“Os homens jovens não estão fazendo sexo!”
Uma sequência de tuítes que chamou bastante atenção dos internautas trouxe à tona um estudo do Washington Post feito em 2019. Ele revelou que os homens jovens não estão mais fazendo tanto sexo quanto antes.
Alexandra Hunt, uma ex-stripper que em 2022 perdeu as eleições primárias para deputada do Partido Democrata na Filadélfia, escreveu: “Quase um terço dos homens com menos de 30 anos não fez sexo. E uma porcentagem mais alta não fez tanto sexo quando gostaria — o que não é de surpreender, mas esse tipo de estatística é um sinal de problemas muito mais profundos”.
Hunt aponta o declínio da saúde mental dos homens e sua pouca motivação para o trabalho como sintomas negativos da abstinência sexual.
“Nossa sociedade criminaliza o sexo e varre-o para debaixo do tapete”, sugere ela, concluindo que “descriminalizar o trabalho sexual, financiar a educação sexual e criar programas de extensão que ajudem os jovens a desenvolver hábitos sexuais saudáveis” são os próximos passos da sociedade para remover a vergonha e fomentar a sexualidade saudável.
Hunt e o Washington Post não são os únicos a observar o aumento da abstinência sexual. O fenômeno intrigou especialistas e botou vários deles para procurar respostas. Resulta que a Geração Z como um todo (nascida a partir de 1996) não fica desconfortável ao falar de sexo e é mais progressista no que concerne ao assunto; ainda assim, sua atividade é mais baixa do que a das gerações anteriores, valendo-lhes rótulos geracionais como “Puri-teen” [um trocadilho com puritano (puritan) e adolescente (teen)], como o portal Slate os chama.
Em meio a tentativas culturais de fomentar uma visão societal “saudável” e “livre de vergonha” do sexo, tal como a do candidato ao congresso em Nova Iorque que se filmou transando para para anunciar seu próprio apoio à “positividade quanto ao sexo” (sex positivity) e ao “trabalho sexual” legalizado, defensores da abstinência de alto escalão, como Drew Barrymore, são bem menos destacados.
Montanhas de artigos que tentam entender o fenômeno ficaram embasbacadas com a rejeição da Geração Z ao movimento feminista da “positividade do sexo”. Tentaram se opor ao “slut-shaming” [algo como "ato de envergonhar as vadias"] com marchas em apoio à legalização da prostituição, sendo a meta do movimento desestigmatizar do sexo como “livre para todos”. Mas parece que os jovens estão cansados da hipersexualização e escolhem caminhos alternativos. [As feministas brasileiras costumam usar a expressão slut shaming em inglês, mesmo. Embora a prostituição nunca tenha sido crime no Brasil, na década passada elas importaram a "Marcha das Vadias" (tradução de "Slut Walk"). Houve algumas edições pela década, mas saiu de moda. (N. t.)]
Dawn Hawkins, CEO do National Center on Sexual Exploitation, deixou a conversa mais pesada. Na luta da organização para acabar com a exploração sexual, ela disse ao Washington Stand que a solução de Hunt de “descriminalizar o trabalho sexual” é muito problemática. “Há uma miríade de razões para os homens com menos de 30 anos fazerem menos sexo, mas normalizar a prostituição não levaria a uma sociedade positiva quanto ao sexo”, explicou. “Em vez disso, os homens se sentiriam no direito ao sexo, e a exploração sexual cresceria. Os homens não deveriam ter direito ao sexo com ninguém, e, em particular, com pessoas prostituídas.”
Ela continua: “Aqueles que alardeiam que o ‘trabalho sexual’ (também conhecido como prostituição) deveria ser legalizado ou totalmente descriminalizado não podem apagar o fato de que a prostituição é inerentemente danosa. A prostituição não é um trabalho como qualquer outro. É impossível dar um fim aos seus males por meio de regulações. Não importa o modelo legislativo; ela inevitavelmente conduz ao trauma físico, emocional e psicológico.”
Enquanto as feministas da “positividade do sexo” defenderam o “trabalho sexual” legal como uma rejeição ao patriarcado, Hawkins diz que os dados provam o oposto. “Legalizar e descriminalizar a prostituição acende o sinal verde para os compradores de sexo — que são, em sua imensa maioria, homens. Ao remover qualquer restrição legal, a demanda por pessoas prostituídas irá subir, resultando num aumento do tráfico de pessoas para manter a demanda.”
Por que os homens jovens não estão fazendo sexo, então? Uma série de fatores afeta tanto os namoros quanto a vida sexual dos homens. Segundo especialistas, o problema é mais fundo do que uma precária definição de "positividade quanto ao sexo" é capaz abarcar, e poderia ter relações com a prevalência do consumo de pornografia.
Muitos dos estudos que mapeiam a vida sexual dos homens jovens deixaram de incluir suas vidas “sexuais” online, que não raro começam abaixo dos 10 anos, quando a maioria do sexo masculino tem sua primeira exposição ao material explícito. Como o uso da pornografia cresceu, a pesquisa mostra que há menos interessados em relacionamentos reais, que incluem a busca, o risco de rejeição, e não produzem os “estímulos acima do normal” ao qual estão acostumados graças à pornografia.
A gratificação instantânea que os usuários de pornografia têm já satisfaz o seu desejo, e ainda tem a conveniência de parecer livre de riscos.
Ainda assim, os estudos mostram que os riscos são muitos. Um estudo de 2022 descobriu que “o uso de pornografia está associado à erosão da qualidade da vida sexual dos homens jovens”, segundo Marcel Van der Watt, diretor do National Center on Sexual Exploitation Research Institute. Em comentário ao Washington Stand, ele destrinchou a extensa pesquisa sobre o estrago que a pornografia faz nos hábitos sexuais masculinos.
“Um estudo de 2015 sobre as atividades sexuais masculinas online descobriu que a pornografia estava ligada a um desejo sexual mais elevado, mas também a satisfação sexual e função erétil mais baixas”, explicou. “Num estudo separado com 405 homens e mulheres sexualmente ativos que viram pornografia, a frequência do consumo de pornografia estava diretamente relacionada à preferência pela excitação sexual com pornografia, em vez de com companhia. Essa preferência estava associada a uma comunicação sexual desvalorizada, e menos satisfação sexual, tanto para homens como para mulheres.”
Com a pornografa moldando o que muitos homens pensam sobre masculinidade e sexo, a pesquisa mostra que muitos jovens não alcançam a “positividade quanto ao sexo” e se veem metidos em vícios danosos que prejudicam as suas vidas sexuais, os explorados pela prostituição, os seus relacionamentos, os casamentos e a sua saúde como um todo.
A pesquisa também mostra que a causa primária de os homens fazerem menos sexo é eles atrasarem o casamento.
“Temos um mundo que procura o amor, e as pessoas estão achando o amor em todos os lugares errados”, disse ao Washington Stand Jennifer Bauwens, diretora do Center for Family Studies do Family Research Council. Ela aponta que a igreja deveria prestar atenção aos homens jovens que substituem relacionamentos reais por pornografia, porque as estatísticas de uso de pornografa são altas, mesmo entre cristãos.
“[A igreja precisa se envolver em] estratégias práticas [....] para alcançar as necessidades de uma geração que não sabe se conectar com o outro. Eles substituíram por redes sociais, pornografia e todas essas coisas diferentes que são tentativas falsas de se conectar com o mundo ao nosso redor, mas nunca vão ficar satisfeitos, porque não foi assim que Deus nos desenhou.”
©2022 Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.