Nenhum estado brasileiro tem mais municípios que Minas Gerais: são 853. Destes, 29 estão na lista dos 100 melhores do Brasil, no ranking das melhores cidades elaborado pela Gazeta do Povo com base em 21 critérios.
Guaxupé, no sul do Estado, alcançou a maior nota entre os municípios mineiros. Os 7,59 pontos, numa escala de zero a 10, também levaram a cidade ao quarto lugar nacional. A primeira colocada no ranking, São Caetano do Sul (SP), obteve 7,77.
O centro de Guaxupé tem exatamente o que se esperaria de uma cidade no sul de Minas Gerais uma catedral imponente, ruas de paralelepípedo e uma praça bem cuidada com pedras portuguesas onde crianças brincam despreocupadas. Em 2022 (ano dos últimos dados consolidados), não houve homicídios no município.
Mas Guaxupé é mais do que uma pequena cidade pacata. O município de 51 mil habitantes tem 4 mil vagas de ensino superior. E, apesar do tamanho modesto, a cidade possui o próprio cinema.
A boa comida e a hospitalidade local vêm de brinde.
Produção cafeeira traz autossuficiência às famílias de Guaxupé
O secretário de Governo de Guaxupé, Renato Gouvêa, diz que o café é o principal motor da indústria local. A Cooperativa Regional dos Cafeicultores de Guaxupé é a maior cooperativa de café do mundo. Sozinha, ela produz 4% do café do planeta.
A produção cafeeira impulsiona a economia da cidade. Mas não é só isso: a maior parte da produção está concentrada nas mãos de agricultores familiares. “São 20 mil cooperados, e 80% são pequenos proprietários”, estima o secretário. Essa característica torna Guaxupé um município com baixos índices de desigualdade e um alto grau de estabilidade econômica.
A cidade também mantém a própria Guarda Civil Municipal, com cerca de 40 homens armados. O efetivo é maior do que o da Polícia Militar (mantida pelo estado) no município. "Quase nenhum município do porte de Guaxupé tem isso", afirma Gouvêa.
A continuidade no comando da prefeitura também ajuda no planejamento: o grupo político atualmente no poder em Guaxupé só perdeu uma eleição desde 1996.
Economia impulsiona bons números de Extrema
Com 53,4 mil habitantes, a segunda colocada na lista tem um desempenho semelhante a Guaxupé na maior parte dos indicadores. Em Extrema, a taxa de alfabetização está acima de 96%. Mas, embora também tenha bons índices de segurança e infraestrutura, o município se destaca pela força econômica.
Perto da divisa com São Paulo e cortada pelo Rio Jaguari, Extrema se transformou em um polo industrial, e mais recentemente passou a concentrar empresas de comércio eletrônico. A localização estratégica, na divisa com São Paulo e às margens da rodovia Fernão Dias, explica o sucesso econômico da cidade. De lá, é possível chegar à capital paulista em uma hora e meia de estrada.
Extrema tem um PIB per capita sete vezes o nacional (R$ 362,6 mil reais) e um índice de emprego altíssimo (o número de pessoas com emprego formal equivale a 70,3% da população total). O desenvolvimento econômico gera recursos para os cofres da prefeitura, o que permite à gestão municipal manter a casa em ordem. Uma das praças centrais da cidade tem não um nem dois, mas três chafarizes (e, o que é mais raro ainda, todos em pleno funcionamento).
Veja a lista com as dez maiores notas de Minas Gerais
1. Guaxupé - 7,59
2. Extrema - 7,47
3. Comendador Gomes - 7,35
4. Estrela do Indaiá - 7,35
5. Luz - 7,34
6. Pirajuba - 7,33
7. Pains - 7,32
8. Capitólio - 7,32
9. Santa Juliana - 7,31
10. Lavras - 7,30
Boa gestão não é tudo
As prefeituras das cidades com as maiores notas no ranking elaborado pela Gazeta do Povo têm do que se orgulhar. Alguns dos índices medidos, como a infraestrutura urbana, dependem diretamente da eficiência do poder público.
Mas também é verdade que fatores históricos, demográficos e até climáticos também contribuem para a qualidade de vida.
Guaxupé e Extrema são povoações relativamente recentes (menos de 200 anos), quando o ciclo do ouro já havia se esgotado há muito tempo. Em vez da combinação entre mão de obra escrava e extrativismo, essas cidades se desenvolveram com a agricultura (sobretudo do café). Quando o ouro acaba, não há o que fazer. Já a agricultura tem uma resiliência maior.
O solo fértil e a proximidade com o estado de São Paulo também contribuem para o bom desempenho dessas cidades. Um morador de Guaxupé pode ter um emprego em Tapiratiba (SP), desde que esteja disposto a dirigir 25 minutos para chegar ao trabalho.
Veja abaixo outros destaques das cidades mineiras no ranking elaborado pela Gazeta do Povo.
Melhores cidades de Minas Gerais na categoria Educação
Florestal, com 8.200 habitantes, tem uma boa taxa de alfabetização (96%) e um número surpreendentemente alto de vagas no ensino superior (530). O desempenho acima da média no IDEB (prova que mede a qualidade da educação básica) também contribuiu para a nota da cidade.
1. Florestal - 8,75
2. Belo Horizonte - 8,74
3. Itajubá - 8,74
4. Lavras - 8,71
5. Ipatinga - 8,63
As maiores notas no quesito Economia
Com a maior nota nessa categoria, São Gonçalo do Rio Abaixo se beneficia da exploração minério de ferro pela Vale. Logo atrás no ranking, Catas Altas tem o maior PIB (Produto Interno Bruto) per capita do país: R$920,8 mil. O número é fruto da pequena população (cerca de 5,5 mil habitantes) combinadas com a intensa mineração de ouro na cidade.
1. São Gonçalo do Rio Abaixo - 7,79
2. Catas Altas - 7,74
3. Extrema - 7,58
4. Itatiaiuçu - 7,49
5. Conceição do Mato Dentro - 7,29
Os destaques na categoria Saúde
As cinco maiores notas de Minas Gerais nesse quesito ficaram com cidades acima de 100 mil habitantes. Com ampla vantagem, a capital mineira ocupa o primeiro lugar. Não é exatamente uma surpresa: Belo Horizonte tem sete médicos para cada 100 mil habitantes, o maior número do Estado.
1. Belo Horizonte - 8,44
2. Uberlândia - 7,93
3. Contagem - 7,03
4. Nova Lima - 6,63
5. Barbacena - 6,55
Melhores notas em Infraestrutura Urbana
Cento e oitenta quilômetros ao sul de Belo Horizonte, Santa Cruz de Minas obteve uma nota quase perfeita no indicador que mede, dentre outros fatores, a pavimentação das ruas e a cobertura da rede de esgoto
1. Santa Cruz de Minas - 9,93
2. Sete Lagoas - 9,84
3. Poços de Caldas - 9,84
4. Varginha - 9,83
5. Pirajuba - 9,82
As melhores cidades de Minas Gerais com mais de 50 mil habitantes
A vida em uma cidade pequena pode oferecer tranquilidade e paz de espírito, mas não é para todos. Além disso, os números reduzidos podem causar algumas distorções nos índices per capita. Quando se retiram da lista as cidades com menos de 50 mil habitantes, restam 72 municípios mineiros.
Guaxupé e Extrema continuam no topo do ranking das cidades mineiras, mas outros municípios passam a integrar o grupo dos dez melhores. Belo Horizonte, em trigésimo lugar nesse grupo, ficou de fora.
1. Guaxupé - 7,59
2. Extrema - 7,47
3. Lavras - 7,30
4. Varginha - 7,27
5. Uberlândia - 7,26
6. Itajubá - 7,26
7. João Monlevade - 7,20
8. Uberaba - 7,11
9. Nova Lima - 7,11
10. Ipatinga - 7,09
Veja abaixo outros rankings específicos das cidades mineiras com mais de 50 mil moradores.
As cidades mais seguras acima de 50 mil habitantes
Além de Guaxupé, que não teve homicídios em 2022, outras cidades mineiras se destacam com um desempenho acima da média no quesito segurança pública. Nova lima, com mais de 110 mil habitantes, teve três assassinatos naquele ano.
1. Guaxupé - 10
2. Nova Lima - 9,49
3. João Monlevade - 9,47
4. São João del Rei - 9,15
5. Uberlândia - 9,09
O ranking de Economia entre as cidades com mais de 50 mil habitantes
Entre as cidades de Minas Gerais com mais de 50 mil habitantes, Extrema tem o maior PIB per capita (mais de 360 mil reais). Além disso, a cidade alcançou um alto índice de emprego: o número de pessoas formalmente empregadas no setor privado equivale a 70,4% da população (em Belo Horizonte, por exemplo, esse indicador é de 42,5%).
1. Extrema - 7,58
2. Nova Lima - 6,78
3. Itabirito - 6,61
4. Itabira - 5,86
5. Mariana - 5,83
Capital lidera ranking de Educação
Belo Horizonte, que bons índices de alfabetização e uma extensa oferta de cursos universitários, ficou no topo da lista na categoria Educação. As outras quatro cidades na lista também abrigam grandes instituições de ensino superior.
1. Belo Horizonte - 8,74
2. Itajubá - 8,74
3. Lavras - 8,71
4. Ipatinga - 8,63
5. Juiz de Fora - 8,60
Os destaques no quesito Infraestrutura Urbana
Poços de Caldas quase alcançou a nota máxima nesse quesito entre as cidades com mais de 50 mil habitantes: sem favelas, e com praticamente todas as casas ligadas à rede de água e esgoto, o município só precisa progredir no indicador que mede o índice de ruas pavimentadas e com meio fio (atualmente em 95,5%).
1. Poços de Caldas - 9,84
2. Sete Lagoas - 9,84
3. Varginha - 9,83
4. Lavras - 9,79
5. Campo Belo - 9,79
As cidades de Minas Gerais com as piores notas
No ranking geral, a menor nota entre as cidades de Minas Gerais ficou com São Sebastião da Anta. Lá, o número de empregos formais no setor privado equivale a apenas 5,2% da população. São 324 empregos para cerca de 6.200 moradores. A taxa de homicídios em 2022 foi de 64,5 por 100 mil habitantes. Mais de 40% das casas não têm abastecimento de água. Não há bibliotecas públicas. Faltam médicos, e a cidade não possui leitos de internação.
Veja os cinco municípios mineiros com as menores notas no ranking da Gazeta do Povo.
849. Fernandes Tourinho - 4,15
850. Galileia - 4,14
851. Amparo do Serra - 4,11
852. São João das Missões - 4,10
853. São Sebastião do Anta - 4,07
Entre as cidades mineiras acima de 50 mil habitantes, Esmeraldas ficou em último lugar. O município, na região metropolitana de Belo Horizonte, sofre com uma infraestrutura precária. Não há faculdades ou salas de cinema no município de mais de 100 mil moradores. Boa parte dos moradores trabalha em outros municípios e mora em Esmeraldas por causa do custo de vida menor.
Veja quais são os últimos colocados no ranking das cidades mineiras acima de 50 mil habitantes.
68. Pirapora - 5,69
69. Vespasiano - 5,67
70. São Francisco - 5,53
71. Timóteo - 5,49
72. Esmeraldas - 5,49
Como a nota foi calculada
Os 21 indicadores coletados pela Gazeta do Povo foram agrupados em dez categorias, que receberam pesos distintos de acordo com a importância. Veja a lista completa dos dados utilizados, acompanhados das respectivas fontes.
1. Educação - Peso 1,5
-IDEB Ensino Fundamental - anos finais (2021)
-IDEB Ensino Médio (2021)
-Índice de analfabetismo (Censo 2022)
-Vagas de ensino superior (Censo da Educação Superior 2022)
2. Taxa de homicídios (IPEA, 2022) - Peso 1,5
3 . Saúde - Peso 1,5
-Número de leitos hospitalares (DataSUS, 2024)
-Mortes evitáveis (DataSUS, 2024)
-Número médicos (DataSUS, 2024)
4. Economia - Peso 1,5
-PIB (Produto Interno Bruto) per capita (IBGE, 2021)
-População empregada (Caged, 2024)
5. Infraestrutura - Peso 1,5
-Vias públicas com pavimentação e meio-fio na área urbana (IBGE, 2021)
-Domicílios ligados à rede de esgoto (IBGE, 2021)
-Abastecimento de água (IBGE, 2021)
-Aglomerados subnormais (favelas) (IBGE, 2021)
-Domicílios com coleta de lixo 2022 (IBGE, 2021)
6. Expectativa de vida (IBGE, 2021) - Peso 1
7. Mortes no Trânsito (DataSUS, 2022)- Peso 1
8. Suicídios (IPEA, 2021) - Peso 1
9. Cultura - Peso 1
-Salas de cinema (Ancine, 2023)
-Bibliotecas públicas (Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, 2023)
10. Famílias em situação de rua (Cadastro Único para Programas Sociais, 2023) - Peso 1
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