Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Artigo

Como Seinfeld (de maneira divertida) expôs o autoritarismo assustador dos “bem-intencionados”

O ator Michael Richards no papel de Kramer
O ator Michael Richards no papel de Kramer, no episódio "The Sponge", do seriado Seinfeld (Foto: Reprodução)

Ouça este conteúdo

Se você me perguntasse qual é o meu episódio favorito de Seinfeld, eu teria dificuldade em responder. Existem vencedores demais.

Muitos diriam que o melhor de todos é "The Contest", o episódio vencedor do Emmy Award em que Jerry e companhia competem para ver quem é o "mestre do seu domínio". E quem pode esquecer “O Nazista da Sopa” ou “The Merv Griffin Show” ou o frango Kenny Rogers (“The Chicken Roaster”)?

Pessoalmente, sempre fui fã de "The Race", aquele em que Elaine está namorando um comunista — Ned Isakoff — que enche a cabeça de Kramer com um monte de propaganda socialista que acaba fazendo com que Kramer e seu amigo Mickey sejam demitidos de seu trabalho como Papai Noel na loja de departamentos Coleman.

Todos esses são dignos de discussão por pertencerem ao panteão Seinfeld; eu me mato de dar risada de cada um. Mas uma das cenas mais instrutivas — e adequada para nossos tempos — vem em “The Sponge”, quando Kramer decide participar de uma caminhada pela AIDS para apoiar instituições de caridade.

"Você tem que usar um broche contra a AIDS"

Como um bom samaritano, Kramer se apresenta para caminhar em prol da causa: a conscientização sobre a AIDS. As coisas mudam, porém, quando ele se recusa a usar um broche contra a AIDS.

VOLUNTÁRIA: Aqui está seu broche.

KRAMER: Ah, não, obrigado.

VOLUNTÁRIA: Você não quer usar um broche contra a AIDS?

KRAMER: Não, não.

VOLUNTÁRIA: Mas você tem que usar.

KRAMER: Eu preciso?

VOLUNTÁRIA: Sim.

KRAMER: Veja, é por isso que eu não quero.

VOLUNTÁRIA: Mas todo mundo usa. Você deve usar!

KRAMER: Você sabe o que você é? Você é a ditadora do broche (e vai embora).

VOLUNTÁRIA: Ei! Ei você! Volte aqui! Volte aqui e coloque isto!

A pressão que Kramer recebe é engraçada porque é estranha, mas também identificável. Você não precisa ser um obstinado libertário imerso em Rothbard e Mises para ver que há uma tendência humana de forçar fanaticamente a conformidade, mesmo em questões de simbolismo (talvez especialmente nelas).

A história não termina aí, no entanto. Os roteiristas exploram o quão intenso pode ser o impulso de fazer os outros se ajustarem ao grupo quando Kramer começa a caminhada beneficente, em uma cena que é simultaneamente sombria e hilária.

PEDESTRE 1: Ei, onde está seu broche?

KRAMER: Eu não uso um.

PEDESTRE 2: Você não usa o broche? Você não é contra a AIDS?

KRAMER: Sim, eu sou contra a AIDS. Eu estou caminhando, não estou? Eu simplesmente não uso a fita.

PEDESTRE 3: Quem você pensa que é?

PEDESTRE 4: Coloque a fita!

PEDESTRE 2: Ei, Cedric, Bob. Esse cara não vai usar o broche.

BOB: Quem? Quem não vai usar o broche?

A cena é um ótimo exemplo da mentalidade de rebanho. Kramer, que está apoiando a conscientização sobre a AIDS, é intimidado pelas outras pessoas, apesar de seu apoio à causa. As pessoas que querem forçar Kramer a usar o broche não se importam. Kramer está apoiando a mesma causa que eles; mas tudo o que enxergam é que ele não está usando o broche.

A cena termina com os participantes da caminhada espancando Kramer em um beco.

A pandemia e os apedrejadores

Assistir a Kramer ser espancado em um beco por não usar um broche é engraçado porque é Seinfeld. Mas os roteiristas do programa também revelam um lado negro da natureza humana que é muito real.

O grande individualista americano Ralph Waldo Emerson observou certa vez como a humanidade trata aqueles que não se conformam com o coletivo.

“Pelo inconformismo o mundo te açoita com seu descontentamento”, escreveu Emerson.

Emerson pode ter feito eco a Voltaire, que viu “nossa miserável espécie é feita de tal forma que quem anda no caminho já trilhado sempre atira pedras em quem está mostrando um novo caminho”.

Isso é verdade mesmo nos melhores momentos, mas nos piores momentos o comportamento fica ainda pior.

Talvez, então, não seja surpresa que a pandemia tenha desencadeado raiva e hostilidade contra aqueles que optam por seguir sua própria consciência em vez dos decretos coletivos.

A pessoa saudável que se recusa a usar máscara em uma mercearia é tratada como Cosmo Kramer.

“Você não quer usar máscara?

"Mas você tem que usar uma máscara!"

"Quem você pensa que é?"

“Coloque a máscara!”

Curiosamente, não usar máscara não é um pecado real. Vimos celebridades e muitos políticos desrespeitarem essa precaução médica supostamente necessária, sem que se ouvisse um pio da patrulha da máscara, que insiste que as crianças devem usá-la nas escolas. E rotineiramente vemos nossos líderes removê-las quando acreditam que as câmeras pararam de filmar. Dizer que as máscaras não são necessárias ou sugerir que pessoas saudáveis ​​devem decidir por si mesmas se as usam é uma verdadeira heresia, que convida à vergonha e ao ridículo.

Decidir não ser vacinado acarreta um risco ainda maior de estigma social e vergonha. Kramer levou uma surra por não usar o broche contra a AIDS, mas muitos acreditam que os não vacinados merecem algo muito pior.

©2021 FEE (Foundation for Economic Education). Publicado com permissão. Original em inglês.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.