Neste inverno, o Reino Unido provavelmente realizará um incômodo experimento para descobrir quão profundo é o compromisso do povo para com o ambientalismo. Meu palpite é de que esse compromisso não seja muito profundo.
Fala-se muito sobre a possibilidade de uma crise energética, caso o inverno seja severo. É possível que haja blackouts, que as fábricas fechem e que faltem água quente e aquecimento nas casas. Uma população desacostumada a tais provações talvez expresse seu descontentamento de uma forma não exatamente pacífica ou constitucional.
Claro que essa crise talvez não ocorra. O clima talvez seja mais ameno e o país talvez não sofra as piores consequências da incompetência e irresponsabilidade da classe governante quanto às políticas energéticas. Mas essas políticas, numa mistura de sentimentalismo, corrupção e apaziguamento politicamente motivado pelo lobby ambiental, ainda pode resultar em uma catástrofe econômica, social e política.
O Reino Unido gera mais de um terço de sua eletricidade usando gás natural, mas tem estoques de gás equivalentes a apenas três dias de consumo. O governo fechou sua maior instalação de armazenamento para economizar dinheiro e hoje conta apenas como o fornecimento imediato de países como Holanda e outras nações com enormes instalações de armazenagem. Mas o gás continua escasso e o preço aumentou drasticamente. No caso de uma penúria real, que Vladimir Putin não estará disposto a aliviar, países que fornecem gás ao Reino Unido privilegiarão o próprio consumo, deixando o Reino Unido passar frio. Ninguém no governo parece ter pensado numa estratégia.
Há não muito tempo, como uma forma de contribuir para a salvação do planeta, o governo escocês prometeu não procurar mais reservas de combustíveis fósseis no Mar do Norte. O carvão, a forma mais poluente de gerar eletricidade, foi completamente abandonado (em 2012, ele ainda era responsável por 25% da eletricidade gerada no país) e as usinas nucleares foram fechadas por causa da pressão dos ambientalistas. O Reino Unido é líder mundial em energia eólica, e a chamada energia renovável fornece até metade da eletricidade do país em alguns dias, mas o governo não controla o vento assim como Canuto II não controlava as ondas. A empáfia dos políticos não é capaz de fazer mover uma só hélice de turbina.
Ao mesmo tempo, o governo estabeleceu um limite de preço a ser cobrado dos consumidores. Isso pode levar as companhias de energia à falência ou à salvação com o dinheiro do contribuinte. O aumento nas tarifas, claro, nunca foi popular entre os eleitores, então o governo, com seu instinto infalível de fazer a coisa errada, optou pela alternativa mais covarde.
O primeiro-ministro Boris Johnson se sente impelido a pregar ao mundo sobre a energia. Ele fala como se tivesse responsabilidade para com a biosfera, não para com seu país. Ele quer garantir que todos os carros sejam elétricos, embora não possa garantir eletricidade para manter as luzes acesas. Como resultado, os pobres sofrerão e a poluição resultante será transferida para a África ou China. Sobre as fortunas que nascerão disso é melhor ficar quieto. A sorte de Johnson é que a oposição a ele é péssima.
Theodore Dalrymple é editor-colaborador do City Journal, membro do Manhattan Institute e autor de vários livros.
© 2021 The City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês
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