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Margaret Thatcher: enfrentamento corajoso dos sindicatos e privatização como receitas para a prosperidade do Reino Unido.
Margaret Thatcher: enfrentamento corajoso dos sindicatos e privatização como receitas para a prosperidade do Reino Unido.| Foto: REUTERS

Os socialistas gostam de dizer que o socialismo nunca fracassou porque nunca foi posto em prática. Mas a verdade é que o socialismo fracassou em todos os países onde foi posto em prática, desde a União Soviética, no começo do século passado, até três países contemporâneos que experimentaram mas acabaram rejeitando o socialismo – Israel, Índia e Reino Unido.

Apesar de haver grandes diferenças políticas entre o governo totalitário dos soviéticos e a democracia israelense, indiana e britânica, esses três últimos países adotaram princípios socialistas, nacionalizando seus principais setores e colocando a tomada de decisões econômicas nas mãos do governo.

O fracasso soviético foi bem documentado pelos historiadores. Em 1985, o secretário geral Mikhail Gorbachev assumiu o comando de um império falido e em desintegração. Depois de 70 anos de marxismo, as fazendas soviéticas eram incapazes de alimentar as pessoas, a fábricas não conseguiam cumprir as quotas de produção, as pessoas faziam fila em Moscou e em outras cidades para comprar pão e outros itens de primeira necessidade, e a guerra no Afeganistão se arrastavam, sem fim no horizonte de corpos de jovens soldados soviéticos.

As economias dos países comunistas por trás da Cortina de Ferro pareciam infalíveis porque elas funcionavam, em grande medida, como colônias da União Soviética. Sem incentivos à competição e modernização, o setor industrial da Europa Central e Oriental se transformou num monumento à ineficiência burocrática e ao desperdício, um “museu da era industrial”. Como mencionou o New York Times na época, Cingapura, uma cidade-estado asiática de apenas 2 milhões de habitantes, exportava 20% mais maquinário para o Ocidente em 1987 do que toda a Europa Oriental.

Ainda assim, o socialismo continuou atraindo os principais intelectuais e políticos do Ocidente. Eles não resistiam ao canto da sereia de um mundo que não tinha conflitos porque não tinha propriedade privada. Eles estavam convencidos de que os burocratas eram capazes de tomar decisões melhores do que os indivíduos sobre o bem-estar das pessoas. Eles acreditavam, juntamente com John Maynard Keynes, que “o Estado é sábio e o mercado, estúpido”.

Israel, Índia e o Reino Unidos adotaram o socialismo como modelo econômico depois da Segunda Guerra Mundial. No preâmbulo da Constituição indiana, por exemplo, lê-se: “Nós, o Povo da Índia, tendo solenemente decidido transformar a Índia na República Democrática Secular Socialista Soberana (...)”. Os colonos originais da Israel eram judeus de esquerda do Leste Europeu que queriam criam uma sociedade socialista. Assim que as armas da Segunda Guerra Mundial silenciaram, o Partido Trabalhista do Reino Unido nacionalizou todas as principais indústrias e cedeu a todas as exigências socialistas dos sindicatos.

A princípio, o socialismo pareceu dar certo nesses países muito diferentes entre si. Nas primeiras duas décadas de existência, a economia israelense cresceu a uma taxa superior a 10%, o que levou muitos a chamarem Israel de “um milagre econômico”. O crescimento médio do PIB indiano desde a sua fundação, em 1947, até os anos 1970, foi d e 3,5%, colocando a Índia entre os mais prósperos países em desenvolvimento. O crescimento médio do PIB no Reino Unido foi de 3% de 1950 a 1965, e o país teve um aumento de 40% nos salários médios, o que permitiu que o país se tornasse um dos mais ricos do mundo.

Mas os planejadores não foram capazes de acompanhar o crescimento populacional e a concorrência internacional. Depois de décadas de crescimento econômico em queda e desemprego em alta, os três países abandonaram o socialismo e recorreram ao capitalismo e ao livre mercado. A prosperidade resultante de Israel, Índia e Reino Unido vingaram os defensores do livre mercado que previam que a produção de bens sob o socialismo inevitavelmente fracassaria. Como disse a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, “o problema do socialismo é que no fim do dinheiro das outras pessoas acaba”.

Israel - bateu na trave, mas fracassou

Israel é um caso único de país onde o socialismo foi bem-sucedido – por um tempo. Os colonos originais, de acordo com o professor Avi Kay, “buscavam criar uma economia na qual as forças do mercado eram controladas para o bem de toda a sociedade”. Levados pelo desejo de deixar para trás a história de vítimas da pobreza e preconceito, eles buscavam uma sociedade socialista e igualitária voltada para o trabalho. A população homogênea inicial de Israel, de menos de 1 milhão de pessoas, elaborou planos centralizados para transformar o deserto em pastos verdejantes e criam empresas eficientes administradas pelo Estado.

De acordo com o estudioso do American Enterprise Institute Joseph Light, a maioria dos primeiros colonos trabalhavam ou nas fazendas coletivas, os kibutzim, ou em empregos garantidos pelo Estado. Os kibbutzim eram pequenas comunidades agrícolas nas quais as pessoas trabalhavam em troca de comida e dinheiro para viver e pagar as contas. Não havia propriedade privada, as pessoas comiam em áreas comuns e as crianças com menos de 18 anos viviam juntas, e não com os pais. Qualquer dinheiro ganho fora era dado ao kibbutz.

Uma instituição importante na socialização de Israel foi a Histadrut, a Federação Geral do Trabalho, seguidora do dogma socialista de que o capital explora o trabalho e que a única forma de evitar tal “roubo” é dar o controle dos meios de produção ao Estado. À medida que sindicalizava os trabalhadores, a Histadrut assumia o controle de quase todos os setores da economia e sociedade, incluindo os kibbutzim, moradia, transporte, bancos, assistencialismo, saúde e educação. O instrumento político da Federação era o partido Trabalhista, que governo Israel desde sua função, em 1948, até 1973 e a Guerra do Yom Kippur. Nos primeiros anos, poucos perguntavam se havia algum limite a ser imposto ao papel do governo.

O desempenho econômico do Israel parecia confirmar a opinião de Keynes. O crescimento real do PIB entre 1955 e 1975 foi de impressionantes 12,6%, o que colocou Israel entre as economias que mais cresciam no mundo, com uma das menores taxas de desigualdade. Mas esse crescimento rápido foi acompanhado por níveis crescentes de consumo privado e, com o tempo, de desigualdade de renda. Havia uma demanda crescente por reformas econômicas que se afastassem do governo tomador de decisões e se aproximassem do livre mercado. Em 1961, os defensores da liberalização econômica formaram o partido Liberal – o primeiro movimento político comprometido com a economia de mercado.

O “milagre econômico” israelense evaporou em 1965, quando o país enfrentou sua primeira grande recessão. A economia ficou estagnada e o desemprego triplicou entre 1965 e 1967. Antes que o governo pudesse tentar corrigir a situação, a Guerra dos Seis Dias eclodiu, transformando a economia e o mapa político de Israel. Paradoxalmente, a guerra gerou uma prosperidade passageira a Israel por causa dos gastos militares e da chegada de trabalhadores de novos territórios. Mas o crescimento econômico liderado pelo governo foi acompanhado por uma inflação galopante que chegou a 17% entre 1971 e 1973.

Pela primeira vez, houve um debate público entre os defensores da economia baseada na iniciativa privada e os defensores do arranjo socialista tradicional. Quem abriu caminho para o livre mercado foi o futuro ganhador do prêmio Nobel de Economia Milton Friedman, que conclamou os legisladores israelenses a “libertarem seu povo” e liberalizarem a economia. A guerra de 1973 e seus impactos econômicos reforçaram a sensação de muitos israelenses de que o modelo socialista do partido Trabalhista não era capaz de enfrentar os crescentes desafios econômicos do país. As eleições de 1977 resultaram na vitória do partido Likud, que sua filosofia explicitamente pró-mercado. O Likud incluiu em sua coalizão o partido Liberal.

Como as raízes socialistas em Israel eram profundas, a reforma de verdade avançou devagar. Friedman foi chamado para elaborar um programa que afastaria o país do socialismo e o aproximaria da economia de mercado. Entre suas principais reformas estavam a diminuição dos programas governamentais e dos gastos estatais, menos intervenção do Estado nas políticas trabalhistas, comerciais e fiscais, diminuição do imposto de renda e privatização. Teve início um grande debate entre autoridades do governo que queriam a reforma e interessados que preferiam manter a situação.

Enquanto isso, o governo insistia em emprestar dinheiro e gastar e alimentar a inflação, que foi de 77% entre 1978 e 1979 e chegou a 450% em 1984 e 1985. A participação do governo na economia aumentou para 76%, enquanto os déficits fiscal e nacional estouraram. O governo imprimia dinheiro por meio de empréstimos feitos com o Banco de Israel, o que contribuiu para o aumento da inflação.

Por fim, em janeiro de 1983, a bolha estourou e milhares de cidadãos e empresas, além de empreendimentos estatais, faliram. Israel estava próximo do colapso. Neste momento crítico, o solidário presidente norte-americano Ronald Reagan e seu secretário de Estado, George Shultz, se puseram a ajudar. Eles ofereceram um acordo de US$1,5 bilhões se o governo israelense abandonasse seu manual socialista e adotasse alguma forma de capitalismo ao estilo americano, usando profissionais formados nos Estados Unidos.

A Histadrut resistiu porque não estava disposta a abdicar de décadas de poder e a aceitar que o socialismo era o responsável pelos problemas econômicos de Israel. Mas as pessoas estavam cansadas da inflação e da falta de crescimento, e rejeitaram a política de resistência da Histadrut. Ainda assim, o governo israelense hesitava, sem disposição para gastar seu capital político com a reforma econômica. Um exasperado secretário Schulz disse a Israel que, se o país não começasse a abrir a economia, os EUA congelariam “todas as transferências monetárias” para o país. A ameaça deu certo. O governo de Israel adotou oficialmente a maior parte das “recomendações” do livre mercado.

O impacto da mudança na economia israelense foi imediata e abrangente. Em um ano, a inflação caiu de 450% para apenas 20%, o déficit de 15% do PIB caiu para zero, o império econômico e empresarial da Histadrut desapareceu juntamente com seu domínio político, e a economia israelense foi aberta à importação. Importante também foi a revolução tecnológica israelense, que gerou um aumento de 600% no investimento em Israel, transformando o país num importante ator no mundo da alta tecnologia.

Houve sérios efeitos colaterais como desigualdade social, pobreza e preocupações quanto à justiça social, mas a retórica e ideologia socialistas, de acordo com Glenn Frankel, correspondente do Washington Post em Israel, “foi para sempre aposentada”. O partido Trabalhista apoiou a privatização e o desinvestimento de várias empresas públicas que se corromperam e se tornaram um cabide de empregos, um lugar de regras trabalhistas rígidas, contabilidade fraudulenta, favoritismo e administração incompetente.

Depois de um crescimento modesto nos anos 1990, o crescimento econômico de Israel alcançou os melhores índices do mundo em desenvolvimento nos anos 2000, impulsionado pela baixa inflação e a redução no tamanho do governo. O desemprego ainda era alto e os impostos consumiam até 40% do PIB, boa parte disso causado pela necessidade de um exército inchado. Mas os partidos políticos concordaram que não há como voltar às políticas econômicas dos primeiros anos — a discussão é quanto ao tamanho das reformas adicionais. “A experiência socialista mais bem-sucedida do mundo”, escreveu Light, “parece ter de uma vez por todas aceitado o capitalismo”.

Índia - o único país do mundo que punia a alta produtividade

O socialismo era aceito na Índia muito antes da independência, alimentado pelo ressentimento generalizado contra o colonialismo britânico e a casta proprietária de terras (os zamindares) e pelos esforços do Partido Comunista da Índia, criado em 1921. Jawaharlal Nehru adotou a ideologia socialista ao se tornar o primeiro primeiro-ministro indiano depois da independência, em 1947.

Durante quase 30 anos, o governo indiano seguiu a linha socialista, restringindo as importações, proibindo o investimento externo direto, protegendo as pequenas empresas da concorrência das grandes corporações e mantendo os preços controlados em vários setores, entre eles o aço, cimento, fertilizantes, petróleo e produtos farmacêuticos. Qualquer fabricante que excedesse sua capacidade autorizada podia ser preso.

Como escreveu o economista indiano Swaminathan S. Anklesaria Aiyar, “a Índia talvez fosse o único país do mundo onde melhorar a produtividade... era crime”. Era uma aplicação estrita do princípio socialista de que não se pode confiar no mercado para gerar progresso econômico e social. A desigualdade econômica era regulada por meio de impostos – a alíquota mais alta do imposto de renda chegou a inacreditáveis 97,75%.

Catorze bancos públicos foram nacionalizados em 1969; seis outros foram tomados pelo governo em 1980. De acordo com o princípio da “autossuficiência”, quase nada do que podia ser produzido internamente podia ser importado, independentemente do custo. Esse foi o ápice do socialismo indiano, ainda incapaz de satisfazer as necessidades básica de uma população em crescimento. Em 1977 e 1978, mais de metade dos indianos viva abaixo da linha de pobreza.

Ao mesmo tempo, nota o economista indiano-americano Arvind Panagariya, vários eventos externos abalaram o país, como a guerra contra o Paquistão em 1965, que ocorreu logo depois da guerra com a China em 1962; outra guerra com o Paquistão em 1971; secas consecutivas em 1971–72 e 1972–73; e a crise do petróleo em outubro de 1973, que contribuiu para uma deterioração de 40% no comércio exterior da Índia.

O desempenho econômico do país entre 1965 e 1981 foi pior do que em qualquer outro momento do período pós-independência. Como em Israel, as reformas econômicas se tornaram obrigatórias. A primeira-ministra Indira Gandhi afastou sua pauta política da esquerda o quanto pôde. Em 1980, o partido Congresso Nacional Indiano conquistou a maioria de dois terços do Parlamento e Gandhi finalmente adotou um rumo mais pragmático e menos ideológico. Mas, como tudo o mais na Índia, as reformas econômicas foram lentas.

Um acordo de políticas industriais deu continuidade ao afastamento do socialismo que teve início em 1975, permitindo que as empresas aumentassem sua capacidade, estimulando o investimento em vários setores e permitindo a participação da iniciativa privada nas telecomunicações. A liberalização da economia foi impulsionada ainda mais por Rajiv Gandhi, que sucedeu a mãe em 1984, depois do assassinato dela. Como resultado, o crescimento do PIB alcançou 5,5%.

A economia continuou se sobrepondo à ideologia com Rajiv Gandhi, que não carregava a bagagem socialista da geração anterior. Seu sucessor, P. V. Narasimha Rao, pôs um fim às quotas de produção em alguns setores e abriu as portas para o investimento estrangeiro. O ministro das Finanças, Manmohan Singh, diminuiu as alíquotas de 355% para 65%. De acordo com Arvind Panagariya, “o governo criou medidas liberais o bastante para colocar a economia no rumo de um crescimento sustentado de aproximadamente 6% no longo prazo”. Na verdade, o crescimento do PIB indiano alcançou um pico de mais de 9% entre 2005 e 2008, seguido por uma queda para pouco menos de 7% entre 2017 e 2018.

Uma consequência importante das reforças econômicas foi o aumento notável da classe média indiana. A revista The Economist estima que existam 78 milhões de indianos pertencentes às classes média e média-alta. Incluindo a classe média-baixa, os economistas Krishnan e Hatekar concluíram que a nova classe média da Índia aumentou, de 304,2 milhões em 2004 e 2005, para incríveis 606,3 milhões em 2011 e 2012, quase metade de toda a população. A renda diária dessas classes são: classe média-baixa, US$2–US$4; classe média, $4–$6; classe média-alta, $6–$10.

Apesar de serem valores muito baixos pelos padrões norte-americanos, o dólar vale muito na Índia, onde a renda anual per capita é de aproximadamente US$6,5 mil. Se apenas metade da classe média-baixa conseguir alcançar a renda da classe média e média-alta, isso significaria uma classe média indiana de 350 milhões de pessoas – um número intermediário entre as estimativas da Economist e de Krishnan e Hatekar. Uma classe média tão grande assim confirma a análise da Heritage Foundation, em seu Índice de Liberdade Econômica, de que a Índia está rumando para “uma economia aberta de mercado”.

Em 2017, a Índia superou a Alemanha como o quarto maior mercado automotivo do mundo, e espera-se que ela supere o Japão em 2020. Naquele mesmo ano, a Índia superou os Estados Unidos em vendas de smartphone, tornando-se o segundo maior mercado de smartphones no mundo. Geralmente retratado como um país agrícola, a Índia é hoje 31% urbanizada. Com um PIB anual de US$8,7 trilhões, a Índia é a quinta economia mundial, atrás dos Estados Unidos, China, Japão e Reino Unido. Nunca antes na história, disse o economista indiano Gurcharan Das, tantas pessoas ascenderam tão rapidamente.

Tudo isso foi possível porque os líderes políticos da Índia adotaram um sistema econômico melhor – a livre iniciativa – depois de quatro décadas de progresso medíocre e de prosperidade desigual sob o socialismo.

Reino Unido - guerra contra os sindicatos

Chamado de “o doente da Europa” depois de três décadas de socialismo, o Reino Unido passou por uma revolução econômica nos anos 1970 e 1980 por causa de uma pessoa notável – a primeira-ministra Margaret Thatcher. Os céticos duvidavam de que ela seria capaz – o Reino Unido da época era apenas uma sombra da sua próspera versão liberal.

O governo era proprietário das maiores indústrias em setores como automóveis e aço. As maiores alíquotas individuais chegavam a 83% da renda e até 98% sobre o capital. Boa parte das moradias eram do governo. Durante décadas, o Reino Unido cresceu mais devagar do que as outras economias do continente. A Grã-Bretanha não era mais “grande” e parecia destinada ao lixo econômico.

O maior empecilho para as reformas econômicas eram os poderosos sindicatos que, desde 1913, podiam gastar o dinheiro proveniente do fundo sindical na política, controlando o partido Trabalhista. Os sindicatos inibiam a produtividade e desestimulavam o investimento. De 1950 a 1975, os investimentos e produtividade do Reino Unido estavam entre os piores de todos os países industrializados. As exigências dos sindicatos incharam o setor público e levaram os gastos públicos para 59% do PIB. As exigências salariais e de benefícios levaram a greves contínuas que paralisaram os transportes e a produção.

Em 1978, o primeiro-ministro trabalhista James Callaghan decidiu que, em vez de convocar eleições, ele continuaria no poder até a primavera seguinte. Foi um erro fatal. Seu governo enfrentou o lendário “inverno do descontentamento” nos primeiros meses de 1979. Os funcionários públicos entraram em greve. Montanhas de lixo emporcalhavam as cidades. Corpos deixaram de ser enterrados e ratos corriam pelas ruas.

A recém-eleita primeira-ministra conservadora Margaret Thatcher, primeira mulher a assumir o cargo no Reino Unido, enfrentou o que ela considerava seu principal adversário – os sindicatos. Os piqueteiros errantes, soldados desse conflito que viajavam pelo país a fim de dar apoio a trabalhadores em greve, foram banidos e proibidos de bloquear fábricas e portos. As assembleias de greve foram tornadas obrigatórias. O sistema que obrigava os trabalhadores a entrarem para um sindicato a fim de encontrarem emprego foi proibido. A sindicalização, que chegou a 12 milhões de pessoas no fim dos anos 1970, caiu para metade disso no fim dos anos 1980. “É agora ou nunca para a nossa economia”, declarou Thatcher. “Vamos confiar no que acreditamos”. A maior alíquota do imposto de renda foi reduzida pela metade, para 45%, e os controles mercantis foram abolidos.

A privatização estava na essência da reforma de Thatcher. Ela não foi apenas fundamental para melhorar a economia. Ela era “um dos principais meios de reverter os efeitos corrosivos e corruptos do socialismo”, escreveu ela em suas memórias. Por meio da privatização que leva à propriedade a mais diversa possível por pessoas do povo, “o poder do Estado é reduzido e o poder das pessoas é aumentado”. A privatização “é essencial em qualquer programa de recuperação da liberdade”. Ela cumpriu suas promessas, vendendo companhias aéreas, aeroportos, serviços públicos, empresas de telefonia, aço e petróleo.

Nos anos 1980, a economia do Reino Unido cresceu mais do que qualquer outra economia europeia, exceto pela da Espanha. O investimento cresceu mais do que todos os outros países, exceto o Japão. A produtividade aumentou mais do que qualquer outro país industrializado. Cerca de 3,3 milhões de novos postos foram criados entre março de 1983 e março de 1990. A inflação diminuiu de 27% em 1975 para 2,5% em 1986. Entre 1981 e 1989, no governo conservador, o crescimento real do PIB foi de 3,2%.

Quando Thatcher deixou o governo, a participação estatal na indústria foi reduzida em 60%. Como ela mesma contou em suas memórias, um em cada quatro britânicos investiam em ações. Mais de 600 mil empregos foram transferidos do setor público para o privado. O Reino Unido estabeleceu “uma tendência mundial de privatização em países como a Tchecoslováquia e a Nova Zelândia”. Afastando-se do modelo keynesiano de administração, o antes doente da Europa agora prosperava com uma saúde econômica incontestável. Nenhum outro governo britânico, trabalhista ou conservador, tentou renacionalizar o que Margaret Thatcher desnacionalizou.

China - o enigma

Como, então, explicar o impressionante sucesso econômico de outra importante economia mundial, a chinesa, com um crescimento anual do PIB de 8% a 10% desde a década de 1980 até hoje? De 1949 a 1976, sob o governo de Mao Tsé-tung, a China era uma economia marginalizada por conta da forma equivocada como Mao administrava a economia. Em sua busca ávida por um socialismo ao estilo soviético, Mao promoveu o Grande Salto de 1958–60, que resultou na morte de pelo 30 milhões e talvez 50 milhões de chineses, e a Revolução Cultural de 1966–76, que matou mais 3 a 5 milhões de pessoas. Mao deixou a China de cabeça para baixo e profundamente dividida.

O sucessor de Mao, Deng Xiaoping, pôs a China em outro rumo, buscar criar uma economia mista na qual o capitalismo e o socialismo fossem capazes de coexistir tendo o Partido Comunista monitorando e ajustando constantemente as proporções mais adequadas. Nas últimas quatro décadas, a China se tornou a maravilha econômica do mundo pelos seguintes motivos:

A China deu início à sua ascensão econômica quase do zero por causa da teimosia ideológica de Mao. Ela promoveu o roubo calculado de propriedade intelectual, sobretudo dos Estados Unidos, por décadas. Ela tirou proveito da globalização e do fato de ser membro da Organização Mundial do Comércio, ao mesmo tempo ignorando regras contra práticas como a do roubo de propriedade intelectual. A China usa tarifas alfandegárias e outras medidas protecionistas para conseguir vantagens comerciais em relação aos Estados Unidos e outros concorrentes.

Ela criou uma classe média de quase 300 milhões de pessoas com um padrão de vida decente e que ao mesmo tempo constitui um mercado doméstico considerável para bens e serviços. A China continua a usar o trabalho forçado de prisioneiros para produzir bens de consumo baratos que são vendidos no Walmart e outras lojas ocidentais. Ela permite a existências de um enorme mercado negro porque os membros do partido lucram com as vendas.

O país permite ainda que investidores estrangeiros comprem empresas chinesas, mas o governo, isto é, o Partido Comunista, sempre é o sócio majoritário. O governo administra cerca de 150 mil empreendimentos estatais que garantem empregos para dezenas de milhões de chineses. A China conta com a energia e experiência do segundo povo mais empreendedor do mundo, atrás apenas dos norte-americanos.

Em resumo, a República Popular da China foi um fracasso econômico nas primeiras três décadas sob o governo de Mao e de seu socialismo soviético. Ela começou a se transformar na segunda maior economia do mundo ao abandonar o socialismo no final dos anos 1970 e dar início ao seu experimento, que até aqui tem sido bem-sucedido, de um capitalismo com características chinesas.

Há sinais claros de que tal sucesso não é mais automático. A China está vivendo um crescimento econômico mais lento, é governada por um Partido Comunista ditatorial e dividido apegado ao poder, enfrenta exigências públicas da garantia de direitos humanos fundamentais e sofre com a degradação do meio ambiente. A história sugere que esses problemas podem ser resolvidos por um governo democrático governado pelo povo, não por um Estado unipartidário que recorre à violência para resolver crises, como Pequim fez no Massacre da Paz Celestial e está fazendo com Hong Kong.

Conclusão

Como vimos em nossa análise de Israel, Índia e do Reino Unido, o melhor sistema econômico não é o socialismo, com seus controles centralizados, promessas utópicas e o dinheiro das outras pessoas, e sim o livre mercado, com sua ênfase na concorrência e empreendedorismo. Todos os três países experimentaram o socialismo durante décadas e todos os três finalmente o rejeitaram por um único motivo: ele não funciona.

O socialismo é culpado por um conceito fatal: ele acredita que seu sistema é capaz de tomar decisões melhores para as pessoas. Ele é o produto final de um profeta do século XIX cujas previsões (como o inevitável desaparecimento da classe média) se provaram erradas diversas vezes.

De acordo com o Banco Mundial, mais de um bilhão de pessoas saíram da pobreza nos últimos 25 anos, “uma das maiores realizações humanas da nossa época”. Desses, cerca de 731 milhões são chineses e 168 milhões são indianos. O maior impulsionador desse fenômeno foi a globalização do comércio mundial. A China deve a maior parte do seu sucesso à liberdade mercantil propiciada pelos Estados Unidos e o restante do mundo. A mais recente edição do Índice de Liberdade Econômica da Heritage Foundation confirma a tendência mundial rumo a uma economia livre: economias consideradas “livres” ou “quase livres” têm renda mais de cinco vezes maior do que as econômicas “reprimidas” como as da Coreia do Norte, Venezuela e Cuba.

O milagre socialista israelense se revelou uma miragem, a Índia descartou a ideologia socialista e escolheu um caminho mais voltado para o mercado e o Reino Unido estabeleceu um exemplo para o restante do mundo com sua ênfase na privatização e desregulamentação. Sejam as ações de um país agrícola de 1,3 bilhão de habitantes ou o país que deu origem à Revolução Industrial ou ainda um pequeno país do Oriente Médio, habitado por algumas das pessoas mais inteligentes do planeta, o capitalismo sempre é melhor do que o socialismo.

Lee Edwards trabalha no Centro B. Kenneth Simon de Princípios e Políticas da Heritage Foundation.

© 2019 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês

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