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Contrarrevolução: como eliminar o racialismo da esquerda do governo federal

Casa Branca decorada para no Natal 2024. Christopher Rufo, que já inspirou ordem executiva no primeiro governo de Donald Trump contra o identitarismo, traça plano em sete passos para eliminar racialismo do governo federal americano no governo que começa em janeiro de 2025.
Casa Branca decorada para no Natal 2024. Christopher Rufo, que já inspirou ordem executiva no primeiro governo de Donald Trump contra o identitarismo, traça plano em sete passos para eliminar racialismo do governo federal americano no governo que começa em janeiro de 2025. (Foto: EFE/EPA/JIM LO SCALZO)

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A reeleição de Donald Trump, acompanhada de vitórias republicanas em ambas as casas do Congresso, prepara a arena nos Estados Unidos para um confronto entre a democracia, que depende de instituições representativas para formar um governo, e o governo de elites não eleitas, que se apoia em alegações de expertise para controlar o Estado.

Já há oposição interna a Trump se organizando dentro das agências federais. A CNN informa que oficiais do Pentágono estão discutindo a possibilidade de desobedecer políticas oficiais. O presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA), Jerome Powell, declarou que se recusaria a renunciar caso Trump o pedisse. Alguns gostariam de reviver as contramedidas orquestradas contra Trump, desde o escândalo do suposto conluio com a Rússia até a censura ao laptop de Hunter Biden e as ações judiciais politizadas que levaram à sua prisão e condenações criminais.

O confronto político que se avizinha é incomum porque o antagonista específico é difícil de identificar. Trump não está enfrentando Joe Biden ou Kamala Harris, nem mesmo a minoria democrata no Congresso. Em vez disso, a oposição pós-eleitoral do presidente eleito vem de dentro do próprio Poder Executivo, em desafio ao Artigo II da Constituição, que começa com a declaração inequívoca: "O Poder Executivo será investido em um Presidente dos Estados Unidos da América."

Nos últimos anos, expressões como “Estado profundo” surgiram no discurso político americano para descrever esse fenômeno, em que administradores, burocratas e funcionários não eleitos parecem exercer um tipo de poder para o qual ainda nos falta uma linguagem adequada. Parte da motivação é o interesse próprio — os burocratas querem proteger suas posições —, mas outra parte é ideológica: o governo federal está impregnado de ideologias de raça e gênero de esquerda, e seus adeptos veem Trump como uma ameaça existencial.

Por direito, ele deveria ser. O presidente eleito tem, segundo a Constituição, todo o direito de alinhar a administração à sua visão, que é contrária aos princípios do racialismo de esquerda. Mas essas ideologias, que a administração Biden consolidou por meio de sua agenda de diversidade em “todo o governo”, governam há muito tempo as agências que controlam os detalhes da formulação de políticas federais. Daí o conflito: o presidente, que tem autoridade formal, contra a burocracia ideológica, que detém o poder real.

No final de seu primeiro mandato, Trump tentou corrigir esse problema com ações como uma ordem executiva proibindo a teoria crítica da raça no governo federal. O segundo governo Trump deve ir além e se dedicar a um processo que o vice-presidente eleito, J. D. Vance, descreveu como “deswokificação” (remover o “woke”, ou seja, o identitarismo). Este é o problema político mais urgente que a administração enfrenta, pois sem instituições representativas e uma restauração da autoridade constitucional, não é possível governar os Estados Unidos.

O governo Trump tem uma oportunidade única de agir de forma decisiva no primeiro dia, por meio de ordens executivas que podem servir como a primeira manobra em uma contrarrevolução. O princípio básico: os EUA devem eliminar o racialismo de esquerda do governo federal e reafirmar o compromisso do país com o princípio da igualdade de tratamento sem distinção de cor. Por meio de uma campanha agressiva, Trump e seu gabinete podem acabar com formas de discriminação disfarçadas sob o nome de “diversidade, equidade e inclusão” (DEI) e fazer o governo funcionar novamente.

O processo de captura ideológica levou décadas. Mas a contrarrevolução pode e deve retomar rapidamente essas instituições em nome do povo e reorientá-las para os princípios duradouros da liberdade e igualdade. Os burocratas que abusam da confiança pública para promover suas próprias ideologias devem ser avisados: serão fechados, seus departamentos abolidos e seus empregos encerrados. A administração trabalhará para livrar os EUA dessa corrupção ideológica antes que ela apodreça ainda mais nossas instituições, desmoralize nossos cidadãos e torne o governo totalmente incompetente.

A contrarrevolução começa agora.

O mapa do território a ser reconquistado

Primeiro, um mapa do território. O pensamento de esquerda é predominante na burocracia federal, moldando o comportamento das agências federais e operando sem ser afetado pela política eleitoral. A maioria dos funcionários do Estado administrativo, especialmente aqueles ligados à justiça, educação, artes e saúde, são esmagadoramente de esquerda e partidários de ideologias em voga.

Os dados são impressionantes. Durante o ciclo eleitoral presidencial de 2020, funcionários do Departamento de Justiça direcionaram 86% de suas contribuições políticas aos democratas; no Departamento do Trabalho, foram 88%; no Departamento de Saúde e Serviços Humanos, 92%; e na Educação, 97%. No geral, 84% das doações de funcionários federais não ligados à defesa foram para o candidato presidencial Joe Biden, segundo a agência Bloomberg. Esses números refletem tendências observadas em empresas de tecnologia e universidades, frequentemente vistas como bastiões do pensamento de esquerda. Quando instituições se inclinam tão fortemente para uma ideologia, tornam-se suscetíveis à captura ideológica.

O governo federal agora sustenta ideologias progressistas, como a teoria crítica da raça, por meio de vastos subsídios financeiros. Universidades públicas, fortalecidas por financiamentos federais e empréstimos estudantis garantidos pelo governo, abrigam inúmeros departamentos que promovem essas opiniões. Além disso, subsídios federais e contratos de treinamento em diversidade, gerenciados amplamente por burocratas sem supervisão legislativa, canalizam o dinheiro dos contribuintes para iniciativas ideológicas. Dados da Administração de Serviços Gerais revelam um viés consistentemente de esquerda nesses gastos, persistindo tanto sob administrações democratas quanto republicanas.

No Departamento do Tesouro, por exemplo, administradores dos governos Obama, Trump e Biden financiaram muitos programas baseados em teorias críticas, frequentemente usando eufemismos relacionados à “diversidade”. Sob Obama, o Tesouro criou o Escritório de Inclusão de Minorias e Mulheres e outras iniciativas baseadas em raça e identidade. Sob Trump, o Tesouro promoveu a teoria crítica da raça como uma ideologia operacional, contratando consultores para conduzir programas de treinamento que ensinavam os funcionários que os Estados Unidos eram uma nação de “racismo sistêmico” com uma história de 400 anos de “terror racial” que continua “até os dias de hoje.” A solução proposta: que funcionários federais — especialmente “pessoas brancas”, com a obrigação de realizar um trabalho interno sério — se tornem “ativistas” e avancem a agenda da “equidade racial”.

Esses programas se multiplicaram e se intensificaram sob Biden. Como relatei recentemente, o governo Biden usou sua autoridade executiva para criar uma burocracia racialista permanente, incluindo um Centro de Equidade, um Comitê Consultivo de Equidade Racial e um Conselheiro para Equidade Racial. A secretária do Tesouro, Janet Yellen, juntamente com a vice-presidente Kamala Harris, anunciou US$ 8,7 bilhões (R$ 52,35 bilhões) em empréstimos para “empresas de propriedade de minorias”, um esforço abertamente discriminatório. O Tesouro também obrigou contratantes federais a implementar DEI. Ao mesmo tempo, a política do Tesouro sobre auditorias do Crédito Tributário para Rendimentos Trabalhistas mudou para “examinar a equidade das auditorias por outras categorias demográficas” — um eufemismo para favoritismo racial.

Esse tipo de retórica tem se tornado a regra dentro das agências federais e de grupos acadêmicos, educacionais e de ativismo financiados pelo governo federal. Preferências e discriminações raciais estão se tornando uma parte cada vez mais arraigada da política governamental. A administração muda, mas a ideologia permanece: subsidiada pelos contribuintes, administrada pela “classe especialista” e imposta ao povo americano.

Os exemplos de Nixon, Reagan e Trump

O que pode ser feito para lidar com o problema da captura ideológica? Três presidentes americanos — Richard Nixon, Ronald Reagan e Donald Trump — tentaram abordar o problema diretamente. Nenhum o resolveu, mas todos oferecem pontos de partida para uma solução.

Em seu discurso sobre o Estado da União de 1971, Nixon propôs uma “Nova Revolução Americana” que descentralizaria o poder, devolvendo-o a estados, municípios e cidadãos. Nixon argumentou que o governo federal havia se tornado excessivamente dominador e ameaçava suplantar funções sociais essenciais. Ele também percebeu que a burocracia federal permanente e sua classe de especialistas, burocratas e intelectuais eram hostis à sua administração e aos seus eleitores. “Quanto mais distante o governo está das pessoas, mais forte o governo se torna e mais fracas as pessoas se tornam. E uma nação com um governo forte e um povo fraco é uma casca vazia”, afirmou. “A ideia de que uma elite burocrática em Washington sabe mais o que é melhor para todos e de que não se pode confiar nos governos locais é, na verdade, uma alegação de que não se pode confiar nas pessoas para se governarem.”

Nixon propôs um Novo Federalismo que reduziria o número de departamentos do gabinete, reorganizaria o Poder Executivo e enviaria bilhões de dólares em financiamento a estados e municípios. “Este Congresso pode ser lembrado por abrir o caminho para uma nova revolução americana — uma revolução pacífica na qual o poder foi devolvido ao povo, na qual o governo em todos os níveis foi renovado e feito verdadeiramente responsivo”, concluiu Nixon em seu discurso sobre o Estado da União. “Esta pode ser uma revolução tão profunda, tão abrangente e tão emocionante quanto aquela primeira revolução há quase duzentos anos.” Ao final de seu primeiro mandato, Nixon via a si mesmo como um campeão do “interesse geral”, envolvido em uma batalha contra um sistema burocrático adverso.

A mídia notou. Após sua reeleição esmagadora, o New York Times publicou o editorial “Contrarrevolução de Nixon”, alertando que o 37º presidente buscava “avançar um grande projeto ideológico” que reverteria o New Deal e a Grande Sociedade (projetos de assistência externa e interna criados pelos democratas), abolindo programas federais que trabalhavam para impor visões elitistas às comunidades locais. “O Sr. Nixon busca realizar uma contrarrevolução retrógrada sob o disfarce de uma reorganização administrativa”, advertiu o editorial.

Nixon agiu de forma decisiva, divulgando orçamentos e planos para implementar sua contrarrevolução. Ele reorganizou o aparato federal para torná-lo mais responsivo à autoridade presidencial, aboliu programas que promoviam ideologias de esquerda, suspendeu iniciativas federais de habitação para revisão e restringiu o escopo ideológico de serviços sociais financiados pelo governo federal. No cerne de sua abordagem estava o “compartilhamento de receitas”, um sistema ousado que canalizava fundos federais diretamente para estados e localidades. Nixon via a descentralização e o controle da Casa Branca sobre o Poder Executivo como vitais para prevenir a tirania burocrática e garantir que o governo operasse mais próximo do povo.

Quando Ronald Reagan assumiu a presidência em 1980, ele também buscou conter a influência ideológica da esquerda dentro do governo federal. Revivendo a visão de Nixon de um Novo Federalismo, Reagan chamou seu esforço de uma “revolução silenciosa” para devolver o poder aos cidadãos. Sua estratégia principal, descrita por alguns analistas como um esforço para “desfinanciar a esquerda”, concentrou-se em reduzir os gastos federais, cortar programas em áreas como desenvolvimento comunitário, educação, serviços sociais e treinamento de emprego, e direcionar o foco contra opositores ideológicos dentro do governo.

De maneira mais limitada, mas talvez mais pragmática, Donald Trump também procurou reverter a dominação ideológica de esquerda nas agências federais — desta vez, mirando na teoria crítica da raça. Inspirado por reportagens minhas no City Journal e desenvolvido, em parte, com base em minhas recomendações, nos últimos meses de 2020, Trump emitiu uma “Ordem Executiva sobre o Combate à Estereotipagem de Raça e Sexo”, destinada a proibir programas polarizantes baseados na teoria crítica da raça dentro do governo federal.

A ordem executiva denunciava ideologias críticas “baseadas em hierarquias de identidades sociais e políticas coletivas em vez da dignidade inerente e igual de cada pessoa como indivíduo” e “enraizadas na crença perniciosa e falsa de que os Estados Unidos são um país irremediavelmente racista e sexista; que algumas pessoas, simplesmente em razão de sua raça ou sexo, são opressoras; e que identidades raciais e sexuais são mais importantes do que nosso status comum como seres humanos e americanos.” A ordem proibia todos os programas de treinamento que promovessem as seguintes ideias:

  1. Uma raça ou sexo é inerentemente superior a outra raça ou sexo;
  2. Os Estados Unidos são fundamentalmente racistas ou sexistas;
  3. Um indivíduo, em virtude de sua raça ou sexo, é inerentemente racista, sexista ou opressor, seja conscientemente ou inconscientemente;
  4. Um indivíduo deve ser discriminado ou receber tratamento adverso apenas ou parcialmente por causa de sua raça ou sexo;
  5. Membros de uma raça ou sexo não podem ou não devem tentar tratar os outros sem considerar raça ou sexo;
  6. O caráter moral de um indivíduo é necessariamente determinado por sua raça ou sexo;
  7. Um indivíduo, em virtude de sua raça ou sexo, é responsável por ações cometidas no passado por outros membros da mesma raça ou sexo;
  8. Qualquer indivíduo deve sentir desconforto, culpa, angústia ou qualquer outra forma de sofrimento psicológico em razão de sua raça ou sexo; ou
  9. O mérito ou características como ética de trabalho árduo são racistas ou sexistas, ou foram criados por uma raça específica para oprimir outra.

Nenhuma dessas abordagens foi suficiente. Nixon foi contido pela burocracia e por um Congresso democrata; depois, o escândalo Watergate o forçou a sair. Reagan reduziu alguns financiamentos, mas não alterou fundamentalmente a ideologia enraizada ou o comportamento da burocracia federal. E a "proibição da teoria crítica da raça" de Trump foi rescindida por uma ordem de Joe Biden no primeiro dia de sua presidência, em 2021.

Embora essas políticas não tenham resolvido o problema crítico, elas iluminam sua natureza e fornecem um ponto de partida para uma solução. A tarefa dos formuladores de políticas agora é construir sobre os esforços de Nixon, Reagan e Trump e projetar políticas que domem a burocracia e, assim, promovam o interesse público. Se isso falhar, como Nixon alertou, o experimento americano chegará ao fim: o governo burocrático devorará a ordem constitucional.

Sete passos: como fazer a contrarrevolução contra a esquerda encastelada na burocracia

À medida que a segunda administração Trump toma forma, o presidente deve lembrar uma lição importante: embora ele deva aceitar a realidade atual de que Washington, D.C., é a maior beneficiária das teorias críticas e das ideologias de esquerda nos EUA, ele está longe de ser impotente para mudá-la. Ele tem opções de política que podem iniciar o processo de restauração da autoridade presidencial, realinhando a burocracia com a visão do presidente e revertendo o processo de captura ideológica.

Para catalisar esse processo, proponho um ambicioso plano de contrarrevolução que pode começar no primeiro dia. Imediatamente após assumir o cargo, o presidente deve emitir uma série de ordens executivas para "cercar e sufocar" as ideologias de esquerda em seis áreas: burocracia, conteúdo, políticas, financiamento, comportamento e pessoal.

O primeiro objetivo é alterar as estruturas da burocracia e alinhá-las mais diretamente aos princípios do governo. O presidente deve ordenar às agências que eliminem todos os departamentos, planos e programas de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) e demitam os funcionários associados a eles. Muitos desses programas foram criados não por direção do Congresso, mas por presidentes anteriores — notoriamente, a Ordem Executiva 13583 de Obama, a Ordem Executiva 13985 de Biden e a Ordem Executiva 14035, bem como por líderes das agências por iniciativa própria. Trump pode encerrar esses programas sob sua autoridade executiva e substituí-los por uma política de igualdade estritamente neutra em relação à cor.

Essa ação proporcionaria um choque imediato à burocracia. Ideologias críticas se enraizaram amplamente porque governos conservadores ou ignoraram o problema, ou hesitaram em confrontá-lo. Sem argumentos claros e vocabulário sobre raça e gênero, muitos líderes conservadores evitaram esses tópicos, permitindo que as agências construíssem infraestruturas de "diversidade" entrincheiradas que operam fora da supervisão do Congresso.

Uma ordem executiva que desmantele esses programas desestabilizaria os partidários internos que os usaram para promover ideologias de esquerda. Esses funcionários seriam incumbidos de desmontar seus próprios sistemas e implementar uma nova estrutura baseada na igualdade de tratamento sem distinção de cor. A ordem perturbaria as estruturas que possibilitam a captura ideológica e reafirmaria a autoridade constitucional do presidente. Embora seja provável a resistência dos funcionários mais ferrenhamente adeptos da ideologia, diretrizes fortes neutralizariam até mesmo os ideólogos mais comprometidos.

O segundo objetivo é identificar e eliminar todos os programas, políticas, subsídios, propostas, treinamentos e itens orçamentários que promovam o racialismo de esquerda. Isso requer um sistema para identificar onde essa ideologia aparece nos documentos federais. A abordagem mais eficaz é desenvolver um programa de inteligência artificial que possa escanear o fluxo de documentos em busca de palavras-chave e destacar casos relevantes para revisão pelo Escritório de Gestão e Orçamento, que opera sob supervisão direta do presidente. Esse sistema canalizaria informações de todo o governo federal para a Casa Branca, permitindo que funcionários nomeados politicamente monitorem o conteúdo ideológico dos programas federais, cortem seu financiamento conforme necessário e implementem as diretrizes dessa ordem de forma eficaz.

Esse sistema de "localizar e terminar" poderia ser implantado em todo o governo e fornecer uma escala de prioridades para revisão manual. Embora burocratas de esquerda dentro das agências possam tentar desenvolver eufemismos e neologismos para escapar da fiscalização, os conceitos e princípios-chave das teorias críticas têm sido relativamente estáveis ao longo do último meio século; é improvável que a linguagem mude rápido ou o suficiente para evitar restrições.

O terceiro objetivo da ordem executiva é restringir agências federais, contratantes federais e beneficiários de fundos federais de promover o preconceito racial e de sexo em todos os programas, políticas, treinamentos e práticas de gestão. Baseando-se na estrutura da “Ordem Executiva sobre o Combate à Estereotipagem de Raça e Sexo”, emitida por Trump, a nova ordem deve acrescentar os seguintes pontos e determinar que o governo federal não promova, avance ou incuta as seguintes “ideias divisivas”:

  1. Um indivíduo, com base em sua raça ou sexo, é presumido portador de traços como privilégio branco, fragilidade branca, racismo internalizado, viés implícito ou inconsciente;
  2. Conceitos e instituições como meritocracia, individualismo, racionalidade, igualdade, imparcialidade, ética de trabalho e a família nuclear são racistas ou sexistas, ou foram criados por uma raça específica para oprimir outra;
  3. Disparidades raciais em resultados sociais e econômicos são única ou necessariamente o resultado de racismo ou políticas racistas;
  4. Indivíduos devem ser encorajados ou obrigados a participar de espaços, instalações, acomodações, programas ou “grupos de afinidade” separados com base em raça ou orientação sexual.

O quarto objetivo é cortar o financiamento de ideologias de esquerda em subsídios e contratos federais. A ordem deve exigir que todos os contratos federais existentes, pendentes, propostos ou considerados, que contenham os itens sinalizados, passem por uma revisão manual e aprovação pelo Escritório de Gestão e Orçamento (OMB). Contratos existentes que violem as restrições das “ideias divisivas” devem ser imediatamente encerrados por meio do processo de retenção de orçamento e postos em litígio conforme necessário; futuras solicitações de subsídios, considerações e nomeações que promovam as “ideias divisivas” devem ser negadas pela equipe do OMB.

Essa política oferece dois benefícios principais: “desfinanciar a esquerda” sistematicamente dentro do governo federal e interromper o ecossistema mais amplo que sustenta ideologias de esquerda. Ao proibir contratantes de “diversidade e inclusão” e estender as restrições das “ideias divisivas” a todos os subsídios e contratantes federais — incluindo grandes corporações e universidades que fazem pesquisa —, a ordem limitaria a disseminação e influência das teorias críticas de raça e gênero nas maiores burocracias públicas e privadas. A indústria da “diversidade e inclusão” tornou-se multibilionária e um mecanismo-chave para o avanço de ideologias de esquerda em empresas, escolas e agências governamentais. A ordem executiva reduziria o alcance e o crescimento dessas iniciativas, ao mesmo tempo em que criaria riscos legais para empresas envolvidas em práticas discriminatórias ou extremistas.

O quinto objetivo é remodelar a cultura e o comportamento das agências federais. Esse esforço deve começar com a ampliação dos princípios da Lei Hatch, que proíbe funcionários do serviço civil de se envolverem em atividades políticas partidárias, para incluir todo ativismo social e político não relacionado diretamente às funções oficiais do funcionário. Em princípio, a restrição se aplicaria igualmente aos movimentos políticos da esquerda e da direita; na prática, restringiria quase exclusivamente o ativismo de esquerda, dado o perfil da força de trabalho federal e a cultura existente na burocracia.

A ordem executiva não mudaria diretamente os vieses e a orientação política dos funcionários federais, mas os impediria de manifestá-los. Com o tempo, o resultado seria uma redução do ativismo e das mensagens de esquerda dentro do governo federal, o que, a longo prazo, poderia restaurar o equilíbrio ideológico e a responsabilidade no Executivo.

O sexto objetivo é eliminar a ação afirmativa e a doutrina de impacto desproporcional das políticas do governo federal — estruturas centrais da teoria crítica da raça e das iniciativas de “equidade” de esquerda em áreas como justiça criminal, saúde pública e programas de redistribuição. A ordem executiva rescindiria a Ordem Executiva 11246 de Lyndon Johnson e proibiria ação afirmativa e a doutrina de impacto desproporcional em contratações, políticas e tomadas de decisão em todo o governo federal e entidades financiadas pelo governo. Em seu lugar, exigiria tratamento estritamente igualitário e imparcial sob a lei, substituindo “equidade” por “igualdade”.

Essa política teria impacto imediato na governança. A ação afirmativa, embora amplamente difundida em instituições públicas e privadas — como admissões universitárias, contratações corporativas e contratos federais —, é profundamente impopular. Mesmo estados progressistas como Califórnia e Washington a rejeitaram por meio de iniciativas eleitorais. Uma ordem executiva que proíba decisões baseadas em raça ganharia amplo apoio e criaria impulso para mudanças legislativas permanentes.

O objetivo final do plano de contrarrevolução é restaurar a Ordem Executiva 13957 de Trump, “Criando a Agenda F no Serviço Excepcional,” que removeu certas proteções do serviço público para funcionários federais envolvidos na formulação de políticas. Isso daria ao presidente maior controle sobre as facções ideológicas no governo. A força da burocracia permanente reside na confiança de seus líderes de que sobreviverão a qualquer administração, permitindo que resistam a agendas presidenciais com risco mínimo às suas posições.

A Agenda F se aplica a todos os “servidores federais empregados em posições de caráter confidencial, determinante de políticas, formulador de políticas ou defensor de políticas”, concedendo ao presidente maior autoridade para gerenciar agências e demitir servidores civis de alto nível que não cumpram as expectativas ou não implementem as políticas presidenciais. Essa reforma daria à Casa Branca maior controle sobre a burocracia e forneceria aos membros do gabinete presidencial ferramentas adicionais para garantir a conformidade das agências.

Restaurando o controle democrático no Estado profundo

Tomadas em conjunto, as disposições desta ordem executiva restringiriam seriamente as ideologias de esquerda no governo federal e restabeleceriam o controle político sobre a burocracia. No curto prazo, a ordem desmoralizaria e limitaria a cultura ideológica de esquerda; no longo prazo, realinharia o governo federal com a visão do presidente e reorientaria o Estado em direção aos princípios da liberdade e igualdade.

A administração Trump tem reunido uma equipe de reforma de alto nível. Entre os desenvolvimentos positivos está a escolha de Vance por Trump. Vance propôs o Projeto de Lei de Desmantelamento de Iniciativas de DEI como senador, como seu companheiro de chapa, e nomeou Russell Vought como diretor do Escritório de Gestão e Orçamento. Vought, em particular, é um administrador brilhante que compreende a ameaça das ideologias críticas de raça e, mais importante, sabe como operar a máquina do Estado.

Nosso momento histórico contém, em certos aspectos, mais possibilidades do que o de Nixon ou Reagan — apresentando, pela primeira vez em duas gerações, uma oportunidade real de unificar o governo constitucional contra a captura ideológica burocrática. A tecnologia digital pode agora expor a extensão das más condutas de esquerda no governo, ao mesmo tempo em que ajuda as autoridades eleitas a prevenir ou punir essas atividades. É possível restaurar o caráter representativo de nossas instituições de governança — e, nesse processo, reconstruir a confiança nelas —, confiança que, no mesmo período, caiu para os níveis mais baixos já registrados. Um presidente sob ataque de dentro de seu próprio Poder Executivo pode agora reafirmar sua autoridade apelando diretamente aos eleitores.

Qual é o caráter da democracia americana? O povo deseja o autogoverno e é capaz dele? Ou será administrado e controlado por burocratas não eleitos e sem responsabilidade, que afirmam ter uma visão global e, talvez, histórica de “governança”, mas nenhuma lealdade especial ao povo americano? As principais questões da eleição de 2024 — desde a imigração e a fronteira, que tocam na questão constitucional da cidadania, até o crime e a economia, que tocam nos direitos à vida, liberdade e busca da felicidade, conforme a Declaração de Independência — apontam para o desejo de uma restauração do governo popular. O momento é oportuno para uma ação decisiva sob a Constituição para garantir as liberdades do povo — o objetivo a que todo governo justo é direcionado.

Christopher F. Rufo é pesquisador sênior do Manhattan Institute, editor colaborador da City Journal e autor de "Revolução cultural silenciosa: como a esquerda radical assumiu o controle de todas as instituições" (Avis Rara, 2024).

©2024 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês.

Conteúdo editado por: Eli Vieira

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