Em 2017 novas formas de violência adquiriram relevância na decadente Venezuela, país com uma das maiores taxas de mortes violentas do mundo. Jovens de áreas pobres agora estão sendo recrutados por grupos criminosos em troca de cestas de comida, conforme noticiou o jornal Miami Herald.
“Nas ruas, andar com uma sacola de compras do supermercado pode atrair mais ladrões do que uma carteira bem recheada”, conta o jornal.
O Observatório Venezuelano de Violência (OVV), braço do Laboratório de Ciências Sociais da Venezuela, publicou um relatório no início deste ano onde afirma que “nas técnicas de recrutamento, os atrativos, que no passado eram objetos da moda ou de luxo, foram substituídos pela oferta de alimentos básicos”. Com isso, os grupos criminosos estão recrutando milhares de jovens, “cujos destinos estão sendo a morte, a prisão e a frustração de tantos sonhos e esperanças”. Os dados levantados pelo Observatório mostram que 7 em cada dez venezuelanos que morreram de forma violenta no ano passado tinham menos de 30 anos.
O severo racionamento de alimentos no país começou a mudar a natureza dos crimes, aumentando o que especialistas chamam de “crimes de fome”. Também há relatos que grupos criminosos estejam organizando assaltos a lojas e mercados como se fossem cidadãos comuns irritados com a escassez de produtos.
Mesmo tendo a maior reserva mundial de petróleo, o país está passando por uma das mais severas crises econômicas da história moderna, resultado das políticas socialistas de Hugo Chávez e de seu sucessor Nicolás Maduro.
Além da escassez de comida, a hiperinflação fez com que os alimentos se tornassem uma moeda de troca melhor do que o próprio bolívar. “Se você quiser comprar uma lata de tomates, você tem que ter seis notas de 100 bolívares”, contou o jornalista venezuelano Ignacio Mayorca ao Miami Herald. Segundo a cotação oficial, um dólar equivale a cerca de 9 bolívares, entretanto no mercado negro esse valor chega a 120 mil bolívares por dólar.
Segundo o OVV, o aumento dos preços colocaram comida e remédios fora do alcance da maioria da população, levando pessoas que não tinham histórico criminal a roubar itens das prateleiras das lojas, de seus ambientes de trabalho e até mesmo “surrupiar lancheiras de crianças”.
O estudo mostra que a fome também motivou o aumento da violência doméstica no ano passado. “A falta de alimentos nas famílias obrigou a uma administração restrita dos poucos recursos disponíveis que nem sempre é acatada por seus membros, provocando situações de violência entre casais ou maus tratos infantis”, consta no documento.
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