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Rumo a Marte

Consórcio investe milhões para criar o “pão espacial”

A SpaceX já está mapeando locais em Marte onde seja possível pousar e desembarcar a tripulação. (Foto: Bigstock)

Na iminência da nova corrida espacial - os Estados Unidos têm meta de levar humanos a Marte, no máximo, até a década de 2030 - um problema atormenta cientistas, engenheiros e astronautas: como garantir comida em voos espaciais tão longos? Por enquanto, a resposta provável é: dar um jeito de cultivar produtos agrícolas fora da Terra. E um consórcio de sete instituições belgas investiu pesado para conseguir viabilizar o plantio de trigo - e, assim, a possibilidade de fazer pão - bem longe das condições normais do nosso planeta.

O projeto, SpaceBakery, será lançado na primeira semana de janeiro e, ao longo de dois anos e meio, deve testar meios que viabilizem tal agricultura extraterrestre. O orçamento impressiona: 6,3 milhões de euros (cerca de R$ 28,5 milhões) devem ser empregados no programa. "Os primeiros humanos em Marte precisarão produzir a maior parte de seus alimentos. E os especialistas concordam que o alimento básico ideal será o pão", disse ao jornal O Estado de S. Paulo o diretor de pesquisa e desenvolvimento do projeto, Filip Arnaut, da multinacional de panificação Puratos Group. "Isso porque o pão é o item alimentar mais universalmente aceito, e o mais completo e nutritivo considerando suas variedades."

Além da Puratos, participam as Universidades Hasselt e de Gante, a empresa de tecnologias agrícolas Urban Crop Solutions, a companhia de tecnologia Magic Instruments, o grupo de pesquisas biocientíficas SCK-Cen e a empresa de agroalimentos Flanders Food. A equipe tem 20 cientistas.

Três contêineres já estão instalados em Groot-Bijgaarden, nos subúrbios de Bruxelas. Na virada do ano, um quarto será conectado a eles. E ali que os cientistas vão reproduzir condições de cultivo diferenciadas para descobrir como as plantas poderiam crescer em lugares inóspitos, como Marte. Eles contarão com um sistema que permitirá simular biosferas com características diversas, tudo hermeticamente fechado e completamente controlado artificialmente. Diferentes condições climáticas também poderão ser aplicadas. Um algoritmo foi desenvolvido para ajudar a otimizar os resultados e minimizar os problemas.

Haverá ainda um sistema tecnológico baseado em chips e semicondutores. Com inteligência artificial, um robô será encarregado de tarefas, como a polinização. Todo o ambiente terá iluminação LED, com lâmpadas especiais para favorecer o crescimento das plantas. E irrigação automatizada. "Um sistema de operações central vai regular as condições o tempo todo. Níveis de temperatura, umidade, dióxido de carbono, oxigênio, nitrogênio, etc", diz Arnaut.

Via computador, os cientistas terão uma simulação tridimensional da plantação. "A biosfera fechada será um ambiente controlado, mas não imitará o clima de Marte, pois nenhuma planta ou humano poderia sobreviver nessas condições sem proteção. A atmosfera é pequena, há radiação intensa e as temperaturas podem cair abaixo de - 100ºC", explica Arnaut. "Para viver e cultivar nessas condições, será preciso operar em ambiente hermeticamente fechado, no qual parâmetros como temperatura, luz e atmosfera podem ser ajustados."

Arnaut conta que diversas variedades de trigo devem ser testadas para que se conclua qual ou quais seriam as ideias para condições extremas. Todos os quatro contêineres contarão ainda com uma padaria experimental. O trigo será transformado em farinha e, então, serão analisados aspectos como fermentação, preparo da massa e cozimento. Tudo em busca do ideal pão do espaço.

Desafio

Cientista da Nasa, a agência espacial americana, o físico e engenheiro brasileiro Ivair Gontijo lembra que um dos maiores entraves para uma missão espacial longa é justamente a comida. "Os problemas de uma viagem tripulada daqui a Marte são gigantescos", diz ele, autor do livro A Caminho de Marte. "Não temos ainda nem a solução para produzir oxigênio para as pessoas respirarem." Gontijo diz que na próxima missão ao planeta vermelho, em 2020, um equipamento será testado. "Um instrumento que deve retirar o dióxido de carbono da atmosfera marciana, quebrar sua molécula e produzir oxigênio."

O desafio seguinte é justamente a alimentação. "Será uma viagem de nove meses a Marte, outros nove meses para voltar. Considerando a estadia, estamos falando em uma viagem ideal de ao menos 26 meses", explica. "Não temos uma solução no momento de como transportar toda essa comida a Marte. A ideia é que ao menos parte dela seja produzida a bordo por algum processo de agricultura espacial que ainda tem de ser inventado."

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