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Judeus reunidos em um evento nos EUA, em 2019, com o objetivo de fortalecer os laços e manter viva a tradição
Judeus reunidos em um evento nos EUA, em 2019, com o objetivo de fortalecer os laços e manter viva a tradição| Foto: EFE/Marc Arcas

Justiça social começa com empatia. É preciso se colocar no lugar do outro para entender frustrações, dores e necessidades. Simples assim. O que temos presenciado no mundo há dois meses separa a civilização em dois grupos distintos: os que têm e os que não têm empatia. Quando mesmo diante da barbárie causada pelo terrorismo do Hamas em Israel alguém inicia um diálogo sobre o assunto com “Mas...”, já é possível enxergar a ausência da palavra empatia no vocabulário.

Não poderia deixar de me pronunciar a respeito do que está acontecendo no Oriente Médio neste momento. Não sou de fugir ao debate e é importante pontuar que não estamos assistindo a uma guerra entre dois Estados e sim entre um Estado legitimamente constituído e uma facção terrorista. Facção que tem em seu estatuto a destruição do Estado de Israel e que crê na chegada do dia do julgamento para os muçulmanos apenas depois de extirparem todos os judeus da face da terra - um a um. Tal facção crê e atua fortemente nesse sentido.

Ao eclodir a guerra na Ucrânia, por exemplo, fiquei com o coração consternado, me perguntando como governantes e comunidades não aprenderam nada após o que passamos com a pandemia da Covid-19. O Holocausto é um outro tema a me trazer recorrentes reflexões. É preciso explicar a todo momento o que foi e porque não deve ser citado em vão em disputas políticas. Pergunto-me para que tanto discurso populista e desumano. Nós, membros da comunidade judaica, não existimos hoje, em termos de população, em mesmo número que antes da Segunda Guerra Mundial, por motivos óbvios. Infelizmente, nós, sim, temos propriedade para expressar o real significado das palavras genocídio e Holocausto.

Mas contra a ignorância e a radicalização não existem argumentos. Uma tristeza sem fim. Muitos que não conseguem evoluir veem como um caminho mais fácil culpar os judeus. É mais cômodo para essas pessoas. Afinal, estamos alocados nessas mentes inflexíveis no espectro das minorias, como os negros e a comunidade LGBTQIA+, que possivelmente serão os próximos alvos, se todos que buscamos o entendimento entre as diferenças ficarmos calados, se não nos posicionarmos imediatamente.

Lembro-me de um pensamento que li no Museu do Holocausto, em Jerusalém: “Primeiro vieram buscar os comunistas. Não me manifestei, pois não sou comunista. Depois, vieram buscar os judeus. Não me manifestei, pois não sou judeu. Depois, ainda vieram buscar os sindicalistas. Não me manifestei, pois não sou sindicalista. Aí, vieram buscar os homossexuais. Eu não protestei, porque não sou homossexual. Depois, vieram buscar os imigrantes e eu não protestei, pois não sou imigrante. Por fim, vieram me buscar... e já não havia ninguém para protestar”.

A guerra acontece distante dos nossos olhos, mas é doloroso também enxergar algumas fagulhas tão próximas. As manifestações antissemitas no Brasil, conforme constatação da CONIB (Confederação Israelita do Brasil), aumentaram significativamente desde 7 de outubro. Certamente já existiam antes dessa data tão dolorosa, mas estavam adormecidas. Sempre achamos que no Brasil este problema não existia, que éramos um povo unido e com respeito às opções religiosas de cada um. Pensávamos estar sempre juntos e abertos ao diálogo inter-religioso.

Independentemente da religião praticada, quem tem Deus no coração está sofrendo com as mortes dos civis e indignado com o sequestro e a violência contra crianças, mulheres e famílias inteiras. No meio que convivo, mulheres judias e não judias, com origens variadas – libanesa, italiana, portuguesa –, estamos todas unidas pelos valores universais de justiça social e respeito às diferenças. Todas nós exercemos voluntariamente cargos de liderança em instituições do terceiro setor e nos orgulhamos disso. Nosso discurso não é da boca para fora, mas de atitude.

Em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social de São Paulo, nós da Unibes cuidamos de 16 mil pessoas da comunidade maior que vivem em situação de vulnerabilidade social. Temos como objetivo dar dignidade, alimentação e educação para que essas pessoas alcancem  a autonomia, quebrando, assim, o ciclo vicioso de pobreza. Temos muitas histórias de sucesso. Combatemos o antissemitismo todos os dias, por meio do nosso trabalho e do respeito ao próximo.

Por que não conseguimos dar importância ao que realmente importa? Por que os palestinos devem ser mantidos reféns do terror e do crime organizado, usados como escudos humanos? Por que Israel, para muitos, não tem direito de existir? Estas são perguntas que não podem ser caladas. Na verdade, essa e outras situações de violência humana me trazem muitos questionamentos além desses. Mas não vamos desistir. Vamos falar, educar e nunca, mas nunca, perder a esperança.

Denise Zaclis Antão é presidente da União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social (Unibes).

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