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STF está julgando

Com manobra, criminalização da homofobia avança na Câmara

Bandeira do movimento homossexual
Comissão da Câmara aprovou projeto, Senado avançou no consenso, mas bancada evangélica se retirou do debate; STF deve retomar o tema em breve (Foto: Pixabay)

Com a tentativa de chegar a um consenso abandonada pela Frente Parlamentar Evangélica (FPE), depois da última sessão em que o Supremo Tribunal Federal (STF) discutiu a criminalização da homofobia, a Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara aprovou, nesta quarta-feira (5), um projeto de lei sobre o tema.

Menos de um dia antes, na noite desta terça-feira (4), um grupo de senadores também avançou na negociação dos termos do projeto sobre o assunto que tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, mas ainda há pontos em aberto. O STF deve retomar o julgamento do tema na próxima quinta-feira (13).

O projeto de lei, PL 7582/2014, de autoria da deputada Maria do Rosário (PT-RS), foi aprovado na CDH depois de uma manobra regimental. O presidente da comissão, deputado Helder Salomão (PT-ES), convocou uma reunião relâmpago para o período entre sessão conjunta do Congresso Nacional e o início da ordem do dia, e os deputados votaram uma inversão de pauta. Com a comissão esvaziada, apenas os deputados Filipe Barros (PSL-PR), Eli Borges (SD-TO) e Abílio Santana (PL-BA) votaram contra.

A comissão aprovou o substitutivo apresentado pelo relator, Carlos Veras (PT-PE), bem mais restrito que o texto inicial de Rosário, e que resolve algumas reclamações originais da bancada evangélica, mas não outras.

A FPE, que chegou a dar início a um acordo com PT e PSOL para aprovar um projeto de consenso, não participou da elaboração do texto. Líderes evangélicos consideram que o STF desrespeitou o Congresso, ao decidir que a mera tramitação de projetos no Legislativo não impede o tribunal de declarar o Congresso omisso.

A principal mudança proposta pelo substitutivo aprovado é a criação das hipóteses qualificadas de homicídio, lesão corporal e injúria, praticadas “em razão de ser a vítima lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual, intersexo e demais pessoas trans”.

O substitutivo também cria os crimes de “discriminar, impedir o exercício ou interferir negativamente no exercício regular de direito em razão de a vítima ser lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual, intersexo e demais pessoas trans” e de “induzir ou incitar a discriminação contra vítima lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual, intersexo e demais pessoas trans”.

Apenas no caso da injúria o projeto faz a ressalva de que “não constitui injúria punível a manifestação de crença em locais de culto religioso, salvo quando houver incitação à violência”.

O texto apresentado por Veras não faz nenhuma modificação na 7.716/1989 e, portanto, não equipara homofobia e transfobia ao racismo, e não inscreve na lei os termos “orientação sexual” e “identidade de gênero”, combatidos por católicos, evangélicos e opositores da ideologia de gênero – uma questão ainda em aberto no texto que tramita no Senado e que líderes da bancada evangélica avaliar não ter chance de passar na Câmara.

Como está a negociação no Senado

O PL 672/2019, que está no Senado, modifica a Lei 7.716/1989, para passar a punir também os crimes de preconceito e discriminação por “sexo, orientação sexual e identidade de gênero”. Atualmente, a lei pune apenas por “raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.

O projeto já foi aprovado em primeiro turno na CCJ do Senado, mas precisa passar por uma segunda votação e, salvo recurso, segue direto para a Câmara, sem passar pelo plenário. Desde a primeira votação, com a reação da bancada evangélica, três emendas foram propostas ao texto.

Em reunião na noite desta terça-feira, os senadores Alessandro Vieira (CD-PE), relator do PL 672/2019, Simone Tebet (MDB-MS), presidente da CCJ, Eduardo Girão (Pode-CE), Selma Arruda (PSL-MT), Mailza Gomes (PP-AC) e Daniela Ribeiro (PP-PB) avançaram na direção de uma redação de consenso no texto do Senado, mas os termos “orientação sexual” e “identidade de gênero” continuarão no projeto, segundo Vieira confirmou à reportagem.

Pelo acordo entre os senadores, seguindo emenda supressiva apresentada por Selma Arruda, será suprimida do texto a previsão de punição para “quem impedir ou restringir a manifestação razoável de afetividade de qualquer pessoa em local público ou privado aberto ao público, ressalvados os templos religiosos”.

Além disso, serão incorporadas as emendas dos senadores Marcos Rogério (DEM-RO) e Daniela Ribeiro (PP-PB), que buscam proteger a liberdade de expressão e religiosa.

Pela proposta de Rogério, não constitui crime a manifestação de opinião de qualquer natureza e por quaisquer meios sobre questões relacionadas a orientação sexual ou identidade de gênero, sendo garantida a liberdade de consciência e de crença, de convicção filosófica ou política e as expressões intelectuais, artísticas, científicas e de comunicação”.

Já Daniela propõe que “o disposto nesta lei não se aplica às condutas praticadas no exercício da liberdade de consciência e de crença, incluindo-se, nesses, o discurso religioso e moral, em público ou em privado, presencial, televisivo, telemático ou por radiodifusão, discordante com o comportamento social de determinada orientação sexual ou identidade de gênero”.

Segundo Vieira, relator do projeto na CCJ, falta apenas chegar a uma redação de consenso para que o projeto volte à pauta do colegiado.

A posição da bancada evangélica e de deputados conservadores, como Filipe Barros (PSL-PR) e Chris Tonietto (PSL-RJ), é opor-se a qualquer menção à “identidade de gênero” nos documentos legais, a qualquer modificação que possa resvalar nas liberdades de expressão e religiosa, como no caso da injúria qualificada, e ao uso de termos abertos e genéricos que possam dar margem de interpretação alargadas aos juízes na aplicação da lei.

Como está o julgamento no STF

O Supremo já tem a maioria de seis votos para declarar o Congresso Nacional omisso em legislar sobre a população LGBT e equiparar a homofobia e a transfobia ao conceito jurídico de racismo para fins da aplicação da Lei 7.716/1989, mas o julgamento foi interrompido pela quinta vez no dia 23 de maio pelo presidente da corte, ministro Dias Toffoli. Se a pauta não for mudada mais uma vez, o STF deve voltar ao tema na próxima quinta-feira (13).

Foi na sessão de 23 de maio que alguns ministros se manifestaram com veemência pela continuação da votação, contrariando as intenções de Toffoli de retirar o tema de pauta. Com isso, a bancada evangélica passou a considerar o presidente do Supremo isolado e sem condições de cumprir o acordo de postergar o julgamento.

Os evangélicos também ficaram contrariados com o tom de alguns ministros ao defender que o STF pode declarar o Congresso omisso mesmo que haja projetos sobre o tema tramitando. Os votos que mais incomodaram foram o de Gilmar Mendes e Luiz Fux, que fez uma defesa enfática da autoridade do tribunal. "Se, por esse motivo [criminalizar a homofobia], a corte tiver que sofrer algum tipo de retaliação, que soframos todos nós”, disse o ministro.

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