenhosa ("pessoas brancas") a 60% da população. É impossível identificar um único ponto de virada cultural, mas pode-se apontar para a beatificação progressiva de Ta-Nehisi Coates, cujas contribuições para o discurso público talvez sejam melhor resumidas por sua declaração absurda aos alunos da Evanston Township High School de que “quando você é branco neste país, você é ensinado que tudo pertence a você”. 

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Que tal alegação seja infalsificável usando quaisquer ferramentas atualmente em voga – isto é, quaisquer ferramentas exceto razão e observação – é apenas parte de seu apelo. O restante deriva de sua utilidade como abreviação intelectual: permite que o falante substitua uma abstração ameaçadora ("Boo! Brancura!") por uma discussão real das desigualdades extremamente complicadas que existem na sociedade americana. 

Essas desigualdades importam. O privilégio importa. Mas o privilégio não é redutível à brancura. E se a brancura for realmente um “amuleto brilhante” (Coates de novo) ou um “problema moral” (segundo a New York Times Magazine) que “distorce a realidade” (segundo o Salon) – se domesticá-la, derrotá-la, eliminá-la ou superá-la é realmente a única solução aos nossos problemas – então nossos problemas não podem ser resolvidos até que a maioria dos americanos aprenda a desprezar sua própria pele. O homem no Salão Oval está disposto a apostar que isso não vai acontecer. 

Os progressistas deveriam? 

"Ser branco é colonizar a vida após a morte", opina o Boston Review em um texto verdadeiramente bizarro. Observadores culturais nesta vida podem querer notar que nossas conversas sobre raça assumiram um elemento de ritual. Para cada ensaio lamentando a existência de “privilégio branco”, pode-se encontrar uma resposta que direcione o reclamante a considerar, digamos, o leste de Kentucky. Que essas réplicas tenham tido sucesso é algo difícil de contestar. Em uma época em que os americanos brancos vivenciam dependência de opioides, crises de relacionamento e "mortes por desespero" a taxas espantosas e assustadoras, simplesmente não é possível argumentar que a ascendência europeia funciona como uma espécie de vestimenta de proteção. As pessoas podem dizer aos seus diretores de RH e treinadores de sensibilidade que concordam com tal afirmação, mas os registros de votação argumentam de outra forma. 

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O que explica, então, a persistência com que “brancura” e “privilégio” se confundem na imaginação progressista? O pensamento de grupo acadêmico e da mídia certamente tem culpa, embora às vezes eu me pergunte se os prazeres do ódio e as delícias das riquezas terrenas carregam uma parte da responsabilidade. Embora o New York Times tenha sido forçado no ano passado a retratar sua caracterização das finanças de Ta-Nehisi Coates ("Coates diz que ele não é um milionário"), é difícil acreditar que o MacArthur Fellow, autor de best-sellers e palestrante internacionalmente cobiçado tem a vida particularmente dura. O mesmo artigo de opinião invocou o “status quase divino dentro dos círculos progressistas brancos” de Coates e, embora a semelhança a um deus não possa ser colocada no bolso e usada, certamente alivia a dor da vida contemporânea. 

Abordagem diferente

Mesmo que acreditássemos nas palavras dos progressistas – aceitando, por exemplo, a noção de que uma sociedade igualitária só pode ser construída se as pessoas brancas “reconhecerem seus privilégios e praticarem a humildade”, para tomar emprestada a formulação de campanha de Hillary Clinton – permanece o fato de que a estratégia da esquerda de incorporar essa mensagem em todas os artigos de opinião, palestras em sala de aula e programas de televisão no país simplesmente não está funcionando. Se o objetivo é demonizar os brancos, continue. Se mudar corações e mentes é o objetivo, nossa atual realidade política sugere que uma abordagem diferente pode ser necessária. 

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O que essa abordagem pode parecer é uma questão que merece discussão séria. (E seja dito que David French, Roger Clegg e Reihan Salam fizeram um excelente trabalho modelando essa conversa no National Review recentemente.) Meu próprio instinto é que a esquerda poderia prestar um tremendo serviço à nação simplesmente desacoplando a retórica do privilégio da retórica da raça. Já é bastante difícil – embora às vezes necessário, eu passei a acreditar – convencer um homem de que suas conquistas não são apenas o resultado de seu próprio mérito. Usar sua raça como sinédoque por suas vantagens, no entanto, é impreciso e desnecessariamente divisivo. Nós podemos continuar fazendo isso, mas eu suspeito que a eleição de Donald Trump não será a única consequência. 

Como o exercício da escola do meu amigo tentou comunicar de maneira infeliz, um americano nascido de pais casados no final do século 20 está entre as pessoas mais afortunadas da história do mundo. Que eu possa reivindicar tal herança é uma bênção que eu não conquistei e só posso esperar me tornar digno dela. Por favor, diga-me para checar meus privilégios, contar minhas bênçãos ou trabalhar para o benefício das milhões de pessoas que teriam matado para trocar de lugar comigo. Lembre-me de novo e de novo. 

Apenas deixe minha cor de pele fora disso.

©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês

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