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A diferença entre investimento e gasto é algo que parece escapar aos políticos britânicos, assim como o fato de que, enquanto o gasto é certo, o retorno do investimento não é.
O ex-primeiro ministro Gordon Brown, em comparação com seu sucessor, tinha uma dificuldade especial nesse sentido. Brown sempre falou no aumento exorbitante de gastos em coisas como escolas como se isso fosse um investimento que levaria a padrões mais altos de educação. Ninguém com um mínimo de capacidade de reflexão se surpreendeu quando esse não foi resultado alcançado. Em vez disso, o programa nacional de construção de escolas só aumentou a dívida pública.
Parece que Boris Johnson está prestes a seguir os passos de Brown. Neste mês, Johnson aprovou a HS2, uma linha de trem de alta velocidade entre Londres e o Norte da Inglaterra. Diz a teoria que essa obra de infraestrutura diminuirá a desigualdade de renda e o norte e o sul – um objetivo importante, por motivos eleitorais.
A ferrovia — projetada para ser construída nos próximos dez anos — já tem um orçamento de mais de US$130 bilhões. Levando em conta o histórico de custos acima do orçado em projetos do governo, faz sentido esperar que a obra demore e custe muito mais do que a estimativa atual. Afinal, os custos projetados já aumentaram 300% desde a primeira planta.
Cui bono? Claro que as empreiteiras e os burocratas aumentaram drasticamente os custos, com base em trens de alta velocidade em outros lugares do mundo. Até agora, com US$12 bilhões gastos, só vimos marcas na paisagem e canteiros de obra nas estações.
Quem quer que já tenha viajado em trens de alta velocidade na Espanha e França se lembrará de uma experiência agradável. Os dois países têm 25 vezes mais ferrovias de alta velocidade do que o Reino Unido. O investimento fixo total do sistema ferroviário francês — trens de alta e baixa velocidades — vale menos da metade do orçamento de construção da HS2 no Reino Unido.
Nem a Espanha ou a França superaram enormemente o Reino Unido, em termos econômicos, por causa do seu sistema ferroviário, embora a construção e manutenção da rede ferroviária de alta tecnologia desses países terem treinado e empregado milhares de trabalhadores. Essas ferrovias tornaram as viagens de trem mais fáceis e agradáveis do que no Reino Unido, e isso não é um benefício menor. Mas duvido que, do ponto de vista puramente econômico, seja necessário que as pessoas viagem mais rápido de uma cidade a outra, levando em conta o desenvolvimento das telecomunicações.
O trem de alta velocidade entre Londres e Manchester reduzirá o tempo de viagem pela metade, de duas para uma hora. Ele não carregará carga. Será possível fazer o trajeto todos os dias entre as duas cidades. Ainda veremos se o projeto será o bastante para estimular a economia no Norte, onde Manchester já prospera. Continuo cético. O certo é que cada hora a menos de viagem será comprada a um preço alto.
O projeto HS2, anunciado pela primeira vez em 2009, precisou de 11 anos só para ser aprovado. Sua construção custará várias vezes mais do que a construção de projetos semelhantes ao redor do mundo. A decisão de levá-lo a cabo é equivocada. O episódio todo é simbólico da esclerose, corrupção e incompetência de sucessivos governos britânicos — tudo sintoma de uma profunda decadência cultural. Esperemos que Boris Johnson não esteja no trilho de tomar mais decisões do tipo.