Jovens conservadores participam da Marcha pela Vida, contra o aborto, em Washington D.C., janeiro de 2015.| Foto: Elvert Barnes
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A lacração identitária, aparentemente, está rendendo frutos, mas para seus adversários. O conservadorismo, tanto no campo dos costumes quanto no campo da economia, atingiu os maiores níveis entre os americanos em uma década. São as novas conclusões publicadas na semana passada (8) pela empresa de pesquisa Gallup.

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Os americanos que se dizem conservadores em questões sociais atingiram 38% em 2023, nível não visto desde 2012. Foi um salto de cinco pontos percentuais em apenas um ano, virando o jogo sobre os autodeclarados progressistas, que caíram de 34% para 29% desde 2022.

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O conservadorismo tem ainda maior vantagem em questões econômicas. Em toda a série histórica da Gallup, em sua pesquisa de valores e crenças desde o ano 2000, não é possível achar período em que os americanos preferissem as ideias da esquerda na economia. São 44% que preferem as ideias conservadoras contra 21%, nesta seara.

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Esses resultados “vêm em um momento em que muitos estados estão considerando políticas a respeito de assuntos transgêneros, aborto, crime, uso de drogas e ensino de gênero e sexualidade nas escolas”, comenta o editor sênior da Gallup, Jeffrey M. Jones.

Movimentações importantes desde 2020

“O aumento na autoidentificação conservadora em assuntos sociais ao longo dos últimos dois anos é visto entre quase todos os subgrupos políticos e demográficos”, complementa Jones. O maior aumento está entre os registrados como eleitores do Partido Republicano, que foram de 60% em 2021 para 74% agora. Entre os registrados como eleitores independentes, sem partido, o aumento foi de 24% para 29%, no mesmo período. Existem conservadores entre registrados como eleitores do Partido Democrata: o número permaneceu estável, em 10%.

Já por faixa etária, o aumento mais expressivo foi entre os adultos: os conservadores em questões sociais são 35% daqueles entre 30 e 49 anos, com aumento de onze pontos percentuais desde 2021, e 46% na faixa etária entre 50 e 64 anos, subindo treze pontos no período. A partir dos 65 anos, a autodeclaração como conservador ficou estável desde 2021, variando acima de 40%. Chama a atenção que o crescimento também foi substancial entre jovens adultos. Enquanto apenas 24% dos americanos entre 18 e 29 anos se diziam conservadores em costumes em 2021, em 2023 eles são 30%.

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O Partido Republicano já se beneficia dessas tendências, com uma leve virada. Nos últimos três anos, os americanos que se identificam com o partido subiram um ponto percentual, para 30%; os democratas caíram três pontos percentuais, para 29%. Há um maior purismo ideológico entre os republicanos: enquanto 79% deles se identificam como conservadores, menos da metade dos democratas (48%) se identifica como progressista (o termo original é “liberal”, que tem conotação diferente nos EUA).

Ambiguidades e disputas de definições

Todos os termos de afiliação política têm alguma ambiguidade. “Conservador”, nos Estados Unidos, por causa da história do país e as ideias de seus fundadores do século XVIII, costuma incluir “liberal” no sentido clássico associado a pensadores como Adam Smith e John Locke. Há um debate recente entre os conservadores sobre adotar ou não uma posição “pós-liberal”, com um dos principais defensores, o acadêmico Patrick Deneen, propondo explicitamente a adoção de ideias de esquerda na economia.

A economista liberal (clássica) americana Deirdre McCloskey reclama, em seu livro de 2019 “Por que o liberalismo funciona” (“Why Liberalism Works”, em tradução livre, sem edição no Brasil), que a esquerda tomou para si no país o termo “liberal”, e comemorou que isso está mudando — o que poderia explicar a aparente falta de pureza ideológica do Partido Democrata apontada pela Gallup.

“Recentemente, os ‘liberais’ americanos ficaram com medo da palavra que começa com L e agora chamam a si mesmos de ‘progressistas’. Que fiquem com a palavra ‘progressista’”, comenta McCloskey na obra, lembrando que, no começo do século XX, a ideologia política que chamava a si mesma de progressista no país era a que defendia a eugenia e promoveu esterilizações compulsórias.

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