As pessoas que se opõem aborto comemoraram boas notícias recentemente. A taxa de aborto nos Estados Unidos caiu para a mínima histórica, de acordo com um relatório recente do Guttmacher Institute.
Mas o relatório também contém más notícias. Dos mais de 860 mil abortos realizados nos Estados Unidos em 2017, os abortos químicos aumentaram 25% em relação a 2014 e hoje respondem por quase 40% dos abortos nos Estados Unidos.
E esses números não incluem os abortos autoinduzidos, que têm aumentado, segundo o relatório.
Em 2014, 12% das clínicas de aborto trataram mulheres que tentaram o aborto caseiro e sofreram complicações, mas em 2017 esse número alcançava 18%. Essa porcentagem pode aumentar ainda mais por causa da Aid Access, uma organização abortista relativamente nova que busca promover os abortos químicos autoinduzidos nos Estados Unidos.
A Aid Access é a versão norte-americana da Women on Web, organização criada para promover os abortos químicos em países onde o aborto é proibido por lei ou não está disponível a todas as mulheres.
Ao longo do último ano e meio, a Aid Access distribuiu ilegalmente mais de 7 mil comprimidos abortivos para as norte-americanas. A Aid Access publicou depoimentos de mulheres da Geórgia, Dakota do Sul, Pensilvânia e Virgínia, e reconhece que ao menos 39 moradoras de Idaho receberam os comprimidos.
Em março, a U.S. Food and Drug Administration obrigou a Aid Access a interromper a distribuição dos comprimidos, mas a organização ignorou o aviso e reagiu processando o FDA. A ação movida pela Aid Access diz que o FDA confiscou ao menos dez cargas de comprimidos abortivos.
A distribuição ilegal desse tipo de medicamento pela Aid Access, que não é incluído na contabilidade oficial de abortos, pode estar alterando o cenário norte-americano por diminuir artificialmente as taxas de aborto em alguns estados.
A Aid Access diz que está satisfazendo uma demanda cada vez maior. De acordo com o jornal The Guardian, a maioria dos comprimidos abortivos da Aid Access é enviada a mulheres em estados com sólidas políticas antiaborto, entre eles muitos estados com taxas relativamente altas de pesquisas na Internet por informações sobre abortos caseiros.
Um desses estados, a Dakota do Sul, recentemente divulgou sua menor taxa anual de aborto desde 1973. Muitas mulheres viajaram para realizar abortos fora do estado em 2018, o que sem dúvida contribuiu para a queda nos números.
Mas a Dakota do Sul também divulgou uma queda repentina nos abortos químicos. Ao menos uma mulher recebeu comprimidos abortivos pelo correio, de acordo com um depoimento da própria Aid Access. O mesmo aconteceu a outras mulheres, o que diminuiu a quantidade de abortos registrados.
Em outros estados com altas taxas de pesquisa sobre o assunto na Internet, os registros oficiais de aborto na verdade aumentaram. Em Oklahoma, por exemplo, tanto os abortos “comuns” quanto os abortos químicos aumentaram 6%.
Ainda que a Aid Access detenha uma fatia do mercado abortista nos dois estados, essa influência não se refletiu como queda nos números oficiais.
Será que a Aid Access pode estar ampliando a demanda por abortos nesses estados, enviando comprimidos abortivos a mulheres que não se submeteriam a um aborto, como algumas de suas clientes reconheceram?
“Eu não teria condições de ir a uma clínica e tinha medo de entrar em conflito depois do ultrassom e da sessão com a psicóloga”, escreveu uma mulher. Outra explicou que “sem vocês [da Aid Access] eu teria trazido uma criança a este mundo”.
A Aid Access não é a primeira a usar essa estratégia — a gigante do mercado abortista Planned Parenthood aumentou a demanda por abortos nos Estados Unidos, superando seus concorrentes menores.
Mas a influência da Aid Access é mais difícil de mensurar. Menos de metade dos estados norte-americanos divulgaram dados sobre o aborto em 2018 — ano em que a Aid Access começou a operar — e o relatório nacional mais recente dos Centros de Controle e Prevenção a Doenças dos Estados Unidos são de 2015. Os dados nacionais de 2018 só estarão disponíveis daqui a alguns anos.
Essa falta de dados é preocupante porque o impacto dos medicamentos abortivos sobre a saúde das mulheres é desconhecido. Em sua iniciava por tornar os abortos “mais acessíveis”, a Aid Access está distribuindo comprimidos sem cumprir – na verdade, violando diretamente – as regulamentações criadas pelo FDA e ignorando os motivos que levaram à implementação dessas garantias.
Na melhor das circunstâncias, até 1 em cada 5 abortos químicos pode levar a complicações. Nem todas as mulheres acabam tomando os medicamentos que recebem e ninguém sabe o que é feito dos comprimidos. Os remédios abortivos são menos eficientes quando compartilhado com uma amiga depois de ficar na prateleira por um ou dois anos ou depois de algumas horas numa caixa de correio escaldante na Geórgia.
A tendência pode ficar mais clara à medida que mais estados divulgarem relatórios sobre abortos, mas alguns estados estão anos atrás e outros não têm nenhuma estatística.
A Aid Access continua a ignorar completamente a autoridade do FDA e os comprimidos continuam entrando nos Estados Unidos.
A Aid Access está transformando o aborto nos Estados Unidos, mas, por causa do caráter informal dos relatórios nos Estados Unidos e do processo de distribuição da Aid Access, não sabemos direito como – e não sabemos quem sofrerá no processo.
De acordo com a situação atual, as mulheres norte-americanas estão sendo sujeitas a um experimento em massa engendrado por um distribuidor estrangeiro que viola as leis dos Estados Unidos promulgados pelo FDA do governo Obama. As mulheres merecem mais, não importa onde elas morem.
Tessa Longbons é pesquisadora do Charlotte Lozier Institute.