Jakub Janda, diretor adjunto do European Values, um think tank que já trabalhou com o East Stratcom| Foto: Dmitry Kostyukov/NYT

Eles vasculham sites da internet e redes sociais, examinando centenas de notícias diariamente. E as falsas alegações não param de aparecer. Os alemães estão fugindo do país com medo dos refugiados muçulmanos; o governo sueco apoia o Estado Islâmico; a União Europeia elaborou regras para regular a etnia dos bonecos de neve.

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No escritório amplo, com vista para uma grande avenida de Bruxelas, uma equipe de 11 pessoas conhecida como East Stratcom, serve como linha de frente europeia contra a investida de notícias falsas.

Criada pela UE para combater as “constantes campanhas de desinformação da Rússia”, a equipe, composta por diplomatas, burocratas e ex-jornalistas, verifica matérias jornalísticas para determinar se são falsas. Em seguida, desmente as histórias aos leitores desafortunados. Nos 16 meses desde que começou o trabalho, o grupo já desmentiu 2.500 histórias, muitas delas com ligações com os russos.

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Em um ano em que franceses, alemães e holandeses vão eleger seus líderes, as autoridades europeias estão lutando para combater a maré de notícias falsas e a propaganda contra a EU, destinadas a desestabilizar a confiança da população nas instituições.

Quatro perguntas para ajudar você a identificar uma notícia falsa

Ao mesmo tempo em que as autoridades brincam de pega-pega com hackers sofisticados e operações de notícias falsas, temem que a Europa e suas eleições se vejam vulneráveis em um momento crítico: o projeto de unidade da região, que tem décadas de idade, está em cheque, desafiado por forças populistas dentro do bloco e por pressões da Rússia e de outros lugares.

“Se analisarmos como a mídia europeia, e até mesmo os grandes meios de comunicação americanos, estão cobrindo o assunto agora, eu diria que esse grupo de pessoas conseguiu chamar a atenção”, disse Jakub Janda, diretor adjunto do European Values, um think tank baseado em Praga que já trabalhou com o East Stratcom.

Raiva populista

Muitas afirmações falsas têm como alvo os políticos que representam os maiores obstáculos à meta de Moscou de minar a UE; outras procuram retratar os refugiados do Oriente Médio como terroristas ou estupradores, fomentando a raiva populista.

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Na França, o líder do partido En Marche! disse, em meados de fevereiro, que canais de notícias russos tinham como alvo o candidato presidencial Emmanuel Macron, cuja plataforma é pró-UE. Richard Ferrand, o secretário-geral do partido, disse que os bancos de dados e sites da campanha haviam sofrido “centenas, senão milhares”, de ataques vindos da Rússia.

Muitos governos compartilham a preocupação de que as notícias mentirosas possam se tornar uma arma. A propagação deste tipo de material pode acabar comprometendo nossas instituições democráticas

Damian Collins político britânico

A equipe do East Stratcom é a primeira a admitir que seu poder de fogo é pequeno: a tarefa é imensa, o volume de notícias é descomunal, o apoio para combatê-las é escasso.

A equipe tenta desmascarar notícias falsas em tempo real no Facebook e no Twitter e publica relatórios diários e um boletim semanal sobre histórias falsas para seus mais de 12 mil seguidores em mídias sociais.

Mas a lista de 2.500 matérias falsas é pequena se comparada à enxurrada diária que chega à internet. Seria quase impossível apontar todas as notícias mentirosas e as reportagens falsas que a equipe combate normalmente têm uma audiência muito maior do que a matéria que as desmente.

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Um dos maiores problemas que os formuladores de políticas em toda a Europa enfrentam é a falta de especialistas em tecnologia. A Alemanha aprovou recentemente uma lei de segurança cibernética que necessitava de uma equipe de resposta rápida para combater ataques de hackers. Porém, as autoridades reconheceram que precisariam de três equipes, mas que não encontravam pessoas para formá-las.

“Muitos governos compartilham a preocupação de que as notícias mentirosas possam se tornar uma arma. A propagação deste tipo de material pode acabar comprometendo nossas instituições democráticas”, disse Damian Collins, político britânico responsável por um novo inquérito parlamentar que averigua o fenômeno.

Vulnerabilidade

Apesar das propostas de combate às notícias falsas, os especialistas se perguntam se a verificação de fatos, feita por governos e grupos de mídia, terá um efeito significativo. Matérias falsas podem facilmente ser compartilhadas através de redes sociais com pouca, ou nenhuma, verificação de veracidade.

“A maioria já não se importa com a origem da notícia”, disse Mark Deuze, professor da Universidade de Amsterdã. E acrescentou que o número de matérias falsas cresceu muito antes das eleições nacionais do país, no mês que vem. “As pessoas estão expostas a uma quantidade absurda de informações on-line.”

As autoridades também estão atentas em relação a hackers que tentam se infiltrar nas contas de e-mail de candidatos e políticos para roubar informações comprometedoras.

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Especialistas em segurança advertem que, assim como o que ocorreu nos EUA, os políticos europeus permanecem altamente vulneráveis, embora as agências de inteligência nacional estejam agora reforçando protocolos de segurança dos legisladores.

Na Alemanha, onde a chanceler Angela Merkel enfrenta dura concorrência antes das eleições de setembro, o serviço de inteligência do país já relatou um aumento acentuado de ataques de phishing (uso de emails e websites falsos para roubar dados pessoais) visando partidos políticos e membros do parlamento do país nos últimos meses.

Eles atribuem essa atividade ao grupo de hackers conhecido como Fancy Bear, ou APT 28, que as agências de inteligência americanas ligaram ao hackeamento ao Comitê Nacional Democrata, antes da eleição presidencial. Autoridades de inteligência tanto americanas quanto alemãs acreditam que o grupo é operado pelo GRU, o serviço de inteligência militar russo.

Multas a gigantes

O governo alemão está estudando a possibilidade de multas pesadas aos gigantes da tecnologia, como Google e Facebook, cujas plataformas permitem que histórias falsas circulem rapidamente. Essas empresas, porém, insistem em dizer que não podem ser responsabilizadas, pois não geram as histórias.

Hans-Georg Maassen, o chefe do serviço de inteligência nacional da Alemanha, disse que, embora não haja nenhuma “evidência óbvia”, há uma grande probabilidade de a Rússia estar envolvida no aumento da desinformação on-line, que visa desestabilizar a política alemã.

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Não se trata apenas de desmascarar mentiras. O que estamos tentando fazer é lidar com o conteúdo, não com a fonte.

Jenni Sargent diretora-geral da First Draft News

“O que faz os ataques cibernéticos tão atraentes para potências estrangeiras é que é quase impossível encontrar provas do crime. Sempre é possível esconder seus rastros e operar disfarçado”, disse Maassen em uma entrevista à Phoenix TV em 12 de fevereiro.

Os gigantes americanos da tecnologia também entraram em cena depois que foram acusados de não tomar uma atitude em relação às notícias falsas em suas plataformas, mas que Facebook, Google e outras empresas negam. Eles agora estão financiando iniciativas nos Estados Unidos, na França e em outros países para marcar notícias falsas on-line e remover posts que violem seus termos de serviço ou leis locais.

“Não se trata apenas de desmascarar mentiras. O que estamos tentando fazer é lidar com o conteúdo, não com a fonte”, disse Jenni Sargent, diretora-geral da First Draft News, organização sem fins lucrativos parcialmente financiada pelo Google e que rapidamente cresce na França antes das eleições do país, bem como em toda a Europa e outros continentes.

Tais esforços ganharam força em toda a Europa desde a eleição presidencial dos Estados Unidos.

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Logo após a vitória do Donald Trump, em novembro, David Alandete reuniu sua equipe na redação do jornal El País, no centro de Madrid, com um objetivo em mente: responder às notícias falsas.

Como muitos jornalistas, o editor-chefe do jornal espanhol e ex-correspondente nos EUA viu ondas de denúncias falsas durante a campanha presidencial, muitas dirigidas ao México – país que contabiliza cerca de metade dos leitores on-line de El País.

“A vitória de Trump foi um ponto de virada para nós. Muitos dos nossos leitores já não sabiam se poderiam visitar os EUA”, disse Alandete.

Os partidos populistas e a desconfiança dos meios de comunicação tradicionais começaram a crescer na Espanha, assim como outros países que passam por dificuldades financeiras. Esse ambiente gerou uma leva de notícias falsas ou enganosas, que visavam promover certas visões políticas ou minar a credibilidade alheia.

Para combater esse tipo de matéria e, em parte, atendendo a seus leitores mexicanos, El País começou a ampliar seu trabalho de verificação no final do ano passado, que incluiu a contratação de cinco outros repórteres para desmentir falsas reportagens on-line e começar um blog chamado “Hechos”, “Fatos” em espanhol, para desmascarar os piores mentirosos.

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“Muita gente não acredita mais nas instituições. Vemos notícias falsas vindas de todos os lados”, disse Alandete.