Reeleita para o terceiro mandato no Congresso americano, a deputada republicana María Elvira Salazar é famosa por sua postura firme diante dos regimes socialistas autoritários da América Latina — especialmente o de Cuba, país natal de seus pais, refugiados nos Estados Unidos desde o final da década de 1950.
Entre os brasileiros, a representante da Flórida ficou mais conhecida a partir de maio deste ano, quando participou de uma audiência da Câmara dos EUA sobre a liberdade de expressão no Brasil. Na ocasião, ela se referiu ao presidente Lula como “condenado por corrupção” e chamou o ministro do STF Alexandre de Moraes de “operador totalitário” da justiça brasileira.
Na entrevista a seguir, a parlamentar fala sobre as estratégicas do próximo governo de Donald Trump com relação à América Latina e o compromisso dos republicanos com a democracia na região.
Gazeta do Povo — Como será a postura do novo governo americano com relação aos regimes autoritários da América Latina, como Cuba, Venezuela e Nicarágua?
María Elvira Salazar — Os regimes opressores ao redor do mundo saberão que há um “novo xerife na cidade”. Não haverá mais tolerância para seus aparatos repressivos, e estou confiante de que a administração Trump tomará as medidas necessárias para mantê-los na linha. Esses regimes opressores agora também terão que lidar com Marco Rubio [Secretário de Estado] e Mike Waltz [conselheiro de Segurança Nacional], dois declarados amigos da liberdade na América Latina.
A senhora acredita que haverá um fortalecimento da relação dos EUA com a Argentina e Israel, considerando os fortes laços entre os republicanos e os líderes desses dois países?
Com a vitória de Donald Trump, há uma oportunidade renovada para desenvolver uma relação sólida com Israel e Argentina. Tanto Javier Milei quanto Benjamin Netanyahu já sinalizaram sua disposição de cooperar ainda mais em prioridades militares e de defesa entre nossas nações. Acredito que Trump, com maiorias republicanas na Câmara e no Senado, conseguirá entregar esses resultados.
Lula chamou Donald Trump de “nazista”. Gustavo Petro, presidente da Colômbia, acusou Elon Musk de ter “tendências nazistas”. Como o governo republicano pretende se posicionar frente a líderes alinhados ao Foro de São Paulo e ao avanço de políticas que enfraquecem a liberdade em seus países?
Petro e Lula da Silva devem ter muito cuidado antes de seguir o mesmo caminho de outros socialistas, como Maduro ou Ortega. Os Estados Unidos, sob o comando do presidente Trump, terão tolerância zero para novas tentativas de repressão.
Quais estratégias o novo governo planeja adotar para conter a influência da China e da Rússia na América Latina?
Ao escolher o senador Marco Rubio para comandar o Departamento de Estado e o congressista Mike Waltz como seu Conselheiro de Segurança Nacional, o presidente Trump está mostrando que a América Latina finalmente receberá a atenção que merece. Miguel Díaz-Canel [ditador de Cuba], Nicolás Maduro [Venezuela] e Daniel Ortega [Nicarágua] não serão mais recompensados, e conteremos a crescente influência de nossos adversários.
Em uma entrevista recente à Gazeta do Povo, a senhora defendeu a retirada do visto norte-americano de Alexandre de Moraes e de outras autoridades brasileiras acusadas de limitar a liberdade de expressão. Em resposta, o magistrado ironizou essa possibilidade. O governo Trump implementará políticas para investigar supostas violações de direitos humanos cometidas pela Suprema Corte brasileira?
Autoritários de esquerda dizem que isso não os afeta, mas são os primeiros a enviar suas famílias para férias caras em Miami e a comprar imóveis nos Estados Unidos. Trump cercou-se de pessoas como Elon Musk, que têm plena consciência das violações de liberdade de expressão perpetradas pelo ministro Moraes contra seu próprio povo. O Congresso também está ciente disso e continuará monitorando a situação de perto. O governo dos EUA não deve mais continuar recompensando governos na América Latina que violam o direito de liberdade de expressão de seus cidadãos.
Há planos para fortalecer a cooperação entre os EUA e países latino-americanos no combate ao narcotráfico e ao crime organizado?
Trabalhar com governos de mentalidade semelhante, que sejam duros contra o crime, como o de Javier Milei na Argentina, será crucial para reduzir a criminalidade em nosso hemisfério. Nossa abordagem de tolerância zero será aplicada em todos os lugares.
Como os republicanos pretendem lidar com as influências de grupos que afetam o debate democrático na América Latina — ONGs, fundações ligadas a George Soros e influenciadores extremistas como Felipe Neto e Sleeping Giants?
Como Secretário de Estado, o senador Rubio poderá revisar os subsídios atuais dos Estados Unidos para garantir que não estejam promovendo políticas socialistas, como o silenciamento da liberdade de expressão.
A nova administração cogita reformular as políticas de imigração para apoiar dissidentes de regimes autoritários, especialmente na América Latina?
Os Estados Unidos sempre acolherão aqueles que apresentarem pedidos legais de asilo para viver neste país. Muitos que escapam de perseguições políticas por razões legítimas devem ter permissão para buscar refúgio na liberdade americana.
A senhora é uma congressista muito popular entre a comunidade brasileira na Flórida. Como é sua relação com jornalistas, ativistas, intelectuais e outros cidadãos que se mudaram para os EUA em virtude do atual cenário político no Brasil? Os brasileiros no sul da Flórida entendem, assim como os membros da minha comunidade cubano-americana, quais são os perigos do socialismo. Durante meses, a comunidade brasileira aqui soou o alarme sobre os perigos do silenciamento da liberdade de expressão pelo Supremo Tribunal Federal, e ouvimos seus alertas. Continuarei a trabalhar com membros da diáspora brasileira e seus líderes para garantir que seus interesses sejam representados no Congresso.
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