Que o socialismo prejudica as pessoas que vivem sob esses regimes, piorando as condições de vida e suprimindo a liberdade, todo mundo sabe. Agora um estudo recente aponta que o comunismo pode também ter um efeito negativo sobre a honestidade dos indivíduos.
Pesquisadores dos EUA e da Alemanha, liderados pelo professor Dan Ariely da Universidade Duke, conduziram um experimento para medir a honestidade de pessoas que cresceram na Alemanha socialista (Oriental) e na Alemanha capitalista (Ocidental). O estudo, publicado no European Journal of Political Economy, indica que as pessoas que viveram sob o regime socialista são mais desonestas do que aquelas que viveram no capitalismo.
O experimento se baseou em oferecer recompensas em dinheiro aos alemães por acertarem a previsão de jogos de dados. Os voluntários tinham a opção de mentir para receber uma recompensa maior. Os pesquisadores, então, compararam os resultados dos alemães que viveram na Alemanha Oriental socialista com os que viveram apenas na Alemanha Ocidental capitalista.
Diferenças
Analisando as diferenças dentro de um mesmo país, foram eliminadas possíveis diferenças culturais e, assim, foi possível analisar a honestidade dos indivíduos considerando apenas o regime político em que eles foram criados. O estudo apontou implicações de longo prazo naqueles que viveram sob o regime socialista, em especial na sua capacidade de agir com honestidade.
“Participantes com histórico da Alemanha Oriental enganaram significativamente mais do que aqueles com histórico da Alemanha Ocidental”, diz Ariely. “Quanto mais tempo os indivíduos passaram sob o regime socialista da Alemanha Oriental, maior a probabilidade de trapacear”, acrescenta.
Os participantes nascidos antes da dissolução da Alemanha Oriental tiveram 12,6% mais chances de trapacear, enquanto os participantes que viveram pelo menos 10 anos em uma sociedade socialista tiveram 17,1% mais chances. Os participantes que viveram 20 anos ou mais de socialismo tiveram 20,7% mais chances de trapacear quando comparado com participantes da Alemanha Ocidental da mesma faixa etária.
Causas e consequências
As injustiças da vida sob o regime socialista podem ser a causa da desonestidade. Indivíduos que acreditam que foram tratados injustamente em uma interação com outra pessoa são mais propensos a serem desonestos em outra situação distinta, aponta o estudo. “Em muitos casos, o socialismo pressionou ou forçou as pessoas a contornarem as leis oficiais. Na Alemanha Oriental, por exemplo, roubar uma carga de materiais de construção para trocá-lo por um aparelho de televisão pode ter sido a única maneira de uma pessoa adquirir um bem valioso e se conectar ao mundo exterior”, explica Ariely.
“Além disso, a liberdade de expressão não era uma virtude mantida nos regimes socialistas e muitas vezes os cidadãos tinham que deturpar seus pensamentos para evitar a repressão”, afirma.
Por outro lado, a ideologia também pode contribuir para a degradação moral dos cidadãos. Os esforços de distribuição de riqueza desvinculada de mérito podem criar ressentimentos que levam à desonestidade. “Para garantir que todos obtenham a mesma coisa, você precisa dar a algumas pessoas menos do que elas merecem ou acreditam que merecem. E, quando as pessoas sentem que a vida as tratou injustamente, talvez elas se sintam bem com trapaças e mentiras”, aponta a pesquisa.
Retrato histórico
Uma pesquisa de 2014 chegou a conclusões semelhantes: quanto mais tempo uma pessoa vive sob o regime socialista, maior a probabilidade de ela ser desonesta. O estudo “The (True) Legacy of Two Really Existing Economic Systems” [O (verdadeiro) legado de dois sistemas econômicos realmente existentes] reuniu voluntários criados na Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental.
Cada um deles deveria jogar um dado 40 vezes e registrar o resultado em um pedaço de papel. Uma contagem geral mais alta resultava em uma recompensa maior. Como as pessoas não precisaram dizer a ninguém que lado do dado escolheram, era possível mentir.
Os resultados mostraram que os alemães orientais mentiram duas vezes mais que os alemães ocidentais. Com isso, os pesquisadores concluíram que o regime político do socialismo tem um impacto duradouro na moralidade dos cidadãos.
As explicações para a desonestidade também estão na lógica socialista, de acordo com o estudo de 2014. “O sistema não recompensa o trabalho com base no mérito e dificultou a acumulação de riqueza ou a transferência de algo para a família. Isso pode ter resultado na falta de significado que leva à desmoralização e talvez menos preocupação em manter os padrões de honestidade”, afirma.
Além disso, a falsa promessa de segurança econômica pelo regime socialista pode levar os cidadãos a internalizarem uma hipocrisia moral do governo e desgastar o valor que eles atribuem à honestidade. “Talvez de maneira mais direta, o sistema político e econômico pressionou as pessoas a contornarem as leis oficiais e a trapacearem para enganar o sistema. Com o tempo, os indivíduos podem vir a normalizar esses tipos de comportamento”, diz a pesquisa.
Contraponto
O estudo refutou outro realizado em 2013, intitulado Of Morals, Markets and Mice [Sobre moral, mercados e ratos], que afirmava que as economias de mercado “deterioram a moral” dos cidadãos. No experimento, os participantes tiveram a opção de pagar para salvar um rato da morte. As pessoas se mostraram mais propensas a permitir a morte do animal quando a decisão surgia como resultado de barganha entre compradores e vendedores, e não como uma decisão individual com base em trocar a vida do rato por dinheiro.
Os pesquisadores concluíram que a dinâmica de mercado leva a uma tendência a diminuir os valores morais devido à competição por dinheiro. A conclusão do estudo é uma afirmação comum em críticas da esquerda ao livre mercado: a possibilidade de acúmulo de riqueza afetaria negativamente a moral porque promoveria a ganância.
“O estranho de todas essas afirmações é que nunca há evidências concretas para provar que o livre mercado incentiva a ganância. Talvez porque as evidências - e a lógica - sugerem que o oposto”, afirma Ryan Bourne, especialista em compreensão pública de economia no Instituto Cato.
O socialismo, por outro lado, deixou efeitos duradouros nas populações que viveram sob o regime, aponta Marian L. Tupy, editor do HumanProgress.org e analista de política do Center for Global Liberty and Prosperity. “Há muito tempo defendo que o maior dano que o socialismo causou não foi econômico. Foi espiritual”, afirma Tupy. “Muitos dos países que abandonaram o socialismo reconstruíram suas economias e se tornaram prósperos. O mesmo não pode ser dito sobre suas instituições, como o Estado de Direito e o comportamento de seus cidadãos. O verdadeiro legado do socialismo, em outras palavras, não é igualdade, mas imoralidade”, completa.
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