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Uma das primeiras coisas que a gente aprende na aula de economia é que tudo tem um custo. Isso vai contra as lições dadas na arena política, na qual os políticos vivem falando em coisas gratuitas.
Na nossa vida pessoal, a tomada de decisões envolve a análise dos custos em relação aos benefícios. Empresários fazem o mesmo tipo de cálculo, se pretendem continuar com as portas abertas. É algo bem diferente de um político num governo no qual qualquer benefício, por menor que seja, é considerado maior do que qualquer custo, por maior que seja.
A tomada de decisões está relacionada à questão de estar seguro e não estar seguro o bastante. Às vezes, estar seguro é inútil. Um exemplo: quantos de nós inspecionamos os freios do carro antes de sairmos por aí dirigindo? Estaríamos mais seguros se o fizéssemos, mas a maioria de nós simplesmente pressupõe que está tudo certo, entra no carro e sai.
O Departamento Nacional de Segurança no Trânsito estima que 40 mil norte-americanos perdem a vida todos os anos em acidentes nas estradas. Praticamente todas essas vidas poderiam ser salvas com um limite de velocidade de 5 km/h. Por sorte, analisamos os custos e concluíamos que essas 40 mil vidas não valem o custo e a inconveniência de um limite de velocidade de 5km/h.
Tendo a relação entre custo e benefício em mente, podemos analisar a reação do governo à pandemia de Covid-19.
A primeira coisa a ter em mente sobre uma crise, seja ela uma guerra ou uma pandemia, é que deveríamos manter os mercados abertos e reforçar a iniciativa privada. O mercado resolve problemas porque dá os incentivos certos para que os recursos sejam usados com eficiência. Os governos, em todos os níveis, decretaram uma quarentena desastrosa e sem precedentes que paralisou boa parte da economia norte-americana num esforço para diminuir a disseminação do coronavírus.
Há um problema estritamente de saúde relacionado à paralisação da economia norte-americana e ignorado pelos nossos líderes, algo que já foi exposto pelo epidemiologista dr. Knut Wittkowski, ex-chefe do Departamento de Bioestatística, Epidemiologia e Pesquisa da Universidade Rockefeller em Nova York.
Wittkowski diz que a quarentena retarda a “imunidade do rebanho”, que é nossa única arma para exterminarmos o coronavírus até que surja uma vacina – o que os otimistas preveem que levará 18 meses. Ele diz que devemos nos ater à proteção dos mais velhos e de pessoas com comorbidades, permitindo que os jovens e saudáveis entrem em contato uns com os outros para ficarem imunes.
Então é muito importante manter as escolas abertas e as crianças se relacionando umas com as outras para espalhar o vírus e conseguir a imunidade de rebanho o mais rápido possível. E depois os mais velhos, que devem ficar isolados, e as casas de repouso que devem permanecer fechadas durante esse tempo, podem voltar e receber os netos depois de quatro anos, quando o vírus foi exterminado”, diz Wittkowski. A imunidade do rebanho, diz Wittkowski, deteria uma “segunda onda” prevista para atingir os Estados Unidos no outono.
O dr. David L. Katz, presidente da True Health Initiative e diretor-fundador do Yale-Griffin Prevention Research Center, concorda com Wittkowski. Num texto publicado pelo New York Times, ele disse que a luta contra o coronavírus pode ser pior do que a doença em si.
O ponto é que os custos podem ser camuflados, mas não eliminados. Além disso, se as pessoas analisassem apenas os benefícios de certa ação, elas poderiam fazer qualquer coisa, porque tudo tem um lado bom. Os demagogos e oportunistas políticos adoram prometer benefícios quando dá para esconder facilmente os custos. Por sinal, a melhor hora de estar errado e insistir no erro é quando os custos do erro são impostos aos outros.
O pior da pandemia de Covid-19, e possivelmente seu maior dano, é o poder enorme que os norte-americanos estão dando ao governo para regulamentar suas vidas em nome da proteção à saúde. Recuperar a liberdade deve ser uma prioridade em nossos esforços de recuperação.
Será difícil. Uma vez que um político e sua burocracia ganham poder, eles lutam com unhas e dentes para mantê-lo.
*Walter E. Williams é colunista do Daily Signal e professor de economia na George Mason University.