Chapada dos Guimarães, parte do bioma do cerrado| Foto: BigStock
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“O chão de 1930 não tinha notícia de petróleo. Não tínhamos a Vale do Rio Doce, que prospectou uma das maiores províncias minerais do mundo. Nós não tínhamos a Embrapa, que ensinou a produzir soja num negócio que parecia deserto, que era o cerrado”. O político Ciro Gomes deu essa declaração durante o programa “Mais que 8 Minutos”, conduzido pelo humorista Rafinha Bastos.

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A frase repercutiu negativamente. O entrevistado alegava que a tecnologia e o investimento são importantes para o desenvolvimento de lugares que, à primeira vista, não parecem ter potencial econômico, e citou o cerrado como exemplo de um local que “parecia deserto”. O fato de não ter árvores de grande porte, em quantidade, parece reforçar essa impressão.

“O cerrado é a savana tropical brasileira e detém a maior biodiversidade entre todas as vegetações savânicas do mundo. Portanto, está longe de ser um ambiente estéril”, explica Kleber Del Claro, professor do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O cerrado é a savana tropical mais rica do mundo. Abriga cerca de 5% de toda a biodiversidade do planeta e 30% dos diversos seres vivos identificados no Brasil.

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Por outro lado, aponta o professor, o solo é pobre em nutrientes, especialmente nitrogênio, fosfato e potássio. “No entanto, água não é um problema no cerrado. Em sua maior extensão o lençol freático é superficial. E as chuvas, embora concentradas de setembro a abril, são suficientes”.

O cerrado abriga 43% de toda a água de superfície do Brasil fora da Amazônia. Têm origem no bioma 78% das águas da bacia do Araguaia/Tocantins, 70% das águas da bacia do Rio São Francisco e 48% das águas da bacia do Rio Paraná.

Ameaças

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), é o segundo maior bioma do Brasil, que cobre dois milhões de quilômetros quadrados. Alcança estados de Goiás, Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal, além de pequenas porções do Paraná e de Rondônia.

Segundo a organização não-governamental Conservation International (CI), o cerrado e a Mata Atlântica são os dois biomas mais ameaçados do Brasil. “O cerrado ocupou originalmente 25% do território nacional e hoje restam menos de 8%, em sua maioria fragmentados”, diz Del Claro.

De acordo com um levantamento do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS) publicado em 2017, em 30 anos, a região poderá sofrer a extinção de 1.140 espécies de plantas — hoje abriga 12.385 espécies de plantas, sendo 4.400 espécies exclusivas. Entre os animais, são 158 espécies de serpentes, 74 de lagartos, 209 de anfíbios, 800 de peixes, 856 de aves e 251 de mamíferos.

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O estudo da IIS aponta caminhos para garantir a agropecuária sustentável na região, sem prejudicar o bioma. “O desenvolvimento de políticas, já executadas, pode permitir alcançar as projeções de crescimento da produção agrícola e pecuária sem converter mais da vegetação original”.