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O presidente da Colômbia, o esquerdista radical e ex-guerrilheiro Gustavo Petro, ao longo de sua carreira política, tem apresentado uma visão socialista para seu país de forma reiterada. Sua mais recente proposta é convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, o que tem gerado intensa controvérsia e suscitado preocupações, tendo em vista suas anteriores promessas eleitorais de não alterar a Constituição de 1991.
Petro já sinalizou quais serão as principais reformas que, apesar de disfarçadas de boas intenções, são encaradas com ceticismo e desconfiança, tendo em vista o histórico de regimes socialistas na América Latina e de sua própria trajetória política.
As seis principais reformas geram temores
O jornal colombiano El Tiempo destaca as seis reformas propostas por Petro, abrangendo áreas cruciais como a implementação do acordo de paz de 2016, garantias básicas de existência, reforma judicial, reordenamento territorial, medidas contra as mudanças climáticas e o fomento ao diálogo para a reconciliação nacional.
Apesar de parecerem benéficas na teoria, uma análise crítica dessas propostas revela um potencial para o fortalecimento do controle governamental, ecos do autoritarismo socialista evidenciado em outras nações latino-americanas, como a Venezuela sob Hugo Chávez. As medidas dos Acordos de Paz de 2016 beneficiam mais os grupos guerrilheiros do que as vítimas; as reformas judiciais provocam temores de controle da justiça; e o reordenamento territorial gera receio de ataques à propriedade privada.
O que fica transparecendo é que devido as dificuldades para aprovar suas principais reformas na saúde, pensões e leis trabalhistas no Congresso Colombiano, Gustavo Petro propõe uma nova Constituinte. O presidente enfrenta resistência legislativa e, numa manobra demagógica, critica o Congresso por barrar suas iniciativas, afirmando representar a verdadeira vontade do povo. Petro busca, assim, uma via direta para implementar sua agenda, tentando superar os entraves institucionais à sua visão de reforma.
Uma das críticas mais severas ao presidente Petro é sua aparente reversão na promessa de não convocar uma Assembleia Constituinte, uma garantia firmada antes de sua eleição. O jornal argentino Infobae relembra um evento de 2018 no qual Petro, ao lado de figuras políticas como Antanas Mockus e Claudia López, ambos ex-prefeitos de Bogotá, comprometeu-se publicamente e assinou numa pedra de mármore que iria resguardar a Constituição de 1991, promessa agora posta em xeque.
Ecos do Socialismo Chavista: uma região em alerta
A iniciativa de Petro não é vista isoladamente, mas sim dentro de um contexto mais amplo de experiências socialistas na região, que muitas vezes resultaram em regimes autoritários e na erosão da democracia e da liberdade econômica. Petro disse no seu discurso recente:
“A Assembleia Nacional Constituinte deve transformar as instituições para que obedeçam ao povo com o seu mandato de paz e justiça, o que é fácil de conseguir na Colômbia.”
O diário hispano-americano PanAm Post argumenta que a trajetória de Petro parece seguir o roteiro de líderes como Hugo Chávez, que utilizou propostas semelhantes para consolidar o poder sob a bandeira de reformas sociais. O jornalista José Gregorio Martínez explicou as similaridades entre Hugo Chávez e o líder colombiano:
“Embora Hugo Chávez tenha assumido o poder na Venezuela em Fevereiro de 1999, prestando juramento perante a ‘moribunda Constituição’ de 1961, como forma de ratificar a sua promessa de campanha de alterar a Carta Magna, Gustavo Petro tem sido mais cauteloso, pois para ganhar a Presidência prometeu o contrário: respeitar a Constituição colombiana de 1991 e descartar a possibilidade de reeleição, uma vez que a reeleição não existe atualmente na Colômbia. Porém, em seu discurso desta noite, Petro já demonstrou a intenção de quebrar sua primeira promessa. Quanto tempo até ele anunciar que não cumprirá a segunda? Não devemos esquecer que durante a campanha Chávez jurou não ser reeleito, descartou ser socialista e prometeu que não fecharia nenhum meio de comunicação.”
A proposta de Petro, embora enraizada na promessa de avanço social e econômico, suscita temores de um caminho rumo ao autoritarismo, semelhante ao experimentado por outras nações latino-americanas sob regimes socialistas. A discussão em torno da constituinte e das reformas propostas destaca que a proclamada “busca por justiça social e paz” na voz desses tiranos latinos, em geral, resulta em restrições às liberdades individuais, deterioração das instituições, perseguição à imprensa e opositores, e colapso econômico.
Passado de guerrilheiro
Para finalizar, é importante trazer um pouco de contexto de quem é o líder socialista colombiano porque o histórico de um político diz muito sobre o que esperar dele.
Gustavo Petro tem um histórico altamente controvertido que moldou sua carreira política e visão ideológica, passando por diversas fases. Inicialmente, Petro fez parte do M-19, um grupo de guerrilheiros urbanos, que entre seus atos de violência, destaca-se a dramática tomada do Palácio de Justiça em 1985, que resultou na morte de quase metade dos magistrados, um evento que ficou gravado na história colombiana pela violência e suas repercussões políticas. Na fundação do M-19, em 1973, estavam dissidentes de outras guerrilhas como FARC e ELN, demonstrando o germe autoritário e violento desde o início. Petro foi preso por participação no M-19 na época deste ato infame e foi liberado da cadeia em 1987.
Além de sua militância no M-19, Petro também teve um papel como assessor econômico internacional de Hugo Chávez – conforme entrevista à Revista Dinero em 2003 -, o que vincula suas ideologias políticas ao chavismo e ao socialismo do século XXI na América Latina.
Sua gestão como prefeito de Bogotá foi interrompida por denúncias de corrupção, o que adiciona uma camada de controvérsia ao seu histórico político. Ademais, Petro é conhecido por seu apoio ao grupo de terrorismo urbano “Primera Linea”, que desempenhou um papel significativo na desestabilização do governo de Iván Duque. Apesar desse passado sombrio, Petro conseguiu se eleger presidente da Colômbia, um testemunho de sua resiliência política e capacidade de mobilizar a extrema-esquerda colombiana. Em 2022, ele foi eleito presidente da Colômbia e iniciou um governo radical e alinhado com as ideias e práticas do Foro de São Paulo.
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