Com apenas 11 anos, Desmond é considerado pela drag queen RuPaul “o futuro dos Estados Unidos”.| Foto: Instagram

Desmond tem onze anos. Mais do que uma criança – e uma criança autista – ele é um ícone da comunidade LGBT. Você leu certo. Desmond tem onze anos, é autista e está sendo usado como símbolo da causa queer, drag e até trans pela comunidade LGBT. Como atração bizarra do mundo fashion, ele também é uma fonte de renda para os pais.

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Num vídeo gravado para o site de variedades Mashable, o próprio Desmond, que se faz chamar de Desmond Is Amazing (“Desmond é Incrível”), conta que despertou como drag kid aos cinco anos de idade, ao assistir ao programa RuPaul’s Drag Race, no qual drag queens de todo os Estados Unidos concorrem para se tornarem estrelas dessa subcultura.

Usando uma saia tutu com as cores do arco-íris e maquiagem pesada, o menino, falando com trejeitos afeminados, arranca risadas dos entrevistadores. E ele começa passando mensagens que parecem ensaiadas na boca de uma criança da sua idade. “Você deve ser sempre quem é e ter orgulho, não importa o que lhe digam”, prega Desmond Is Amazing, como se recitasse algo previamente decorado.

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Ele conta que, depois de assistir ao reality show de drag queens de RuPaul, passou a usar as roupas e acessórios da mãe e a andar pela casa de toalha na cabeça, como se fosse uma peruca. Aos seis ou sete anos, sem saber se maquiar direito, desistiu. Até ser incentivado por um ensaio fotográfico que fez para o Hardy Zine – publicação voltada para o chamado “ativismo de hashtag”. A partir daí, o menino se sentiu empoderado, como se diz, para se maquiar. No vídeo ele aparece passando batom (sem muita desenvoltura).

RuPaul é o ídolo máximo de Desmond Is Amazing. O menino relata empolgado o momento em que o encontrou. RuPaul, para quem não conhece, é a drag queen mais famosa, importante e influente dos Estados Unidos – e, consequentemente, do mundo. Ao ser recebido por RuPaul, Desmond conta que foi chamado pelo ídolo de “o futuro dos Estados Unidos”.

Lucro e influência dos pais

Tanto a mãe, Wendy, quanto o pai de Desmond Is Amazing estão por trás da fama do filho como drag kid – como ele faz questão de ser chamado. No vídeo, Wendy descreve o filho como uma pessoa criativa e um “livre-pensador”. Em entrevistas para o Good Morning America, ela celebra a “individualidade” do filho, dizendo ainda que a cultura drag ajuda o menino a combater os sintomas do autismo.

Mas não é só isso, claro. A mãe e pai trabalham em tempo integral para administrar as contas do filho nas redes sociais e também a agenda do menino, que se apresenta em casas noturnas, em apresentações que, garante Wendy, não têm qualquer temática adulta. Pelas apresentações, o menino recebe gorjetas que estariam sendo depositadas numa conta à qual Desmond teria acesso quando completasse 18 anos.

Ser mãe de Desmond, portanto, se tornou uma profissão. E, dada a exposição recente do menino, é de se pressupor que seja uma profissão bastante lucrativa.

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Diante das câmeras, contudo, Wendy expressa somente o que ela entende por bons sentimentos, dizendo que os pais devem ensinar os filhos a fazerem a coisa certa, a crescerem para se tornarem bons cidadãos. Cidadãos, não indivíduos.

Nem todo mundo, porém, está feliz com o uso de Desmond tanto pelos pais quanto pelos ativistas da comunidade LGBTQ+. O Serviço de Proteção às Crianças de Nova York recebe ligações rotineiras de estranhos acusando os pais de Demond de exporem o filho rotineiramente a ambientes inadequados para uma criança. Hoje, o Serviço de Proteção às Crianças de Nova York tem mais de 200 casos abertos contra os pais de Desmond.