Ana Hickmann, Anitta, Leonardo Di Caprio, Madonna... Você sabe o que essas celebridades e tantas outras têm em comum? Um stalker: todos eles enfrentaram problemas sérios com fãs que, obcecados, agrediram, ameaçaram ou invadiram suas casas.
Muitos artistas tiveram de buscar proteção na Justiça e conseguiram ordens de restrição; em outros casos, o fã-perseguidor acabou cumprindo pena pelos excessos. Isso sem falar dos desfechos trágicos, como o caso de John Lennon ou do guitarrista Dimebag Darrell, ambos mortos por fãs; ou do ataque sofrido pela apresentadora brasileira Ana Hickmann, quando o fã Rodrigo Augusto de Pádua invadiu o hotel em que ela estava e disparou contra sua família.
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A pergunta que não quer calar é: o que impulsiona nosso fascínio pelas celebridades e, mais importante, por que isso pode ser tão sedutor a ponto de se tornar patológico? Estudos sugerem que a resposta depende de quem adora e por quais razões adora.
Siga o líder
Stuart Fischoff foi um famoso professor de psicologia midiática da Universidade da Califórnia que dedicou boa parte de sua vida a estudar o culto a celebridades. Fischoff defendia que a necessidade de encontrar um ídolo e segui-lo é parte da nossa constituição genética.
“Em nosso DNA, como um animal social, está o interesse em olhar para aqueles que são importantes em nosso grupo. Até mesmo políticos são mais propensos a prestar atenção em um problema quando uma celebridade está se manifestando sobre esse problema”, disse em entrevista à FoxNews. É como se estivéssemos sociologicamente programados para “seguir o líder”.
Além disso, segundo Fischoff, as próprias celebridades (e a mídia) cultivam essas relações “parasociais”, em que atores, cantores e escritores compartilham informações sobre suas vidas pessoais e interagem com fãs frequentemente – prática amplificada pela internet e pelas redes sociais. Em última instância, as celebridades são como uma espécie de “ponte” para o estrelato do próprio fã – vale lembrar que Mark Chapman, o assassino de John Lennon, chegou a dizer que atirou contra o ex-Beatle porque queria “ser alguém”.
Fã feliz e saudável
Embora o culto da celebridade possa ser realmente insalubre para algumas pessoas, para a maioria de nós é algo saudável, um hobby, uma distração agradável que, em alguns casos, pode até nos fazer melhorar.
De acordo com o psicólogo Eric Hollander, as celebridades podem ter uma influência positiva ao nos sensibilizar e diminuir o estigma sobre temas sobre os quais não iríamos refletir se uma pessoa famosa não nos “convidasse” a fazer o mesmo – é o caso da atenção que o ator Leonardo Di Caprio atrai para questões ambientais ou a reflexão provocada pela cantora Beyoncé sobre racismo.
Qual é o problema, então?
Da curiosidade à obsessão, a relação que um fã estabelece com a “celebridade de seu afeto” é processual. Em um estudo publicado no Journal of Nervous and Mental Disease (intitulada A clinical interpretation of attitudes and behaviors associated with celebrity worship ), pesquisadores chegam a uma espécie de escala do culto da celebridade – o processo pelo qual um fã casual e saudável se torna viciado.
Primeiro, a busca por informações sobre o artista é uma espécie de válvula de escape, uma distração, uma forma de interagir com outras pessoas que compartilham do mesmo interesse. O ponto de virada rumo à obsessão é quando esse interesse se torna constante e passa a interferir de alguma forma na vida prática do fã.
A patologia se manifesta quando o fã passa a acreditar ter uma relação íntima com a celebridade e a fascinação se torna uma forma de substituição da vida real – trata-se da “erotomania”, condição em que o indivíduo tem convicção de que a pessoa pela qual é obcecada corresponde secretamente aos seus sentimentos.
“A veneração por um famoso parece preencher algo na vida da pessoa. Dá um senso de identidade, de existência. Alimenta uma necessidade psicológica”, explicou o psicólogo James Houran ao site de notícias americano Live Science.
A pesquisa conduzida por Houran também descobriu que fãs febris são mais propensos a sofrer de ansiedade, depressão e disfunção social.
Nesse sentido, Fischoff defendia que a adoração patológica era o problema central, e não tanto o objeto da adoração. “Muitas pessoas que passam a adorar profundamente uma celebridade estão apenas manifestando uma patologia que estava esperando para acontecer. O fato de isso se manifestar na forma de idolatria a uma celebridade é menos importante do que reconhecer que a patologia existe. Se não fosse direcionada a uma celebridade, seria direcionada a qualquer outro objeto.”
Stalker
Stalking é o ato de vigiar exacerbadamente outra pessoa, que geralmente não deseja essa atenção e não aprova as interações com o outro. Stalker é a pessoa que “persegue”. A expressão ganhou popularidade principalmente a partir da década de 1990, quando casos de fãs obcecados por celebridades se tornaram mais comuns.
Há várias formas de stalkear alguém: desde observar insistentemente ou monitorar a rotina da pessoa (inclusive as redes sociais) até enviar objetos, invadir a residência, ameaçar ou agredir a vítima.
Outros casos
Fã queria “ser alguém”
O caso é emblemático porque a obsessão do fã resultou na morte do Beatle John Lennon, em 1980. Lennon saía do prédio onde morava, em Nova York, quando parou para dar alguns autógrafos. Logo depois, Mark Chapman disparou cinco vezes contra o músico, que morreu na hora.
Em 2010, Chapman disse em depoimento à Comissão de Liberdade Condicional que achava que ao matar Lennon conquistaria fama. “No entanto, acabei virando um assassino e assassinos não são alguém.” As declarações foram divulgadas pela BBC. Chapman cumpre prisão perpétua.
Inconformado
O guitarrista americano Dimebag Darrell foi assassinado por um fã durante um show de sua banda. Nathan Gale disparou contra Darrell e depois atirou em outros músicos e pessoas presentes no local. Ao todo, 15 pessoas foram atingidas. Gale foi morto por um policial.
As motivações do atentado contra Darrell nunca foram absolutamente esclarecidas, mas na época amigos do rapaz confirmaram que Gale era um grande fã da banda Pantera (fundada pelo guitarrista) e que não havia se conformado com o fim do grupo. Havia suspeitas de que ele sofria de esquizofrenia.
Fã queria “governar o mundo” com cantor
A stalker Karen McNeil conseguiu invadir a casa do cantor Justin Timberlake diversas vezes, alegando ser uma amiga íntima. Timberlake conseguiu uma ordem de restrição contra McNeil, mas a mulher desobedeceu a medida e passou a perseguir o cantor dizendo que ela estava destinada a “governar o mundo” e que ele deveria casar com ela para governar junto. Em audiência, a fã insistiu que todas as acusações contra ela eram mentirosas.
O alvo era o marido
O alvo da obsessão de Dawnette Knight era o ator Michael Douglas, mas as ameaças recaíram sobre a então esposa de Douglas, Catherine Zeta-Jones. A atriz recebeu dezenas de cartas, nas quais a fã ameaçava esquartejar Catherine caso ela não se separasse de Douglas. Dawnette afirmava ter um caso com o ator e ter sido subornada para não revelar nada. A mulher foi condenada a três anos.
Bomba de farinha
O cantor Adam Levine, vocalista da banda Maroon 5, foi alvo de uma inusitada bomba de farinha durante um evento em 2015. Ainda que pareça ‘fichinha’ perto dos problemas enfrentados por outros artistas com fãs obcecados, a bomba de farinha que atingiu Levine resultou em condenação de três anos de liberdade condicional ao agressor.
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