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Documentário sobre caubóis negros desfaz mitos da esquerda americana

Cena do documentário "Fire in the Hill"
Cena do documentário "Fire in the Hill", disponível na Amazon: assumindo as rédeas do destino (Foto: Divulgação)

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Se um cineasta produzisse uma obra de ficção sobre um grupo de jovens negros que resolvem ser caubóis profissionais no meio de uma zona urbana dominada por traficantes de drogas e gangues violentas, provavelmente seria criticado pela falta de verossimilhança do roteiro. Mas esta é precisamente a história (verídica) de “Fire on The Hill”, documentário lançado em 2018 e atualmente disponível na Amazon Prime Video.

O filme desmonta estereótipos do início ao fim, e faz justiça a uma tradição limitada, mas antiga: a dos caubóis de Compton, cidade de maioria negra localizada na periferia de Los Angeles e que ficou conhecida nacionalmente por ter sido “a capital mundial dos assassinatos”. No mais improvável dos cenários, em meio à pobreza, surgem vaqueiros que percorrem as ruas com seus cavalos e viajam o país para participar de rodeios em um  mundo que, tradicionalmente, pertence a pessoas brancas e que moram no interior.

O documentário, dirigido pelo jovem Brett Fallentine, poderia seguir o caminho mais fácil e adotar o prisma do “racismo sistêmico” e da falta de apoio do poder público à inciativa dos vaqueiros urbanos. Mas, em vez disso, “Fire on The Hill” mostra o esforço de um grupo de homens que, de forma altiva, tenta tomar as rédeas do próprio destino, sustentar suas famílias e enfrentar os problemas de uma cultura que fomenta a violência. “Não é uma questão de branco ou negro, mas de errado ou certo”, diz um dos entrevistados logo no início do documentário.

O “The Hill” do título  é um estábulo que abrigava os caubóis de Compton e que acabou destruído por um incêndio. O documentário acompanha, simultaneamente, os esforços pela reconstrução do local e as tentativas dos vaqueiros de progredirem no competitivo mundo dos rodeios. O espectador consegue sentir a frustração dos caubóis de Compton que, em condições desfavoráveis, viajam por horas para participar de rodeios nos quais serão eliminados em quatro ou cinco segundos – menos do que os oito necessários para se classificarem para o nível seguinte das competições.

A moral da história: nem mesmo as circunstâncias mais adversas são capazes de deter a força de vontade acompanhada da dedicação – embora a tarefa não seja fácil quando essas circunstâncias adversas envolvem a existência de grupos armados na vizinhança.

O principal estereótipo destruído pelo filme é o de que, nos Estados Unidos, o racismo permeia todas as relações sociais, e que não existe conciliação possível entre diferentes grupos tão antagônicos quanto os vaqueiros conservadores (e brancos) do interior e os negros dos subúrbios de uma cidade como Los Angeles. Por vezes, o documentário mostra que a incompreensão quanto à escolha dos vaqueiros de Compton é maior dentro da própria comunidade da qual eles fazem parte. Em uma era na qual o debate sobre as relações raciais está interditado por invenções como “apropriação cultural” e “lugar de fala”, a existência de um documentário como “Fire on The Hill” é um pequeno milagre que não deve ser ignorado.

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