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História

Como Ronald Reagan articulou a derrocada do comunismo

O presidente Ronald Reagan em sua mesa no Salão Oval, Washington, D.C.
O presidente Ronald Reagan em sua mesa no Salão Oval, Washington, D.C. (Foto: Carol M. Highsmith / Divulgação)

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No verão de 1997, um imigrante ucraniano que passeava com seu neto num parque perto de onde o ex-presidente americano Ronald Reagan morava encontrou o ex-líder do Mundo Livre caminhando, e pediu para tirar uma foto com o menino. Reagan já sofria de Alzheimer em estágio avançado. O imigrante judeu ucraniano, refugiado da União Soviética, Yakob Ravin, se aproximou timidamente do ex-presidente e de seus seguranças e, ao pedir, a foto, agradeceu: “Sr. Presidente, obrigado por tudo que o senhor fez pelo povo judeu, pelo povo soviético, por destruir o império comunista”. Ao que, aparentemente recobrando temporariamente sua lucidez, os ex-presidente respondeu: “eu estava só fazendo meu trabalho”.

Depois de um começo em que parecia que tinha assumido a liderança na corrida espacial contra os Estados Unidos, a União Soviética acabou por se ver comendo poeira lunar, quando os americanos finalmente pousaram no nosso satélite natural, e tiveram que se contentar com uma ou duas vitórias subsequentes, como a primeira estação espacial.

Guerra Fria

Durante os anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, a política oficial americana foi sempre a de evitar um conflito direto com a outra grande potência mundial — a União Soviética de Stalin — criando o que veio a ser conhecido como a “Guerra Fria”. Mas tolerar um ditador genocida que procura expandir suas garras ao redor do mundo não é uma tarefa fácil, e o país foi obrigado a tomar uma posição dura contra as atitudes cada vez mais expansionistas do regime comunista.

Ironicamente, a maior investida americana contra os soviéticos acabou acontecendo depois da morte de Stalin. Em 1958, o ditador Fidel Castro tomou o poder em Cuba — tornando-se, efetivamente, um aliado da URSS a poucos quilômetros do território americano — e se apropriou de diversas empresas e negócios americanos, sob o pretexto de “nacionalizá-las”. Logo detectou-se uma aproximação perigosa entre o governo comunista cubano e os líderes soviéticos.

O presidente na época, Dwight Eisenhower, tinha planejado uma invasão à ilha, e a eleição seguinte, vencida por seu rival democrata, John F. Kennedy, não pôs um fim aos planos; pelo contrário. Kennedy deu aval a uma invasão de um conjunto de tropas compostas por americanos e refugiados cubanos na Baía dos Porcos, que acabou com centenas de mortos de ambos os lados, e virou símbolo de um dos maiores fracassos americanos na história. Se não bastasse, gerou a crise de 1962, quando a URSS levou mísseis nucleares para território cubano e acabou deixando o mundo todo à beira do holocausto nuclear.

A escalada militar que se seguiu a esse conflito somou-se à escalada espacial que já vinha sido disputada pelos dois países, e que tinha sido “vencida” um mês antes da invasão de Cuba pelos soviéticos, quando Iuri Gagarin fez seu primeiro voo na órbita da Terra. Tudo indicava que os comunistas tinham tomado a dianteira, mas uma série de infortúnios fez com que o pouso da Apollo 11 na Lua, em 1969, virasse o jogo a favor dos americanos. Durante a década seguinte, a União Soviética não só foi incapaz de se equiparar aos Estados Unidos em termos de um programa espacial bem-sucedido, com planos para pousar na Lua que foram abortados, mas também viu gradualmente sua economia se deteriorar, levando o povo soviético a lidar com escassez de produtos de higiene básicos e alimentos.

Na década de 1980, a Guerra Fria iniciada vinte anos antes atingiu seu nível mais tenso. Boa parte do mundo se dividia entre nações que apoiavam um lado ou o outro (e, não coincidentemente, as que apoiavam voluntariamente o lado da liberdade tinham um padrão de vida muito melhor). Mas, ao mesmo tempo, vários países eram usados como peões pelos dois lados, e tanto ditadores de direita e esquerda serviam aos propósitos de ambas as potências num imenso tabuleiro de xadrez ideológico. Uma dessas jogadas cujos resultados só seriam vistos anos depois foi a invasão do Afeganistão pela União Soviética.

Império do Mal

Em 1981, o republicano Ronald Reagan, um ex-ator de Hollywood célebre por seus papéis em filmes de faroeste foi eleito contra um presidente democrata enfraquecido, Jimmy Carter, desgastado pela crise dos reféns americanos presos na embaixada dos EUA durante o golpe dado pelo Aiatolá Khomeini no Irã. Reagan se elegeu com uma plataforma de endurecimento no política externa, da recuperação da soberania americana diante dessa situação de aparente decadência, e não demorou para se manifestar, questionando já em sua primeira entrevista a legitimidade do governo soviético.

Depois de resolver com sucesso a crise dos reféns no Irã, negociando a liberação daqueles que ainda estavam detidos na ditadura teocrática, sua popularidade subiu a níveis que poucos presidentes tinham alcançado. Reagan continuou a criticar seu maior rival, acusando a União Soviética de ser um “Império do Mal” e “o foco do mal no mundo moderno”. A resposta dos líderes soviéticos da época foi dizer que as declarações de Reagan representavam “um anticomunismo belicoso e lunático”.

Enquanto isso, a escalada repressiva dos soviéticos, ao ver perderem a influência sobre seus países satélites, continuava. Em 1981 impuseram uma lei marcial na Polônia para suprimir os movimentos dos sindicatos trabalhistas, entre eles o Solidariedade, de Lech Walesa. Em 1983, derrubaram o vôo 007 da Korean Air Lines, que fazia a rota Alasca-Seul, com quase 300 passageiros e tripulantes (entre eles 61 americanos), imaginando ser um avião espião dos EUA. Sentimentos da época da Guerra Fria que estavam relativamente calmos havia algumas décadas voltaram a ser reacendidos.

Ao mesmo tempo em que Reagan, através da CIA, destinou milhões de dólares para os rebeldes do Afeganistão que lutavam contra a invasão soviética, os mujaheddin, liderados por um então desconhecido saudita chamado Osama bin Laden, o seu governo começou a investir de uma forma pesada no programa espacial e em defesa contra ataques de “outros países”.

Em 1982, Reagan convenceu o Congresso americano a aprovar um aumento de 13% nos gastos militares, dando início à chamada Iniciativa de Defesa Estratégica, SDI. Entre os projetos deste programa estavam aviões capazes de escapar aos radares inimigos, bombas capazes de varrer do mapa populações inteiras ao mesmo tempo em que mantinham intactos os prédios e a infraestrutura do local, e uma espécie de escudo espacial.

No mesmo ano, Reagan fez seu célebre discurso no Parlamento britânico, tornando-se o primeiro presidente americano a falar publicamente ali, onde disse que o regime marxista-leninista seria varrido para a “lixeira da História”. Pouco tempo depois, Reagan adotou um apelido que viria a se tornar praticamente uma nova forma de se referir à União Soviética: “o Império do Mal” — o qual os Estados Unidos deveriam enfrentar por obrigação estratégica e moral.

Doutrina Reagan

Surge então, em outro de seus discursos históricos, aquela que foi denominada de “Doutrina Reagan”: uma forma do governo americano de tentar reprimir ao máximo qualquer tipo de financiamento a governos que pudessem estar ameaçando as liberdades humanas: “não podemos trair quem quer que esteja arriscando sua vida — seja em qualquer continente, do Afeganistão à Nicarágua — para desafiar a agressão apoiada pelos soviéticos e assegurar direitos que nos foram dados desde nosso nascimento”.

Ao longo de boa parte da década de 1980, Reagan utilizou todas as forças ao seu dispor, desde o FBI e a CIA até o exército americano, para tentar eliminar ou pelo menos minimizar as forças comunistas ao redor do mundo, desde o Leste Europeu até a Etiópia (que graças às medidas desastradas dos regimes marxistas se tornou um dos tristes símbolos de fome no mundo).

O outro braço da Doutrina Reagan consistia em embargos aos países que se recusassem a abandonar a esfera soviética. Isso acabou se provando um trunfo para os EUA, já que eles tinham como aliados o maior produtor de petróleo do mundo, a Arábia Saudita. Com esse aliado poderoso, Reagan deu início ao golpe fatal que derrubaria de vez a URSS: a escalada armamentista e espacial.

Guerra nas Estrelas

Apesar do acidente fatal da Challenger, em 1986, que comoveu o mundo na época, o governo Reagan prosseguiu com seu programa de defesa espacial, destinado a proteger o país de qualquer ameaça nuclear soviética. Segundo Reagan, um “pacto suicida” tinha sido estabelecido entre ambas as nações, e somente os cientistas americanos poderiam desenvolver algo que tornaria essas armas nucleares obsoletas. E foi isso que fizeram no chamado SDI, que foi chamado pejorativamente à época de “Programa Star Wars”, em homenagem ao filme “Guerra nas Estrelas”. Cientistas chamavam o projeto de uma “loucura total”, e jornais denunciavam que o programa tinha sido falsificado para parecer como se pelo menos 30 bilhões a mais do que o que tinha sido anunciado tivessem sido investidos nele.

A “ameaça” era algo claramente mais destinada às câmeras e aos telejornais do que à vida real. Os Estados Unidos ainda não tinham a capacidade de fazer algo do gênero. Mas tampouco os soviéticos tinham a capacidade de saber disso. Seus líderes entraram em pânico. Segundo Iuri Andropov, Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética, “o mundo inteiro esta[va] em perigo”.

Até que veio o famoso discurso de 1987, em Berlim. Reagan emulou Kennedy em 1963, se declando “Ich bin ein Berliner” (Sou berlinense), e então pediu para Gorbachev, que substituiu Andropov no comando do Partido Comunista Soviético: “please, tear down this wall” (“por favor, derrube esse muro”). Os alemães orientais já vazavam como formigas para os países vizinhos, a farsa do comunismo já era visível e risível.

Poucos anos depois, o Muro já não mais existia, a não ser como peça de turismo, e as duas Alemanhas voltaram a ser uma só. E logo a “União Soviética” se desintegrou em uma série de países independentes.

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