Briga entre os deputados Zé Geraldo e Wellington Roberto, em 2015, foi transmitada ao vivo pela TV Câmara.| Foto: Reprodução / TV Câmara
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“Vossa excelência é um safado!”, disse o senador Ronaldo Caiado ao Ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, durante uma audiência pública no Senado, em 2015. Caiado fazia uma pergunta e sentiu que Braga não estava prestando atenção. Ficou irritadíssimo e chegou a intimá-lo a resolver o problema no braço, fora do plenário.

Ronaldo Caiado (União Brasil) hoje é governador de Goiás e Eduardo Braga (MDB), senador da República pelo Amazonas. E o motivo da confusão não importa mais. Mas o “xingamento com respeito” se tornou um exemplo cômico dos embates no ambiente do Congresso Nacional – onde, felizmente, mais se ladra do que morde.

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Afinal, nossos barracos são fichinha se comparados aos episódios violentos protagonizados com frequência por parlamentares de outros países. Em 2007, na Bolívia, uma votação para abrir um processo contra quatro juízes do Tribunal Constitucional (o STF de lá) terminou em um MMA de deputados, com vários deles feridos e centenas de móveis destruídos. Na Índia, em 1997, mesas, cadeiras e equipamentos de som de uma casa legislativa foram utilizados como armas em meio a uma briga entre políticos transmitida para todo o mundo.

Antes da anexação da Crimeia, em 2012, ucranianos pró-União Europeia e pró-Rússia se digladiaram por causa de um projeto sobre o uso do idioma russo em determinadas regiões do país. E o que dizer do Yan Legislativo, a câmara de Taiwan, vencedora do IgNobel da Paz (uma versão satírica da premiação sueca) graças aos incontáveis quebra-paus promovidos por seus integrantes?

Apesar de seu clima bem mais light, o Congresso brasileiro também já registrou ocorrências lamentáveis e até trágicas. A seguir, selecionamos alguns desses momentos de tensão entre parlamentares – que foram muito além dos empurrões contidos pela “turma do deixa disso”.

A pataquada do Quaquá

Deputado federal, vice-presidente do PT, ex-prefeito de Maricá (RJ) e dono de um camarote na Marquês do Sapucaí que lucrou R$ 1 milhão no Carnaval de 2023, Washington Quaquá é uma das figuras mais controversas do governo. Até então conhecido somente pelo público fluminense, ele ganhou fama nacional no último dia 20, quando deu um tapa no rosto do colega Messias Donato (Republicanos-ES) – e chamou Nikolas Ferreira (PL-MG) de “viadinho”.

Esse clássico instantâneo das “desinteligências” em Brasília aconteceu enquanto os parlamentares da oposição se manifestavam contra a presença de Lula na Câmara, durante a cerimônia de promulgação da reforma tributária. Donato, que ficou sem reação no momento do tabefe, mais tarde chorou e alegou estar com medo. Mas Quaquá, ligado ao grupo político de José Dirceu, não recuou. E o pior: debochou do deputado capixaba. “Bati mesmo e, se puder, bato de novo”, afirmou.

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Não só bate como atira móveis. Há três anos, em Maricá, o petista se meteu numa briga em um bar e jogou uma cadeira em um homem que, segundo testemunhas, vestia uma camiseta com o símbolo da suástica. Seu histórico de problemas também inclui duas condenações por abuso de poder como prefeito (que o deixaram inelegível por oito anos) e ataques machistas, em suas redes sociais, a uma colunista do jornal Extra – entre outros feitos “notáveis”.

Foi sem querer (querendo?)

Em 2007, um grupo de deputados decidiu entrar, a todo custo, numa sessão secreta que definiria o futuro político do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), acusado de receber propina de um lobista ligado à construtora Mendes Júnior. Os seguranças da Casa atuaram com firmeza contra os parlamentares, que iniciaram uma treta marcada por socos, pontapés e muita gritaria.

Raul Jungmann (PPS-PE), um dos mais exaltados, implicou com um segurança em particular. Segundo a imprensa, ele conseguiu dar um golpe e derrubar o funcionário, que acabou deixando cair sua arma. Na hora, houve quem pensou ser uma pistola, e a confusão se intensificou. Mas o artefato era apenas um taser (utilizado para imobilizar com descargas elétricas).

No meio daquele circo, ainda sobrou para Luciana Genro (PSOL-RS), ferida na perna. O destaque do picadeiro, no entanto, ficou para Fernando Gabeira (PV-RJ), autor de um golpe no rosto do vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC). Conhecido por sua personalidade tranquila (apesar do passado de guerrilheiro), Gabeira depois jurou de pé junto que tudo não passou de um acidente. “Inadvertidamente, dei um soco nele. Mas agora nos beijamos e está tudo bem”, disse.

“Macho nenhum vai tocar em mim”

Em plena crise do segundo governo de Dilma Rousseff, 2015 foi um ano especialmente tenso no Congresso, com registros de várias discussões acaloradas entre parlamentares. Uma delas, que chegou às vias de fato, envolveu os deputados Zé Geraldo (PT-PA) e Wellington Roberto (PR-PB), durante uma sessão no Conselho de Ética sobre um possível afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) do cargo de presidente da Câmara.

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Roberto afirmou que a proposta era um golpe, Geraldo o acusou de bagunçar a reunião e os dois saíram no tapa (com direito a incontáveis replays na TV e na internet). No melhor estilo “ofensa com decoro”, o paraibano disparou: “O senhor é moleque!”. E ainda acrescentou que “macho nenhum” tocaria nele.

Meses depois, Zé Geraldo se meteu em outro bate-boca destemperado, dessa vez com seu conterrâneo Wladimir Costa (SD-PA) – a quem chamou de “patife”, “ladrão safado”, “pilantra”, “vagabundo”. E em setembro deste ano, Wellington Roberto, agora no PL, desafiou José Rocha (União-BA) na CPI que investiga a manipulação de resultados de jogos de futebol. “Dê um murro em mim, para eu arrombar sua cara!”, disse, antes de os dois serem apartados pelos presentes.

Revólver, punhal e bengala

Três conflitos com arma de fogo marcam (e mancham) a história do Congresso brasileiro. O primeiro deles ocorreu em dezembro de 1929, na Câmara Federal, ainda sediada no Rio de Janeiro, quando o deputado Simões Lopes, do Rio Grande do Sul, matou Souza Filho, representante de Pernambuco.

O contexto da política brasileira era de polarização total, com o país dividido meses antes da eleição presidencial disputada por Júlio Prestes e Getúlio Vargas. Nesse cenário de ânimos acirrados, Simões e Souza, que já trocavam provocações há algum tempo, se cruzaram nos corredores da Casa e iniciaram uma briga física. Luís, filho do parlamentar gaúcho, resolveu interferir depois de ver o pernambucano sacar um punhal e deu uma bengalada no adversário. Por fim, Simões Lopes disparou dois tiros de revólver em Souza Filho, que morreu no local.

As informações publicadas nos jornais da época são um tanto desencontradas, e não se sabe exatamente o roteiro das agressões. Mas pai e filho foram absolvidos por unanimidade da acusação de assassinato, sob a alegação de legítima defesa.

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Assassinado na despedida

O caso mais famoso desta lista aconteceu há 60 anos, no Senado Federal. Ambos alagoanos, Arnon de Mello (pai do ex-presidente Fernando Collor) e Silvestre Péricles eram bem mais do que rivais regionais: se consideravam verdadeiros inimigos. No dia 4 de dezembro de 1963, Arnon se dirigiu ao presidente da Casa, Auro de Moura Andrade, com as seguintes palavras: “Permita, vossa excelência, que eu faça meu discurso olhando na direção do senhor senador Silvestre Péricles de Gois Monteiro, que ameaçou de me matar, hoje, ao começar meu discurso”.

Imediatamente, Péricles partiu para cima do desafeto. Arnon então sacou um revólver e disparou várias vezes, sem acertar seu alvo – que se jogou no chão e, também armado, rastejou entre as poltronas até encontrar um lugar seguro. Dois tiros, no entanto, atingiram José Kairala, senador pelo Acre, cuja passagem por Brasília se encerraria naquele dia (pois era suplente e se preparava para devolver o posto ao titular).

A família de Kairala, presente no Senado para enaltecê-lo naquela data importante, testemunhou tudo e o acompanhou até o hospital, onde ele morreu horas depois. Arnon e Péricles foram presos em flagrante, contudo receberam punições brandas e não perderam os mandatos. Eleito outras duas vezes (uma delas indiretamente, como “biônico”), o pai de Collor permaneceu como senador até morrer, aos 72 anos, em 1983.

Pai do Piquet contra o “Pai do Divórcio”

Para encerrar, mais um tiroteio ocorrido na década de 1960. Apenas quatros anos depois do bangue-bangue protagonizado por Arnon de Mello e Silvestre Péricles no Senado, os deputados Nelson Carneiro e Estácio Souto Maior trocaram tiros em frente a uma agência do Banco do Brasil instalada no salão inferior da Câmara.

O atrito começou com uma discussão por causa da presidência da União Interparlamentar, um fórum voltado para a integração e cooperação entre parlamentares de diferentes países. Souto Maior estapeou Carneiro e, mais tarde, o agredido resolveu dar o troco – porém, com um revólver na mão. Ele baleou o oponente, que, mesmo ferido, ainda respondeu com cinco tiros (todos errados).

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Mais uma vez, os brigões saíram impunes. Nelson Carneiro até hoje é lembrado como o autor da Lei do Divórcio, a causa de sua vida, instituída em 1977. Já Estácio Souto Maior, que foi médico e Ministro da Saúde, costuma ser mais associado ao filho famoso: o ex-piloto Nelson Piquet.

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