São tempos difíceis para a Geração Z. Os problemas de saúde mental, sobretudo transtornos de humor como depressão e ansiedade, estão em alta. A Geração Z tem a menor probabilidade de dizer que tem saúde mental boa ou excelente e a maior probabilidade de dizer que tem saúde mental ruim ou regular. As taxas de suicídio entre os adolescentes e jovens adultos norte-americanos são as maiores da história.
Como um jovem de 23 anos pertencente à Geração Z e que lidou pessoalmente com esses problemas, além de ter visto o impacto deles em amigos e entes queridos, isso parte meu coração.
A caminho de recuperar a saúde mental e tentando ajudar os outros, minha jornada tem me levado a buscar explicações para a piora da situação, e encontrei hipóteses interessantes na obra do psicólogo Jonathan Haidt e do jurista Greg Lukianoff.
Como autores do livro The Coddling of the American Mind: How Good Intentions and Bad Ideas Are Setting Up a Generation for Failure [A superproteção da mente norte-americana: como boas intenções e ideias ruins estão criando uma geração fracassada], Haidt e Lukianoff examinam o problema da saúde mental da Geração Z. Eles argumentam que os jovens estão imersos num mundo caracterizado por uma preocupação paranoica quanto á segurança, o que distorce seus pensamentos e prejudica seu bem-estar mental.
"Muitos universitários estão aprendendo a pensar de uma forma distorcida, e isso aumenta a probabilidade de eles se tornarem pessoas frágeis, ansiosas e que se magoam facilmente”, dizem.
Haidt e Lukianoff dizem que “três Grandes Falácias” impactam negativamente o bem-estar mental dos jovens. Eles também propõem formas de enfrentar essas falácias que, por sua vez, darão origem a uma vida mais feliz e bem-ajustada. As Grandes Falácias são:
- A Falácia da Fragilidade: o que não mata o enfraquece
- A Falácia da Inteligência Emocional: sempre ouça seus sentimentos
- A Falácia do Nós Contra Eles: a vida é uma batalha entre as pessoas boas e más
E, a fim de ser enquadrada como Grande Falácia, ela tem de cumprir três critérios:
- Ela contradiz uma sabedoria antiga (ideias encontradas profusamente na literatura de várias culturas)
- Ela contradiz pesquisas contemporâneas sobre o bem-estar
- Ela prejudica indivíduos e comunidades que a adotam
A Falácia da Fragilidade: o que não mata o enfraquece
Foi o filósofo Friedrich Nietzsche quem disse que “aquilo que não nos mata nos fortalece”. As palavras de Nietzsche são a antítese do sentimento atual.
Para dar um exemplo biológico daquilo que, por não nos matar, nos fortalece, Haidt e Lukianoff falam das taxas crescentes de alergia a amendoim. Até meados dos anos 1990, a alergia a amendoim era bem rara (apenas um em cada 1000 crianças com menos de oito anos). Em 2008, contudo, essa taxa já tinha triplicado. Por quê? Dizem Haidt e Lukianoff:
os números da alergia a amendoim aumentaram justamente porque pais e professores começaram a proteger as crianças da exposição ao amendoim, nos anos 1990.
Em 2015, foi realizado um estudo com 640 crianças com tendência a desenvolverem alergias. Metade do grupo foi exposto ao amendoim até os cinco anos e a outra metade foi protegida. Somente 3% do grupo exposto desenvolveu alergia, enquanto 17% das crianças no grupo protegido desenvolveu alergia.
Assim, na tentativa de protegermos as crianças de um problema, acabamos por causá-lo. Isso não serve apenas para os sistemas biológicos, mas também em sistemas econômicos e políticos e na nossa vida. Nassim Nicholas Taleb, autor do livro Antifrágil, escreve:
Um mês na cama (...) provoca atrofia muscular, sistemas complexos são enfraquecidos e até acabam mortos quando privados de função. Boa parte do nosso mundo contemporâneo estruturado nos prejudica com políticas impostas e artimanhas (...) que fazem justamente isso: e insultam a antifragilidade dos sistemas. Essa é a tragédia da modernidade: assim como pais neuroticamente superprotetores, aqueles que tentam ajudar são geralmente os que mais nos prejudicam.
Haidt e Lukianoff associam esse desejo de evitar ameaça à ascensão do “segurancismo”, que se caracteriza por espaços seguros, alertas, microagressões, equipes de reação a tendências, “matrizes de opressão” e pela cultura do cancelamento. Dentro dessa cultura, muitos são levados a acreditar que são frágeis e precisam de proteção constante do mundo externo. Isso leva muitos jovens a desenvolverem tendências neuróticas de cautela exagerada, evitando situações desafiadoras para evitar danos.
Assim como evitar o consumo de amendoim na infância pode nos prejudicar no longo prazo, evitar opiniões e diálogos “controversos” pode nos prejudicar ao nos tornar sensíveis demais a tudo. É fácil perceber como um clima desses leva à ansiedade. Jovens são ensinados a ver prejuízo e dano onde eles não existem.
Para enfrentar essa tendência, Haidt e Lukianoff nos encorajam a “procurarmos desafios (e não eliminarmos ou evitarmos tudo o que ‘parece perigoso’)”.
A Falácia da Inteligência Emocional: sempre ouça seus sentimentos
A segunda Grande Falácia é o triunfo da inteligência emocional, na qual sentimentos subjetivos têm mais valor do que a verdade objetiva. Embora o fato de a juventude de hoje ter um contato maior com suas emoções ser até bom, os autores dizem que está havendo um exagero. Afinal, tiramos a ênfase no poder da objetividade e racionalidade e exaltamos a mentira de sempre confiarmos em nossos sentimentos.
Haidt e Lukianoff explicam dessa forma:
Os sábios de várias sociedades concordam que os sentimentos são sempre atraentes, embora nem sempre confiáveis. Eles costumam distorcer a realidade, prejudicam nossa percepção de mundo e são desnecessariamente nocivos para nossas relações. Felicidade, maturidade e até mesmo o esclarecimento exigem que se rejeite a Falácia da Inteligência Emocional e que, em vez disso, aprendamos a questionar nossos sentimentos. Os sentimentos em si são reais e às vezes eles nos alertam para verdades que nosso consciente ignora, mas às vezes eles nos deixam na mão.
Até onde sei, os sentimentos são importantes e até fundamentais. Quando meu estômago ronca, por exemplo, é uma dica de que estou com fome. Assim, decido comer e me nutrir. Se não der ouvidos ao meu sentimento de fome, vou perder energia. Assim, prestar atenção a um sentimento ruim me faz bem.
Mas às vezes os sentimentos são aleatórios e não refletem a realidade. Quando estou tendo um ataque de ansiedade, meus sentimentos me dizem: “algo está errado! Preste atenção agora mesmo! Tome cuidado para não ter um ataque cardíaco!” Na verdade, não vou morrer; é apenas meu mecanismo de emergência ativado na hora errada. Se eu desse ouvidos à minha ansiedade o tempo todo, acreditaria que estou sempre em perigo. O que não é o caso.
Infelizmente, está se tornando senso-comum entre os jovens acharem que estão em perigo constante. Lukianoff notou isso depois de começar a fazer terapia cognitivo-comportamental e percebeu que os padrões que ele foi ensinado a evitar estavam afetando a sociedade como um todo. Ele aprendendo que pensamentos irracionais persistentes podem causar crenças e emoções negativas. Mas por meio dessa terapia pode-se aprender a pensar de forma mais produtiva a fim de superar sentimentos negativos.
Entre os padrões de pensamento negativo estão os seguintes:
- Emotividade: permitir que seus sentimentos orientem sua percepção da realidade. “Estou ansioso, portanto esse ambiente é perigoso”.
- Catastrofista: ater-se à pior consequência possível e vê-la como a mais provável. “Se eu for mal nessa prova, jamais conseguirei um emprego”.
- Generalização: perceber um padrão global negativo com base num único incidente. “Sempre fracasso em tudo o que tento”.
- Raciocínio dicotômico: ver acontecimentos e pessoas em termos de tudo ou nada. “Ninguém nunca quer sair comigo”.
- Pressuposição: Supor que você sabe o que as pessoas estão pensando sem ter prova disso. “Meu chefe acha que sou incompetente”.
Então imagine uma pessoa que tenha esse padrão de pensamento distorcido. Dá para ver facilmente como isso o faria ser mais ansioso e deprimido. Talvez você tenha notado algumas distorções suas. Eu notei.
Para enfrentar essa tendência à visão emocional das coisas, Haidt e Lukianoff nos encorajam a “nos libertarmos das distorções cognitivas (e não confiarmos sempre em nossos sentimentos iniciais)”.
A Falácia do Nós Contra Eles: a vida é uma batalha entre as pessoas boas e más
Assim como talvez estejamos vivendo o oposto do aforismo de Nietzsche, talvez estejamos vivendo o oposto de uma ideia de Aleksandr Solzhenitsyn:
a fronteira entre o bem e o mal não passa por estados, classes ou partidos políticos — e sim pelo coração humano — e por todos os corações humanos.
Essa última Grande Falácia tem relação com um dos aspectos da distorção cognitiva — pensamento dicotômico — que a terapia cognitivo-comportamental tenta corrigir. Será que a Geração Z tem uma saúde mental pior porque eles veem as pessoas (e os acontecimentos) com extremismo? Para responder a essa pergunta, Haidt e Lukianoff analisaram a ascensão da política identitária e o ressurgimento do tribalismo.
Em vez de pensar em termos da política identitária com base no “humanismo comum”, que humaniza pessoas de diferentes grupos, Haidt e Lukianoff dizem que tem havido um aumento na política identitária baseada no “inimigo comum”, que identifica um inimigo comum a fim de aumentar e reforçar determinada tribo. (Pense em Hitler demonizando os judeus para ampliar o Terceiro Reich).
Para demonstrar como a política identitária baseada num inimigo comum opera hoje, Haidt e Lukianoff mostram um texto escrito por um aluno latino da Universidade Estadual do Texas que foi para o jornal da escola. Nele, o autor diz:
Em termos ontológicos, a morte dos brancos significará a libertação de todos (...). Até lá, lembre-se disso: eu os odeio porque vocês não deveriam existir. Vocês são o aparato dominante do planeta e o vácuo no qual as demais culturas, ao entrarem em contato com vocês, morrem.
Haidt e Lukianoff esclarecem que o aluno estava promovendo o genocídio cultural, o que significa a dissolução da cultura da “branquitude”, e não um genocídio de verdade; mas as palavras do aluno ainda demonstram a falsa dicotomia entre pessoas boas e más. Suas palavras deixam claro que ele não consegue ver indivíduos, e não tribos, e, ao agrupá-los num contexto que ele vê como “mau”, ele insinua que esses indivíduos também são “maus”.
Quando ao que explica o ressurgimento desse tipo de pensamento, Haidt e Lukianoff dizem que é uma forma de “abordagem marxista da análise social e política”.
A análise diz que:
quando se percebe que um grupo detém o poder sobre outros, tem início uma polaridade moral: os grupos poderosos são vistos como maus, enquanto os grupos oprimidos são vistos como bons.
Imagine ser levado a constantemente ver as pessoas em termos de identidade de grupo e rotulá-las automaticamente como “boas” ou “más” com base em como você vê o poder delas. Você teria de sair pelo mundo identificando o tempo todo as pessoas como ameaças em potencial. Uma visão de mundo como essa é tóxica e pode ser uma das fontes dos problemas de saúde mental da Geração Z.
Para enfrentar essa tendência a ver o mundo como uma batalha entre pessoas boas e más, Haidt e Lukianoff nos falam para “termos uma visão generosa das outras pessoas e procurar nuances (e não supor o pior das pessoas, sempre dentro de uma moralidade simplista do tipo nós-contra-eles)."
Perceba seus pensamentos e se liberte
Depois de ler The Coddling of the American Mind, notei vários padrões de distorção cognitiva e me esforcei para mudar minha visão de mundo. Ainda estou longe da perfeição, mas o uso das sugestões de Haidt e Lukianoff teve um impacto positivo sobre meu bem-estar.
Eu o desafio a perceber seus pensamentos e identificar áreas nas quais ele pode ser melhorado. A mudança começa de baixo para cima e se, assim como eu, você quer que os jovens sofram menos e tenham uma saúde mental melhor, cuidar do seu bem-estar é dar início a essa transformação.
Como disse num artigo sobre o poder do aperfeiçoamento individual:
Assim que você começar a se aperfeiçoar, as pessoas ao seu redor perceberão. Com sorte, sua mudança inspirará as pessoas nas imediações a amadurecerem com você. Mas, se alguém quiser derrubá-lo por inveja, não deixe que isso o atrapalhe. Tudo o que pode fazer é ser um exemplo reluzente para aqueles que desejam acompanhá-lo.
Tyler Brandt é editor da FEE.
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