Num relatório divulgado no começo do ano pelo American Enterprise Institute, Lyman Stone investigou a história, o comportamento e as instituições religiosas nos Estados Unidos desde a fundação do país. É uma obra magistral e peço que os leitores baixem o relatório aqui e o avaliem por si mesmos.
A pesquisa de Stone nos ajuda a compreender a queda na fé nos Estados Unidos ao longo dos últimos 60 anos. A secularização é certamente um acontecimento pouco compreendido na história norte-americana e praticamente todo mundo tem uma teoria sobre como e por que isso aconteceu. Os conservadores religiosos provavelmente falariam da mudança na moral nacional que ocorreu nas décadas de 1960 e 1970. Os progressistas seculares talvez resmungassem algo sobre a marcha da “ciência” e da “razão”. Mas os dados parecem mostrar que o principal motivador da secularização nos Estados Unidos foi o aumento de gastos governamentais com a educação e o controle estatal sobre o currículo ensinados nas escolas.
Neste ponto, nosso progressista secular talvez levante a mão novamente, sentindo-se um tanto quanto arrogante por sua descoberta. “Está vendo! As crianças eram privadas da educação e racionalidade! Elas estão presas ao feitiço da ignorância e miséria até que a mão benevolente do Estado se abaixou e as elevou ao mundo das letras e do pensamento crítico. Elas só precisavam de um pouco de educação para se livrarem das superstições”.
É uma teoria simples que faz sentido para aqueles que historicamente a defendem. Mas os dados contradizem essa teoria. Stone cita a obra fundamental de Raphael Franck e Laurence Iannaccone sobre o assunto. Eles investigaram meticulosamente o comportamento religioso ao longo do tempo. De acordo com Franck e Iannaccone, “altos níveis de educação não são indicadores de níveis mais baixos de religiosidade”. Eles tampouco “consideram que a vida urbana e industrializada reduz a religiosidade: uma população mais urbana e industrializada foi associada a níveis mais altos de religiosidade”. A conexão entre modernização/progresso intelectual e secularização não existe. Como explica Stone:
As teorias que dizem que a religiosidade diminuiu porque a industrialização é hostil à religião – ou porque pessoas modernas e educadas são inerentemente céticas quanto à religião – não se apoia em registros históricos reais.
O fato é que a religiosidade é determinada no começo da vida. Todos os dados sugerem que, em sua maioria, as crianças criadas em lares religiosos permanecem religiosas, enquanto crianças que não são criadas assim não se tornam adultos religiosos. Consequentemente, a religiosidade na infância foi e é o indicador mais importante da trajetória religiosa norte-americana. A história da decadência religiosa nos Estados Unidos não é a história de adultos que conscientemente rejeitam a fé de seus antepassados: é a história de uma geração recebendo uma criação cada vez mais secular do que a anterior. O que explica a secularização da infância? O dinheiro dos impostos.
A religiosidade na infância foi muito afetada pelos gastos do governo na educação e, um pouco menos, pelos gastos do governo com pensões para os idosos. Assim, embora pessoas mais educadas não sejam menos religiosas, sociedades que gastam mais dinheiro público em educação são. Não é a educação per se o que reduz a religiosidade, e sim o controle do governo sobre a educação e, em certo sentido, o apoio do governo à aposentadoria.
Os pesquisadores originalmente tentaram explicar a relação entre o controle governamental da educação e a secularização resumindo-a à disposição cada vez maior do Estado de cuidar das necessidades dos cidadãos de uma forma abrangente — função tradicionalmente exercida por instituições religiosas. Uma vez que as pessoas não se sentem mais presas a uma igreja, sinagoga ou mesquita para melhorarem de vida – ao menos é o que diz a teoria – elas não têm motivo para continuar frequentando esses lugares.
Mas essa teoria não encontra respaldo nos dados. Como observa Stone, ela nasce do fato de que “a maior parte da decadência religiosa pode ser atribuída a mudanças na política educacional, e não no bem-estar geral da população”.
Então como explicar essa conexão entre política educacional e religiosidade se a realização acadêmica não é um fator? É bem simples. As crianças aprendem muito mais do que apenas a ler, escrever e fazer contas na escola. Elas absorvem todo um conjunto de ideias sobre o que é importante na vida. Ao excluir o ensino religioso das escolas públicas, o sistema estatal tacitamente diz aos alunos que a religião não é prioridade na vida. A fé em Deus se torna uma espécie de passatempo de fim de semana, assim como seria jogar tênis ou videogame. Cristo e Moisés são tratados pelos alunos e diretores como armas ou drogas – são confiscados assim que identificados.
Dessa forma, a hierarquia de valores expressada implícita e explicitamente aos alunos norte-americanos de ensino médio exclui a religião desde o princípio. Faculdade, carreira, popularidade se tornam os objetivos existenciais que a alma do aluno deve buscar. Num contexto como esse, a secularização se torna inevitável. O Novo Testamento em si diz que a crença religiosa é moldada mais por aquilo que nos dá validação do que por raciocínios frios: “Como você pode acreditar se é glorificado pelos outros e se você não está buscando a glória que vem do único Deus?” (João 5:44). Mas as escolas públicas de ensino médio validam os alunos de acordo com critérios diferentes do que os das grandes fés. Por isso é que o controle governamental sobre a educação resulta em decadência religiosa. Como escreve Stone:
(...) o conteúdo da educação é importante. As provas de que a educação reduz a religiosidade são bem fracas. A religiosidade norte-americana aumentou consideravelmente de 1800 até a década de 1970, apesar do aumento nos níveis de educação. Mas a prova de que a educação especificamente secular pode reduzir a religiosidade é mais interessante. Na verdade, estatisticamente a maioria dos pesquisadores que investigaram as mudanças de longo prazo na religiosidade sabem que variáveis relacionadas à educação, que argumento que é uma palavra substituta de educação secular, podem explicar quase a totalidade da mudança na religiosidade.
Vale a pena repetir. A maioria dos pesquisadores descobriu que “variáveis relacionadas à educação (...) podem explicar quase a totalidade da mudança na religiosidade”. Para os conservadores religiosos que se importam com o destino da cultura norte-americana, é importante enfatizar ao máximo o fato de que a educação é a responsável pelo fenômeno. Todas as demais áreas de atuação do governo fazem no máximo cócegas. Como chegamos até aqui é uma história triste. Ainda assim, o fato é que as escolas públicas continuam sendo um lugar estranho para famílias conservadoras, sobretudo as mais religiosas. Pior, já há sinais de que a ideologia imposta às crianças educadas pelo governo está mudando. O que costumava ser uma ortodoxia estatal de agnosticismo benigno está sendo substituída por uma pseudorreligião interseccional com seus próprios sacerdotes, profetas, santos e mártires.
Já está na hora de pais religiosos tirarem seus filhos das garras do Estado. Não dá mais para que os norte-americanos de fé deixem os filhos na porta da escola todas as manhãs para que eles sejam recolhidos como governo como lixo. Como já escrevi antes, uma reavaliação da educação pública não será barata. Se pretendermos seguir os ensinamentos das grandes fés e ter os interesses dos pobres como prioridade, ela exigirá, entre outras coisas, a criação de cooperativas privadas de educação sem fins lucrativos. Mas o único caminho verdadeiro para o ressurgimento da religiosidade é o que começa com os pais levando os filhos para a escola pública.
Cameron Hilditch é membro do National Review Institute.
© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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