Vinte e um anos atrás, a morte de Diana, superestrela britânica cintilante, delicada e problemática, abalou a monarquia daquele país e revelou um abismo perigoso entre o palácio e o povo. Depois do acidente de carro fatal, em 31 de agosto de 1997, em Paris, a família real se viu arriscada a perder parte de sua realeza e a confiança do público devido ao tratamento mesquinho dado à "princesa do povo". Hoje, mais de duas décadas depois, a monarquia talvez seja a instituição mais popular da vida pública britânica – recuperação incrível que, acima de qualquer coisa, foi o legado mais duradouro da própria Diana.
A princípio, a família real deu a impressão de não ser capaz de lidar com ela na morte, da mesma forma que não soube em vida. Enquanto milhões de pessoas choravam, enlutadas, e milhares se reuniam para acender velas ou depositar flores em sua homenagem, em Kensington Gardens, perto de onde morava, o palácio, preocupado com protocolo, precedência e dever, mantinha-se em um silêncio gélido.
A realeza se exasperara com a recusa de Diana em se submeter ao cárcere de um casamento de aversão mútua; torcera para que o divórcio do príncipe Charles, um ano antes, finalmente a tivesse livrado da tal princesa problemática. Só parecia não entender que, a cada hora de silêncio que se passava, reforçava a história convincente que Diana contara – a de que se resumia a um bando de gente fria e inflexível.
Durante alguns poucos dias após sua morte, iludidos, os nobres se agarraram obstinadamente aos seus princípios e a sua privacidade por trás das muralhas de seu castelo escocês, enquanto a revolta popular crescia. Os tabloides britânicos, ansiosos para desviar a atenção do papel da imprensa na perseguição fatal a Diana e seu namorado, Dodi Fayed, passou a atacá-los com uma ferocidade cada vez maior: "Mostrem que vocês se importam", "Cadê a nossa rainha?" e "Seu povo está sofrendo; fale conosco, senhora", foram algumas das manchetes.
Foi preciso que o então primeiro-ministro, Tony Blair, percebendo o clima pesado que se criara, convencesse a família real a enfrentar a situação. Só depois de cinco dias seus membros voltaram para a capital, hastearam a bandeira a meio mastro, deram declarações, foram ao encontro do público choroso e até tanto quanto foi possível, emocionaram-se.
Quando a rainha Elizabeth finalmente falou à nação, ao vivo, na véspera do funeral, seu esgotamento era óbvio, mas tentou ser um pouco menos formal do que de costume. Deixou de lado o "nós" real, falou do luto, da raiva e do choque, admitindo que tinha muito a descobrir sobre a vida de Diana e a reação extraordinária à sua morte.
Modernização
Naquela noite, eu estava em Kensington Gardens, gravando entrevistas para um programa da BBC, e percebi como as palavras da monarca desanuviaram a atmosfera tensa e febril. Entretanto, ninguém esperava que a transmissão representasse uma mudança significativa no comportamento do clã. O palácio, no fim das contas, levara a melhor. Sobrevivera, enquanto a princesa, rebelde, compassiva e solitária, havia morrido. Seus filhos órfãos seriam levados de roldão pelo turbilhão do protocolo e do privilégio, criados pelo pai com a mesma empáfia que ele conhecera desde a infância.
Hoje fica claro que a vitória foi de Diana – e o sinal mais óbvio disso é que Charles não foi eximido da culpa, atribuída pelo povo, pela vida triste que ela levou.
A tragédia de Diana também forçou o palácio a modernizar suas atitudes e revisar códigos arcaicos, libertando assim os príncipes atuais. Charles escolheu uma mocinha aristocrática para casar porque o dever exigia e o príncipe havia sido treinado para se submeter a ele. Diana foi designada para o papel com o mesmo tipo de cuidado exigido na compra de um cavalo de corrida, analisada pura e simplesmente pelas qualidades externas – aparência, genealogia, virgindade, juventude –, sem um único minuto de consideração à mulher frágil que havia sob elas.
Compatibilidade, compreensão e amor
Na transmissão de fitas particulares inéditas, Diana conta ao fonoaudiólogo, com um pesar cheio de ironia, que se encontrara com Charles apenas treze vezes antes de se casarem. É uma declaração estarrecedora – e não é à toa que, depois de apenas algumas semanas, os dois se sentiram desnorteados e traídos. O casamento foi um tormento também para Charles.
Depois de Diana, a família real passou a aceitar que o matrimônio moderno também deve ser baseado em compatibilidade, compreensão e amor. Charles tem sua Camilla; é evidente que estão felizes. A geração seguinte os libertou.
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William levou tempo – oito anos, para ser mais exata –, depois de viver junto e se separar de Catherine Middleton (geralmente chamada de Kate) para concluir que a pessoa com quem queria compartilhar a vida era ela, não uma aristocrata, mas uma plebeia cuja mãe nascera em um conjunto habitacional. Catherine aceitou se casar sem ilusões em relação aos deveres rígidos e à vida "de aquário" de celebridade que sua posição exigiria.
Elegância, empatia e humanidade
Porém, a influência mais admirável de Diana só ficou clara há pouco tempo. Durante muitos anos, seus filhos se envolveram em atividades tradicionalmente principescas: instituições de caridade, festas, jogos de pólo, o serviço nas Forças Armadas. Pareciam jovens simpáticos e educados, mas era fácil concluir que, como parte da realeza, ricos, mimados e paparicados, eles se tornariam arrogantes e chatos.
Em vez disso, os dois se firmaram no imaginário público como herdeiros absolutos da elegância, empatia e humanidade da mãe. Assumiram uma causa negligenciada, a saúde mental, e junto com Catherine deram início a uma campanha para encorajar os britânicos a compartilhar suas preocupações e medos.
E o fizeram falando com vários jornalistas, mostrando uma vulnerabilidade e eloquência desarmadoras, viscerais, referindo-se à perda da mãe, às tentativas estoicas, se não prejudiciais, de ignorar a própria tristeza, e à percepção de que, em todo lugar, as pessoas lutam contra ela, sejam os soldados machucados com quem Harry serviu no Afeganistão, os feridos que William transportou de helicóptero quando fazia parte do serviço médico de emergência ou as jovens mães com quem Catherine sempre conversa. Calorosos, tratam todos com quem se encontram com um respeito evidente.
Fragilidade
Ao agirem assim, romperam conscientemente com a sabedoria palaciana convencional que reza, como escreveu o ensaísta político vitoriano Walter Bagehot, em 1867, que "não podemos permitir que a luz do dia inunde a magia". O medo sempre foi o de que a mística da monarquia se perdesse e desaparecesse se as fragilidades humanas fossem reveladas. Os príncipes, tendo aprendido com o exemplo comovente das dificuldades enfrentadas pela mãe, em particular, abriram as cortinas.
E o efeito tem se mostrado animador, principalmente entre os jovens. Gente que nunca ligou muito para a monarquia, de repente se vê profundamente impressionada pela consideração, o bom humor, a sinceridade e a preocupação com os outros demonstradas pelos rapazes. Os filhos de Diana são uma combinação da imensa sensibilidade da mãe e o senso de dever do pai.
O impacto dos dois é ainda maior porque William e Harry brilham, enquanto a política do país tropeça em um desastre após o outro. Vinte e um anos atrás, foi um primeiro-ministro carismático que, sem muito esforço, percebeu o sentimento do público enquanto a família real parecia incompetente e totalmente sem noção; hoje, são os políticos e a primeira-ministra que se mostram assustadoramente confusos e desajeitados em relação ao estado da nação, e os príncipes herdeiros, com sua honestidade e ética de trabalho – a simplicidade de Harry e a seriedade de William –, são as figuras públicas que oferecem alguma esperança para o futuro.
Quando a rainha morrer, Charles ficará com o trono. Homem muito incompreendido, mas bem-intencionado, não herdará o mesmo carinho imenso que o público tem por sua mãe, mas isso hoje já não representa nenhuma ameaça à sobrevivência da monarquia, porque a popularidade de seus filhos o levará adiante. A última dádiva de Diana à mesma família que a ergueu e ajudou a derrubá-la foi sua readaptação aos tempos modernos.
*Jenni Russell, jornalista e radialista.