Os mais temíveis dragões já estão entre nós, habitando nossos próprias almas, pervertendo-nos para o mal, a falsidade e a feiura, e fazendo-nos decair.| Foto: Pixabay
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Nós, intelectuais conservadores, tendemos a ser um tipo soturno. Por disposição natural somos pessoas pessimistas. Não podemos ser culpados por isso, uma vez que se considera a história da humanidade e, particularmente, a triste história dos governos humanos.

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Desde começar guerras desnecessárias, passando por escravizar populações inteiras até reduzir multidões à pobreza por meio da taxação excessiva, o homem, quando investido com o direito de mandar nos outros, mostrou-se um tirano.

Além disso, os conservadores acreditam que a natureza humana é intrinsecamente inclinada ao mal, que utopias são inalcançáveis e sua perseguição perigosa, e que somos inclinados a perder, ao longo do tempo, nossas ligações com os mandamentos de Deus e Suas leis da natureza. Tendemos, portanto, a ter pouca esperança no futuro.

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Mais ainda, como justificativa para nosso pessimismo inerente, precisamos apenas olhar para os tempos peculiares e lamentáveis em que vivemos: uma era em que os Pais Fundadores são considerados “homens brancos mortos”, mas em que a Constituição que eles fizeram é considerada ativa.

Uma época em que o compromisso político é valorizado como uma prioridade, mas o compromisso com princípios é considerado ingênuo, quixotesco. Uma época em que qualquer tipo de discurso ou de estilo de vida perverso é celebrado em nome da liberdade, mas em que a livre iniciativa é sufocada em nome da igualdade e da compaixão. Uma época em que a informação reina soberana, mas em que o pensamento lógico é escasso. Uma era em que alcançamos o maior know-how tecnológico, mas temos a menor compreensão da beleza, da bondade e da verdade.

Somado a tudo isso, está nossa tendência conservadora de se deleitar com a nobreza das causas perdidas. Isso em si não é uma coisa ruim -- muito pelo contrário, na verdade. Como disse T. S. Eliot:

Lutamos por causas perdidas porque sabemos que nossa derrota e desalento podem ser o prefácio para a vitória de nossos sucessores, embora essa vitória em si mesma seja temporária; lutamos mais para manter algo vivo do que na expectativa de que algo triunfe.

J.R.R. Tolkien concordou com os sentimentos de Eliot: “Eu sou um cristão e, de fato, um católico romano”, escreveu Tolkien, “dessa forma, não espero que a ‘história’ seja nada além de uma ‘longa derrota’ - embora contenha (e nas lendas possam ocorrer de forma mais clara e comovente) alguns exemplos ou vislumbres da vitória final.”

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Mas não levamos a sério as palavras de Tolkien e Eliot. Procuramos equivocadamente vitórias permanentes, políticas e culturais, e quando elas não acontecem, desesperamos. Parece que não percebemos que não são as vitórias permanentes que devemos buscar, mas sim a preservação das “coisas permanentes”, o que é vitória suficiente.

Manter a chama viva, porém, não significa esconder sua luz. Afinal, uma chama que não está aberta ao ar se apagará. Como Isaías, estamos sob a ordem divina de ser “uma luz para as nações, para abrir os olhos aos cegos”.

Isso significa que os pensadores conservadores não devem falar exclusivamente entre si, como costumamos fazer. (Alguém pode lembrar aquela questão filosófica perene: “Se um intelectual apresenta um artigo em uma conferência acadêmica, isso repercute?”)

Em vez disso, precisamos levar a luz da verdade, da bondade e da beleza por meio dos melhores meios disponíveis que possam alcançar as massas, hoje, sobretudo, na internet.

Como diz “Sam” Gamgi em O Senhor dos Anéis de Tolkien: “Há algo bom neste mundo, e vale a pena lutar por isso”.

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Ao travar nossa digna batalha, conservadores podem posicionar suas forças no baluarte de certas premissas: que os Pais Fundadores, apesar de suas falhas, ainda hoje têm muito a nos ensinar; que a Constituição está realmente morta, no sentido de que suas palavras realmente escritas precisam ser levadas a sério; que a livre iniciativa está inextricavelmente ligada à liberdade política e à liberdade ordenada; que a investigação, para ser livre, deve ser baseada na razão e deve ser direcionada para averiguação da verdade; e que a informação e a tecnologia não são bens em si mesmos a menos que sirvam ao bem e à beleza.

Sim, nosso inimigo é forte, mas precisamos lembrar de que as vitórias temporárias são de fato possíveis se mantivermos afiadas a nossa espada da imaginação kirkiana [referência ao livro The Sword of Imagination: Memoirs of a Half-Century of Literary Conflict, de Russell Kirk, ainda sem tradução no Brasil]. Como disse o compositor Richard Wagner, “a imaginação cria a realidade”.

Quem, por exemplo, teria pensado que a visão de Ronald Reagan, no início dos anos 1980, da vitória americana sobre o comunismo, se tornaria uma realidade menos de uma década depois? Claro, desde o colapso do “Império do Mal”, novos terrores surgiram no mundo para ameaçar a civilização ocidental - tanto no exterior como em casa -, mas nós conservadores deveríamos ter esperado que isso acontecesse.

Isso não deve ser interpretado no sentido de que advogue o engajamento em cruzadas para corrigir o que há de errado em todo o mundo; pelo contrário, devemos seguir o sábio conselho de John Quincy Adams e não “sair por aí à procura de monstros para destruir”.

No entanto, de fato existem dragões no mundo, e alguns estão surgindo no Oriente e podem encontrar-nos em breve. Os mais temíveis, entretanto, já estão entre nós, habitando nossos próprias almas, pervertendo-nos para o mal, a falsidade e a feiura, e fazendo-nos decair. Mas podemos nos tranquilizar com a garantia de Chesterton de que esses dragões podem ser mortos.

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A civilização ocidental está inegavelmente em declínio e, de fato, sua própria existência está em xeque. No entanto, esses pensamentos não devem arrastar-nos ao pântano do derrotismo. Não obstante, alguns conservadores, infelizmente, estão de fato convocando uma retirada.

Eles dizem que é tarde demais, que os remanescentes devem correr para as barricadas e proteger a si mesmos e o que restante da Civilização Ocidental dos bárbaros nos portões. Como o Rei Théoden de Tolkien, eles buscam um Abismo de Helm numa tentativa desesperada de preservar o mundo dos homens da hora dos Orcs.

Mas eu conclamo os conservadores a se recusarem a ceder o momento atual à escuridão, e me junto a Aragorn de Tolkien e Peter Jackson ao declarar:

Pode vir um dia em que a coragem dos homens falhe, em que esqueçamos nossos amigos e quebremos os laços de irmandade; mas este dia não é hoje! Um hora de angústia e escudos estilhaçados, quando a Era dos Homens desabar; mas o dia não é hoje! Hoje, nós lutamos! Por tudo o que vocês estimam nesta boa terra, peço-lhes, levantem-se, homens do Ocidente!

Stephen Klugewicz é editor do The Imaginative Conservative. Ele possui um Ph.D. em história americana, com experiência nas eras da Fundação e da Primeira República.

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© 2020 Imaginative Conservative. Publicado com permissão. Original em inglês.
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