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Bioética

Criação de embriões humanos “sintéticos” concretiza abandono de padrão ético internacional

Embrião humano
Embrião humano em fase de blastocisto, com cinco dias de desenvolvimento. A massa de células mais grossa dá origem ao feto. A fase é anterior à chamada gastrulação. (Foto: NinaSes/Wikimedia)

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O anúncio de que embriões humanos foram produzidos sem necessidade de fecundação, feito na semana passada (14) em uma conferência da Sociedade Internacional de Pesquisa em Células-Tronco (ISSCR), marca o início de pesquisas que estão no limite de um padrão legal e moral que a própria ISSCR antes apoiou, mas abandonou em 2021.

“Não é o nascimento, casamento ou a morte, mas a gastrulação, o momento mais importante da sua vida”, disse o biólogo do desenvolvimento Lewis Wolpert nos anos 1980, em frase que se tornou célebre na área. Não sem alguma razão: a gastrulação é o processo em que um embrião passa de uma massa de células, que dobra sobre si mesma, para uma estrutura com uma câmara interna que delimita o plano de todo o organismo. Em humanos esse evento começa aos 14 dias após a fecundação.

O início da gastrulação corresponde ao fim da implantação no útero, marcando também a impossibilidade de o embrião se dividir em gêmeos e, na interpretação de alguns, a delimitação da individualidade. É considerado tão importante que foi escolhido como o limite a partir do qual foi proibida a experimentação em embriões humanos em ao menos 12 países. Foi o resultado de um debate feito desde que nasceu o primeiro “bebê de proveta”, em 1978.

Em maio de 2021, a ISSCR, que se diz “a voz da comunidade de pesquisa em células-tronco”, abandonou esse limite em suas diretrizes, delegando o debate para “academias nacionais de ciências, sociedades acadêmicas, financiadores e reguladores”, além do público. Os novos embriões humanos “sintéticos”, também chamados de “embrioides”, estão em cima do limite, com desenvolvimento de duas semanas, e há interesse de estudo para além do período.

Mesmo a regra dos 14 dias vai longe demais para especialistas como a dra. Elizabeth Kipman, médica ginecologista e obstetra, coordenadora do Departamento de Bioética do Hospital São Francisco de Assis em Jacareí (SP). As células-tronco usadas na produção dos embriões “sintéticos” são em si removidas de outros embriões, e “não há dúvida alguma de que o embrião é um ser humano vivo”, diz Kipman. Os potenciais benefícios da pesquisa “não afastam o fato da banalização da vida humana e de sua instrumentalização”, conclui, apontando que os cientistas devem “procurar outros caminhos que não incluam o desprezo pela vida humana viva”.

Saiba as justificativas que os cientistas deram para fazer essa pesquisa, e mais detalhes, na reportagem completa da Gazeta do Povo.

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